segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

virginia woolf


  • «A biblioteca é sempre a sala mais agradável de uma casa», citou ela, e passou os olhos pelos livros. Os livros eram «O espelho da alma. The Faerie Queene e a Crimea de Kinglake; Keats e a Sonata a Kreutzer. Ali estavam eles, a reflectir. Em quê? Que remédio podia ela encontrar com a sua diade - a idade do século, trinta e nova - nos livros? Era avessa aos livros, como o resto da sua geração; e avessa às armas também. E mesmo assim, tal como, na farmácia, uma pessoa com uma dor de dentes lancinante passa os lhos pelos frascos com rótulos dourados no caso de um deles conter a cura, ela ponderou: Keats e Shelley; Yeats e Donne. Ou talvez não um poema; uma vida. A vida de Garibaldi. A vida de Lord Palmerston. Ou talvez não a vida de uma pessoa; de um condado. As Antiguidades de Durham; As Actas da Sociedade Arqueológica de Nottingham. Ou nem mesmo uma vida, mas ciência - Eddington, Darwin, ou Jeans. / Nenhum deles lhe fazia passar a dor de dentes. Para a sua geração o jornal era um livro." (22)
  • "Vazia, vazia, vazia; silenciosa, silenciosa, silenciosa. A sala era uma concha, cantando o que fora antes do tempo..." (33)
  • "Vindas da biblioteca as vozes pararam na entrada. Encontraram por certo um obstáculo; um rochedo. Era absolutamente impossível, mesmo no coração da província, estar só? Tal era o choque. Depois disso, o rochedo foi contornado, abrangido. Se era doloroso, era essencial. Tem que haver sociedade. Saindo da biblioteca, era doloroso, mas agradável..." (33)
  • "«Faltam-nos as palavras - faltam-nos as palavras», protestou a Sr.ª Swithin. «Na cabeça; não nos lábios; é só isso.» «Pensamentos sem palavras?, ruminou o irmão. «Será isso possível?» (45)
  • "Porque julgarmo-nos uns aos outros? Conhecemo-nos uns aos outros? Não aqui, não agora." (49)
  • "«Como tenho o coração cheio de primavera?» disse ele em voz alta, de pé, em frente à estante. Livros: o precioso sangue vital dos espíritos imortais. Poetas: os legisladores da humanidade." (85)
  • "A música acorda-nos. A música faz-nos ver o que está escondido, juntar o que está quebrado. Olhar e ouvir. Ver as flores, como elas irradiam a sua vermelhidão, a sua brancura, o seu prateado, e o seu azul. E as árvores, com as suas silabizações em muitas línguas, as suas folhas verdes e amarelas apressando-nos e misturando-nos, e chamando-nos, como os estorninhos e as gralhas-calvas, se juntam, se apinham todos, para tagarelar e se divertir enquanto a vaca fulva anda para a frente e a preta fica parada." (88)
  • "O vento levou consigo as palavras." (91)
  • "Por onde caminho?» cismou ela. «Por que túneis ventosos? Onde o vento sem olhos sopra? E onde não cresce nada para os olhos. Nenhuma rosa. Para nascer onde? Em algum indistinto campo estéril onde nenhum crepúsculo estende o seu manto; nem o sol nasce. Tudo é igual aí. Sem vento e sem alento são as rosas lá. Nãi há variação; nem o mutável e o amável; nem boas vindas e despedidas; nem descobertas nem emoções furtivas, onde a mão procura a mão e os olhos buscam abrigo dos olhos.» (111)
  • "Cada um é parte do todo." (135)
  • "Palavras sem sentido - palavras maravilhosas." (148)

bernardino machado, presidente 1915

para o dr. manuel sá marques, que já deve ser do seu conhecimento, esta reportagem da Ilustração Portuguesa, quando Bernardino Machado foi eleito pela primeira vez presidente da república portuguesa, encontrando-se digitalizada na hemeroteca digital, uma obra notável da hemeroteca municipal de lisboa, que tem por objectivo a construção de uma biblioteca digital de jornais e revistas. com este projecto encontramo-nos, assim, perante o mundo fasciante que é a imprensa periódica portuguesa.





Ilustração Portuguesa, Lisboa, 2.ª série, n.º 495 (16 Ago. 1915), pp. 217-220.