domingo, 31 de outubro de 2010

gonzalo torrente ballester








paul auster




Da letra "A" da minha biblioteca, da parte da literatura, a escolha de um livro único foi difícil. Em princípio, suponho que devem estar todos os livros já catalogados, falo os da letra "A", e as suas respectivas capas digitalizadas. Como dizia, a escolha foi difícil, eleger um livro único da letra "A". No fim do tratamento, decidi escolher um livro para os que visitem este blog, para leitura ou oferta. Assim será até ao "Z". Contudo, previno desde já que da letra "B"a escolha ainda mais difícil será, porque tenho Baudelaire, Borges, Ballester, Raúl Brandão, Hermann Broch, e mais não digo. Como podem ver, escolhi este livro fantástico, que não tem nada a ver com a literatura fantástica sul-americana, de Paul Auster "A Trilogia de Nova Iorque". Se virem este livro, adquirem-no, porque a sua leitura é uma aventura e não vão perder nem tempo nem dinheiro, porque quando derem por ela já estão no fim da leitura há muito tempo e depois dirão que foi bem empregue o dinheiro que gastaram. Fica aqui um cheirinho, folheei o livro, apareceu uma citação sublinhada, elas são muitas e muitas, acreditem, aliás, aconselho a terem um lápis na mão para os que gostam de sublinhar e de escrever nos livros quando lerem este Paul Auster. Para os que gostam da imaginação na literatura, nada melhor do que esta "Trilogia".






  • "Talvez toda esta escrita seja um mero disfarce [...] Ou talvez nem sejam sequer palavras, mas gatafunhos sem sentido, marcas aleatórias com uma caneta, uma crescente pilha de disparates e confusão." (239)

machado de assis


«Ele fere e cura!» Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e os entido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.
- Meu senhor - respondeu-me um longo verme gordo -, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos, o que roemos; nós roemos.
Não lhe arranquei mais nada. os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído. (28)
Machado de Assis

exposição autores famalicenses 1998

Para o Dr. Arur Sá da Costa, esta breve reflexão e as fotografias, uma perspectiva da exposição de 1998.

Passados que estão 12 anos sobre a exposição "Uma Aproximação aos Autores Famalicenses", com a publicação da "Antologia", é necessário realizar uma análise sobre a criatividade literária em V. N. de Famalicão, não só no seu contexto local, como também num contexto de âmbito nacional e, como não pode deixar de ser, num plano internacional. Nestes últimos doze anos, Famalicão não tem fugido à regra nestas três perspectivas, na medida em que essa mesma critividade literária se tem manifestado de uma forma original. Num plano internacional, o destaque vai, inquestionavelmente, para o festival de poesia denonimado "Portuguesia", alcançando a expressão poética a sua forma mais original e criativa do dizer poético. Está neste caso o famalicense Luís Serguilha, que pertence à organização do mesmo festival de poesia, a par de Wilmar Silva, poeta. Mesmo Serguilha, já tem alcançado um plano internacional considerável, tendo visto algumas das suas poesias traduzidas em várias línguas. No caso das revistas literárias, surge-nos uma intitulada "Apeadeiro", com direcção de Jorge Reis Sá e de Walter Hugo Mãe, publicada entre 2002 e 2005 com cinco números. As vozes poéticas incorporadas inserem-se dentro de uma estética literária contemporânea da subjectividade intimista e metafísica, com um ou outro número que dão destaque a algumas personalidades literárias de relevo, caso de Cruzeiro Seixas, surrealista. Por falar no surrealismo, a Fundação Cupertino de Miranda, através do seu Centro de Estudos Surrealista, não só tem publicado os seus "Cadernos do Surrealismo", com seis números publicados entre 2000 e 2007, com Bernardo Pinto de Almeida no conselho editorial nos dois primeiros números, e Perfecto Quadrado nos seguintes, director da mesma, como tem marcado o plano cultural famalicense nas suas exposições sobre o surrealismo - caso da última, dando destaque a Júlio, denominando-se a exposição "Por Toda a Parte - Júlio", de nome completo Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983) e que no movimento presencista, como poeta, tinha o pseudónimo Saúl Dias. Famalicão tem uma das vozes mais originais, numa perspectiva surrealista-ontológica, no poeta e jornalista Filipe Oliveira. Noutra perspectiva, o movimento cultural famalicense continua na busca das suas raízes, como foi com o caso do ciclo "Gentes da Terra" (2005), cujas comunicações foram publicadas no ano seguinte. No ano do centenário de falecimento de Alberto Sampaio, surgiram-nos dois volumes da correspondência intitulados "Cartas a Alberto Sampaio" e "Cartas de Alberto Sampaio", assim como a publicação das suas "Obras", assim ficando as mesmas reunidas, para uma compreensão mais abrangente da sua inserção na Geração de 70. Mesmo Bernardino Machado, com um pensamento pedagógico dos mais originais e futurista porque prospectivista, antecipando-se a António Sérgio, tem visto a sua obra pedagógica publicada, assim como terá a política. Com a Obra Pedagógica brevemente publicada na sua totalidade, a qual será composta por três tomos, o último dos quais será apresentado nos futuros "Encontros de Outono", em Novembro próximo, dedicado à temática "República e Municípios", compreenderemos muitas insercências no campo pedagógico contemporâneo. Não só teremos essa compreensão, como igualmente a geração de Machado, o qual pertence indiscutivelmente à de João Penha. Muitas destas actividades têm tido o alto patrocínio do município famalicense, sendo reconhecido a nível nacional o seu papel activo na cultura, perante a identidade da comunidade, sempre em evolução e em (des)continuidade. Esta continuidade também pode ser vista nas comemorações dos trinta anos da existência do "Boletim Cultural", numa altura em que muitos municípios não têm esta voz, municípios, por sinal, mais ricos em termos culturais; mas, às vezes, costumo dizer, que a história reinventa-se, não se ficciona, porque os factos, não numa perspectiva positivista, se encontram na realidade, principalmente na imprensa, Reinventando-se criticamente, reinventa-se a própria comunidade. Mas as vozes individuais, continuam a publicar, entre a ficção e a poesia, o ensaio e a história, inserindo-se ou não se inserindo nas estéticas literárias. O que importa é que a comunidade se reinvente a si própria, não caindo no seu próprio ensimesmento. E esta reinvenção, tem sido vista igualmente no campo das artes, através, por exemplo, de Alexandre Costa, não só individualmente, como com o seu projecto colectivo "Iman".













































Luís Miguel Queirós - "Exposição Documental e Antologia de Autores. Escritores de Famalicão". In Público (24 Ago. 1998), p. 60.





Jorge Fernandes Alves - "Autores Famalicenses: Exposição". In O Tripeiro. Porto, 7.ª série, Ano 17, n.º 10 (Out. 1998), p. 317.

sábado, 30 de outubro de 2010