domingo, 31 de outubro de 2010

exposição autores famalicenses 1998

Para o Dr. Arur Sá da Costa, esta breve reflexão e as fotografias, uma perspectiva da exposição de 1998.

Passados que estão 12 anos sobre a exposição "Uma Aproximação aos Autores Famalicenses", com a publicação da "Antologia", é necessário realizar uma análise sobre a criatividade literária em V. N. de Famalicão, não só no seu contexto local, como também num contexto de âmbito nacional e, como não pode deixar de ser, num plano internacional. Nestes últimos doze anos, Famalicão não tem fugido à regra nestas três perspectivas, na medida em que essa mesma critividade literária se tem manifestado de uma forma original. Num plano internacional, o destaque vai, inquestionavelmente, para o festival de poesia denonimado "Portuguesia", alcançando a expressão poética a sua forma mais original e criativa do dizer poético. Está neste caso o famalicense Luís Serguilha, que pertence à organização do mesmo festival de poesia, a par de Wilmar Silva, poeta. Mesmo Serguilha, já tem alcançado um plano internacional considerável, tendo visto algumas das suas poesias traduzidas em várias línguas. No caso das revistas literárias, surge-nos uma intitulada "Apeadeiro", com direcção de Jorge Reis Sá e de Walter Hugo Mãe, publicada entre 2002 e 2005 com cinco números. As vozes poéticas incorporadas inserem-se dentro de uma estética literária contemporânea da subjectividade intimista e metafísica, com um ou outro número que dão destaque a algumas personalidades literárias de relevo, caso de Cruzeiro Seixas, surrealista. Por falar no surrealismo, a Fundação Cupertino de Miranda, através do seu Centro de Estudos Surrealista, não só tem publicado os seus "Cadernos do Surrealismo", com seis números publicados entre 2000 e 2007, com Bernardo Pinto de Almeida no conselho editorial nos dois primeiros números, e Perfecto Quadrado nos seguintes, director da mesma, como tem marcado o plano cultural famalicense nas suas exposições sobre o surrealismo - caso da última, dando destaque a Júlio, denominando-se a exposição "Por Toda a Parte - Júlio", de nome completo Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983) e que no movimento presencista, como poeta, tinha o pseudónimo Saúl Dias. Famalicão tem uma das vozes mais originais, numa perspectiva surrealista-ontológica, no poeta e jornalista Filipe Oliveira. Noutra perspectiva, o movimento cultural famalicense continua na busca das suas raízes, como foi com o caso do ciclo "Gentes da Terra" (2005), cujas comunicações foram publicadas no ano seguinte. No ano do centenário de falecimento de Alberto Sampaio, surgiram-nos dois volumes da correspondência intitulados "Cartas a Alberto Sampaio" e "Cartas de Alberto Sampaio", assim como a publicação das suas "Obras", assim ficando as mesmas reunidas, para uma compreensão mais abrangente da sua inserção na Geração de 70. Mesmo Bernardino Machado, com um pensamento pedagógico dos mais originais e futurista porque prospectivista, antecipando-se a António Sérgio, tem visto a sua obra pedagógica publicada, assim como terá a política. Com a Obra Pedagógica brevemente publicada na sua totalidade, a qual será composta por três tomos, o último dos quais será apresentado nos futuros "Encontros de Outono", em Novembro próximo, dedicado à temática "República e Municípios", compreenderemos muitas insercências no campo pedagógico contemporâneo. Não só teremos essa compreensão, como igualmente a geração de Machado, o qual pertence indiscutivelmente à de João Penha. Muitas destas actividades têm tido o alto patrocínio do município famalicense, sendo reconhecido a nível nacional o seu papel activo na cultura, perante a identidade da comunidade, sempre em evolução e em (des)continuidade. Esta continuidade também pode ser vista nas comemorações dos trinta anos da existência do "Boletim Cultural", numa altura em que muitos municípios não têm esta voz, municípios, por sinal, mais ricos em termos culturais; mas, às vezes, costumo dizer, que a história reinventa-se, não se ficciona, porque os factos, não numa perspectiva positivista, se encontram na realidade, principalmente na imprensa, Reinventando-se criticamente, reinventa-se a própria comunidade. Mas as vozes individuais, continuam a publicar, entre a ficção e a poesia, o ensaio e a história, inserindo-se ou não se inserindo nas estéticas literárias. O que importa é que a comunidade se reinvente a si própria, não caindo no seu próprio ensimesmento. E esta reinvenção, tem sido vista igualmente no campo das artes, através, por exemplo, de Alexandre Costa, não só individualmente, como com o seu projecto colectivo "Iman".













































Luís Miguel Queirós - "Exposição Documental e Antologia de Autores. Escritores de Famalicão". In Público (24 Ago. 1998), p. 60.





Jorge Fernandes Alves - "Autores Famalicenses: Exposição". In O Tripeiro. Porto, 7.ª série, Ano 17, n.º 10 (Out. 1998), p. 317.

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