segunda-feira, 7 de março de 2011

paulo ferreira da cunha



"O intuito deste livro é assumidamente duplo: instruir no conhecimento do passado e no presente da Filosofia Política, quer para o puro deleite do espírito (conhecimento desinteressado), quer para solidificação da nossa cultura política. (conhecimento abertamente interessado). Com ingenuidade, talvez, ainda acreditamos que um político e um cidadão que tenham comvivido com as figuras e os temas que aqui discutimos precisarão de ser muito profundamente maus para não agirem com mais ponderação, e, logo, com mais justiça. E mesmo que moralmente de nad avalha o conhecimento filosófico-político, ainda ssim vale no enrqiquecimento cultural. Já não é pouco. A própria ilustração já seria um valor em si. idadãos e políticos cultos, ao menos cultos politicamente, não poderão, por exemplo, enveredar por políticas anticulturais, num egoísmo exclusor dos outros. Antes certamente fomentarão políticas culturais que permitam aos demais, aos jovens, desde logo, o acesso a esses bens preciosos. Estaremos enganados? Só os não cultos «puxam da pistola» quando ouvem falar de cultura." (10)







domingo, 6 de março de 2011

kazantzaki e zorba


um hino à vida, no seu melhor e no seu pior...




zorba, o grego

mitologias camilianas - sob a tutela de aquilino

escrevo aqui as primeiras linhas de um trabalho ainda inédito sobre a interpretação de aquilino relativamente a camilo, argumentando com harold bloom, bigotte chorão, josé régio, paul de mann, a. do prado coelho, paul ricoeur, entre tantos outros.


Partindo do princípio que o que preocupa Aquilino Ribeiro enquanto crítico e leitor omnisciente e consciencioso de Camilo é o desvelamento textual do mundo camiliano, entre a interioridade do texto como autor e narrador, e, por outro lado, a exterioridade na categoria do biográfico, situa-se aqui Aquilino enquanto leitor interpretativo. Assim nos evidencia para além da questão do meramente biográfico, definitivamente rompendo com a geração romântica de 1925 - porque não aqui evocar Bigotte Chorão, para o qual cuja geração de 1925 efectuou simplesmente "celebrações exteriores" em diferença das comemorações do centenário do falecimento de 1990, considerando que estas foram "um camilianismo mais exigente, digamos que mais interiorizado". E se hoje tomo cânone meus, salvo seja, Aquilino e Camilo, deve-se a tal ao desvelamento que Aquilino efectuou à obra camiliana, a alguns mundos camilianos que ele próprio interpretou, descodificando-os, assim o tomando como linha orientadora e tutelar da existência desses mesmos mundos, revelando-os numa linha sedutora de linguagem, proporcionando uma viagem iniciático-textual que Aquilino imprime ao seu "Romance de Camilo", assim como no contexto geral da obra, na linguagem de José Régio "escritor arcaizante". Aliás, Régio chama-nos a atenção neste relacionamento de Aquilino com Camilo quando nos diz que "cremos que ainda hoje está por estudar, no seu íntimo sentido, este pendor arcaizante (em nosso dias representados por um mestre como Aquilino.)" Ora, e o que é que Aquilino pretendeu com esta biografia romanceada de Camilo? Ele próprio nos diz nos seguintes termos: "Este livro, em despeito do título, não pode considerar-se romance. Sendo talahdo, até onde me chegou a arte, no cerne da vida, é história verdadeira. De resto, apenas quando se tornou mister que os factos luzissem consoante decorreram no guinhol humano, à luz própria, recorri à forma literária da romanceação. Quer dizer, em certas passagens, tive proceder em harmonia com as três dimensões, tempo, lugar, espaço, e em vez de melhorar a pena do tinteiro de chifre dos escrivães da puridade, com a oração no pretérito, servi-me do aparo de aço com os tempos no indicativo. Mas, à parte estas breves interporsições, o grosso da narrativa decorre desteatralizado, ma monocórdica escritura."



