quinta-feira, 4 de novembro de 2010

bernardino machado, filósofo






Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta fantástica conferência de Bernardino Machado efectuada na Liga da Paz, em Lisboa, na noite de 18 de Maio de 1905. Nesta conferência, Bernardino Machado suplanta, indiscutivelmente, os teóricos oitocentistas, caso de Lamarck, Darwin, Haeckel, Hegel (evocando o suspeito Hobbes), na ideia da cooperação e, por outro lado, lembrando-nos o Kant da "Paz Perpétua", quando evoca os "Estados Unidos da humanidade inteira", projecto tão caro aos pragmatistas norte-americanos. A ideia da cooperação em Machado é baseada nas seguintes ideias chave: amor, trabalho e instrução.






Bernardino Machado - "Só a Liberdade é a Paz". In O Mundo. Lisboa, Ano 5, n.º 1678 (19 Maio 1905), p. 1.




































In Da Monarchia para a Republica: 1883-1905. Coimbra: Typographia F. França Amado, 1905, pp. 463-490.

























seide, ponto do universo

"... o espírito humano é coisa inescrutável." (175)
Camilo




  • "Sugere-me V. Ex.ª uma graciosa ideia para um livrinho. Olhe que a minha invenção está aquém da beleza filosófica do assunto: eu não sei senão pintar muito nuas, as misérias que me parecem enroupadas, como galego sórdido que se vestiu no aljubeta." (29)

  • "Eu estou morando às abas da Serra de Córdova, entre um souo e uma carvalheira. Sei todos os dias o preço do milho e do feijão fradinho. Tenho horas muito tristes, e outras muito resignadas. A felicidade é que eu não achei aqui, nem em parte alguma." (29)

  • "Estou agora a ver se ajunto umas migalhas para comprar um cardenho entre dois carvalhos aí para o coração do Minho, e fechar-me lá, resguardado dos lobos e dos homens e das mulheres, com duas canastras de livros; mas os de V. Ex.ª levá-los-ei no meu saco de viagem, se é que os não levo no coração, para onde quer que vou com o espírito forro das sujas cadeias desta vida chamada de relação animal." (33)

  • "A minha poesia é meramente a da prosa, ainda assim. Deus me livre de tentar hoje um livro de versos, a não ser uma longa sátira." (41)
  • "Remeto hoje a V. Ex.ª a Luta de Gigantes. É coisa aborrecida. As senhoras do Porto têm dito deste romance pior do que eu poderia dizer delas. É laudanum puro." (53)
  • "Eu penso já ter dito a V. Ex.ª que cismo em me ir emboscar numa floresta do Minho [...] Tinha 2 contos de réis de livros, economias de vinte anos de trabalho; começo a vendê-los para comprar uma horta. Enquanto usnfazem luz, eu vou fazer couve galega e repolhos das crónicas dos frades." (55)
  • "Os romances que estou gizando são dois: um é a história dum frade que meteu um pelouro de 4 onças no crânio da mulher amada. Achei o conto numas alegações dum Reinícola. Outro é a história duma Enjeitada histórica, muito conhecida (a enjeitada) dum tal desembargador de Relação Freitas Costa que ma contou." (68)
  • "Já cá estou na aldeia com as crianças e os passarinhos. Não sou o proprietário da casa e da carvalheira, que me enverdece o arredor do quintal; mas sinto a satisfação de não ser proprietário de coisa mínima, aqui, donde olho para coisas deste mundo, e me parecem todas pequeníssimas [...] / Sorriem-me dias e noites de muito dormir. Tenho um cavalo magro, no intento de experimentar se a natureza, desajudada de pasto, o engorda. Não terei que me admirar se isto acontecer; por que maior milagre foi o das éguas lusitanas que concebiam dos ventos, exemplo que porventura devia servir para salvar a reputação de algumas donzelas suspeitas dos bons tempos de Viriato, e Plínio que refere o caso. / Aqui ninguém me pergunta se o Fontes dará cabo das Inscrições, nem se o João Crisóstomo voltará ao ministério, a provar que se pode com aquele sobrenome ter a boca cheia de guano político. Isto é que é estupidez santa, meu querido amigo! Quando V. Ex.ª quiser fazer-se por oito dias um homem digno deste país venha a Vila Nova de Famalicão, ou diga-me que vá ao Porto para lhe ensinar o caminho desta mata." (72-73)







  • "A gente miúda destas serras pergunta-me pelo maior sábio abaixo de Deus; os provençais não sei deles; mas testemunhas fidedignas me contam que alguns, na volta da Portela, se deixaram cair francamente bêbados nos lamaçais. Sao uns Esprôncedas e Mussets no seu género deles. Estes, porém, não são vítimas de mulheres tredas; são-no do vinho verde, que lhes enegrece o miolo, onde Deus sabe quantos Teófilos caberiam aos couces." (81)
  • "... já começarma a gemer os pinhais e que estes pináculos de serras desdobram ondas de névoa pelas encostas abaixo, quadro lindo que eu admiro com três espirros. Isto é natureza para se admirar sem brônquios nem nariz." (104)
  • "Já cá está o Cavar em Ruínas. É editor o Campos da Rua Augusta. É mais um pedaço de papel atirado aos colmilhos do minotauro do esquecimento. Eu cá de mim tenho-lhe enchido um bom quilómetro de ingentíssima barriga. / Princípio hoje a escrever a Enjeitada, que, se esta pouca saúde me não faltar, hei-de concluir até ao fim do mês. Irá para a roda do Comércio do Porto." (111)
  • "Por aqui já faz frio. Começam a despir-se as árvores e as gestas a florir. Não me assusta a carranca do Inverno. Em Dezembro, fecho as janelas, e monto a artilharia de botijas de genebra. Quando V. Ex.ª estiver em S. Carlos estragando os ouvidos, estarei eu roncando árias num palco decorado de cinco cobertores." (112)
  • "Comecei pouco há a ciganar com burros de melhor espécie que os editores. Comprei na feira de S. Miguel um cavalo com alifafes: agora são quatro as cabeças. Ainda não dão um ministério sem duplicar as pastas; mas hei-de arranjá-lo. Entretenho-me a vê-los devorar palha. E assim vivo há bastantes dias, pensando que, embotada a sensibilidade para esta impressão nova, acabou-se tudo. Depois hei-de ser Byron, Profírio, Teófilo e o mais que Deus quiser." (115)
  • "O novo que escrevi chama-se O Senhor do Paço de Ninães. É coisas destes sítios, velharia de há 250 anos, com ares históricos e carapetão bravio. História à Dumas, muito mais exacta e esclarecida que a História à Rui de Pina. A História de Portugal é preciso inventá-la, senão a escola do A.[lexandre] Herculano tira-nos o apetite de a saber." (124)
  • "Romances, maravalhas e maravilhas bem tolas é o que sai no mercado como fósforos e cabeça de porco." (13)
  • "... Crónicas do Minho. Compreenderá o livro vários romancinhos e narrativas ajeitadas ao formato do livreto, de modo que em cada um ou em dois se publique um romance." (137
  • "Estes ares do Minho são salubérrimos quando a gente tem saúde perfeita e salubérrima. Fora disto, o que este sítio tem bom e raro é a falta de boticas e médicos. Dêem-me isto e eu cuidarei que estou em Ponto-Andongo." (152)
  • "Escrevi para o editor Campos um romance chamado A Doida do Candal e para o mesmo editor outro chamado a Bruxa de St.ª Marinha [Bruxa de Monte Córdova] e para o Comércio do Porto outro chamado O Último Senhor de Ninães [O Senhor do Paço de Ninães]. O que aqui vai de papel para palitos, meu amigo!" (154)
  • "Precisamos de nos polirmos desta oxidação que nos pegou na aldeia. Depois de desbastados da casca mais espessa iremos ao foco da luz, donde mais tarde teremos de voltar talvez persuadidos de que os matagais de Seide ainda têm ursos cultos que não satirizam os Tartufos que V. Ex.ª fez portugueses." (163)

  • "Estou escrevendo um romance chamado O Sangue; mas não é bem um chouriço. É uma patacoada." (171)
  • "A posteridade é uma bonita tolice, que nos vai bem aos tolos..." (174)





tolstoi


camilo glorificado






da nova visita da rua da castela

Agradecendo, antes de mais nada, a nova visita do blog da rua da castela, apenas digo que não tenho tempo a perder com polémicazinhas sem nexo e sem sentido. As suas visitas tiveram uma virtude: despertaram-me para a vida, até porque não podemos agradar a gregos e a troianos! A vida e o tempo são preciosidades inestimáveis e não podem ser perdidas com tolices.