Artigos de Aquilino sobre Camilo.
  • "Um Autógrafo de Camilo". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 4 (Jan.-Mar. 1952), p. 162.
  • "Camilo Compreendido". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 6-7 (Jan.1953-Maio 1954), pp. 289-299.
  • "Camilo e Eça, frente a frente: conferência". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 1Jan.-Mar. 1951), p. 32
  • "Camilo e Tomás Ribeiro". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 5 (Abr.-Dez. 1952), p. 195.
  • "Camilo e Trás-os-Montes". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 5 (Abr.-Dez. 1952), p. 234.
  • "A Casa de Camilo". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 6-7 (Jan. 1953-Maio 1954), pp. 241-259.
  • "Eufrásia, a Hospedeira Integral". In Camiliana & Vária, Lisboa, n.º 2 (Abr.-Jun. 1951), p. 57.
  • "João de Deus Ramos". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 6-7 (Jan. 1953-Maio 1854), p. 327.
  • "A Macabra Ficção de Maria do Adro". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 3 (Jul.-Dez. 1951), p. 37.
  • "A Orfandade de Camilo". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 1 (Jan.-Mar. 1951), p. 5.
  • "Teixeira de Pascoaes". In Camiliana & Vária. Lisboa, n.º 6-7 (Jan. 1953-Maio 1954), p. 325.
NO LIVRO
Camilo, Eça e Alguns mais: ensaios de crítica histórico-literária", 4.ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, [1949]
"Camilo e Eça Frente a Frente"
  • 1 - Primeiros Escritos
  • 2 - Românticos e Realistas
  • 3 - Do Crime do Padre Amaro às Novelas do Minho
  • 4 - Eça Impassível e Camilo Irado
  • 5 - Camilo Ataca em Toda a Linha
  • 6 - A Prsistente Impugnação
  • 7 - Eça de Queirós Desce à Liça
  • 8 - Brasileiro Romântico e Realista
  • 9 - Eça Volta a Atacar
  • 10 - Camilo Contra-Ataca
  • 11 - A Carta-Póstuma de Represália

quarta-feira, 2 de março de 2011

o desenvolvimento da instrução em portugal

Este livro merece um reparo e uma observação. O reparo diz respeito ao facto de Justino Magalhães, autor do livro em questão, incluir Bernardino Machado na denominada Geração de 70. Antes pelo contrário, Machado é mais da geração coimbrã de João Penha. A observação relaciona-se com a sistematização periódica do estudo: séculos XVIII a XX. Nesta sistematização temporal, a falha teórica de Bernardino Machado é imperdoável! Bernardino Machado foi dos poucos que estudou, de uma forma sistemática, o ensino em Portugal no seu tempo, entre a teoria e a prática, passando por todos os ramos de instrução para o desenvolvimento de Portugal. Citando apenas de Machado "O Estado da Instrução Secundária Entre Nós", publicado em 1882, é muito pouco para uma personalidade tão forte como Bernardino Machado que, no campo da instrução, desenvolveu uma actividade ímpar não só como campo teórico, como também, já o disse, na prática, bastando trazer à memória as suas reformas institucionais no campo da instrução enquanto Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria no governo de Hintze Ribeiro em 1893. A preocupação de Bernardino Machado foi sempre uma preocupação de um ensino sociabilizador, ultrapassando assim o evolucionismo, conforme Justino de Magalhães nos dá a entender na página 575, ao citar Machado nos seguintes termos: o "cérebro capaz de se determinar com conhecimento de causa em meio das circunstâncias ordinárias da vida". Machado não só ultrapassa o evolucionismo perante a sociabilização, como igualmente na ideia de cooperação social. E se em termos historiográficos do ensino em Portugal Justino de Magalhães fica só pela obra citada de Machado, numa altura em que já foi publicado pela Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, pelo Museu Bernardino Machado e pela Editora Húmus, três tomos da obra pedagógica de Bernardino Machado (o primeiro com uma introdução do Prof. Rogério Fernandes e os outros dois com textos introdutórios do Prof. Norberto Cunha), apenas significa a ignorância do sistema académico, possivelmente não por culpa do autor, mas cujo sistema continua fechado sobre si próprio! E quando Justino de Magalhães evoca a Escola Nova, bem poderia ter argumentado a sua perspectiva teórica com Bernardino Machado...




QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

I
Modernidade, Educação, História
II
História da Educação
III
A escola como Objecto Historiográfico
IV
Para a História do Educacional Escolar
V
Historiografia da Educação e do Ensino em Portugal
HISTÓRIA DO EDUCACIONAL ESCOLAR PORTUGUÊS

I
Estatalização: do pombalismo à revolução de 1820 - alfabetização escolar
II
Nacionalização: liberalismo, portugalidade escolar
III
Governamentação: regeneração - sistémica e burocracia escolar
IV
Regimentação: do republicanismo ao Estado Novo - um colectivo escolarizado


DA CADEIRA AO BANCO
I
Constituição Educacional Escolar
II
Escola e Modernidade
III
Complexos Históricos-Pedagógicos: transversalidades/nacionalidades
IV
Ciclos de Modernização Escolar no Brasil
V
Escola e Modernização da Sociedade

domingo, 27 de fevereiro de 2011

estado e igreja na república

  • "A questão religiosa, a questão económica e a questão política são fundamentalmente questões de eleição. / Que pretendemos em religião? Pretendemos que todos tenham o direito de escolher o seu culto; e, dentro do culto católico, que é o nosso culto tradicional, a que todos queremos muito, porque, ainda quando não seja o de alguns de nós, foi o dos nossos pais e é de quase todas as nossas mulheres, pretendemos que à nossa igreja matriz e ao nosso seminário diocesano, governados pelos nossos párocos e bispos, da nossa escolha, porque são da escolha da nação, se não substituam as capelas e os noviciados de propaganda romana, que às nossas misericórdias, irmandades e confrarias, de nossa eleição, se não substituam as congregações religiosas adscritas passivamente à obediência de Roma, e não mesmo da Roma do papa branco, mas da Roma do papa negro." (Bernardino Machado, Eleições).
  • "Nós queremos a plena liberdade de cultos, portanto, a liberdade de associação religiosa, mas sem que dentro de nenhuma se professem votos que sejam a anulação da própria liberdade. E, como respeitamos todas as crenças, não queremos que nas nossas escolas se obriguem os nosos filhos a nenhum catecismo nem a nenhum juramento confessional, e tão pouco queremos que se desnature a missão civilizadora, moralizadora, que nos compete sobre as raças incultas ultramarinas confiadas à nossa guarda, convertendo-a numa missão sectária, fanática, de propagação da fé ultramontana de nenhuma igreja. O Estado, que é a grande associação onde se reunem todos os crentes da nação, das mais diversas confissões, a todos deve respeito e protecção, mas só uma religião pode e deve ter sua própria, que é a do bem, da fraternidade, da assistência pelos humildes e pelos infelizes." (Bernardino Machado, Aos Eleitores)



  • A separação do Estado e da Igreja: do 5 de Outubro à aplicação da Lei da Separação

  • Os «carbonários» tentam cooperar com a Igreja e a «Aliança Liberal» ataca-a (1911 a 1917)

  • Sidónio Pais muda a Lei da Separação. A primeira concordata republicana (1918)

  • A vitória dos extremos: os monárquicos isolam papas e bispos. Os laicistas manietam os democráticos (1919-1926)

  • Doze conclusões sobre a Separação entre o Estado e a Igreja







"O presente trabalho defende uma tese: a separação não foi querida nem pela Igreja Católica nem pelo Estado. Uma vez iniciada, ultrapassou-os, obrigou-os a aplicarem estratégias de luta, dividiu-os a ambos, e reformulou-os em termos que, à partida, nem um nem outro tinham imaginado. Foi decisiva para Portugal. Depois do 5 de Outubro, os republicanos sempre quiseram o acordo com a Igreja, por a temerem e por respeitarem a liberdade de consciência; mas começaram por querer esse acordo numa base regalista, que a Santa Sé rejeitou. Regalismo é o domínio do poder régio - e portanto estatal - sobre a Igreja. A Santa Sé divulgou a pastoral dos bispos, em Fevereiro de 1911 e, a aprtir de então, deixou de ser possível recuar. Republicanos e católicos dividiram-se ambos entre partidários e adversários de um compromisso, mas na esmagadora maioria das paróquias o culto prosseguiu em total liberdade, num contexto conflitual, em que alguns actos estatais eral qualificados de «perseguição». A República e a Santa Sé resolverão a questão religiosa depois da Primeira Guerra Mundial, mas não conseguiram dominar os seus extremistas, laicistas de um lado e antimaçons do outro. Os dois extremos mantêm a questão religiosa a borbulhar até ao 28 de Maio de 1926." (Luís Salgado Matos, p. 33).


loureço, o magnífico, leituras


Eduardo Lourenço (foto de António Freitas), em S. Miguel de Ceide, no auditório do Centro de Estudos Camilianos/Casa Museu-Camilo Castelo Branco, no dia 23 de Fevereiro deste ano.




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