quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

james rachel

"A melhor forma de abordar os problemas da filosofia é usar todos os recursos disponíveis."
James Rachels




I
O Legado de Sócrates
II
Deus e a Origem do Universo
III
O Problema do Mal
IV
Sobreviveremos à Morte?
V
O problema da Identidade Pessoal
VI
Corpo e Mente
VII
Poderá uma Máquina Pensar?
VIII
O Ataque ao Livre-Arbítrio
IX
O Debate sobre o Livre-Arbítrio
X
O Nosso Conhecimento do Mundo que nos Rodeia
XI
Ética e Objectividade
XII
Por Que Razão Havemos de Ser Morais?
XIII
O Sentido da Vida

  • "Só são felizes (pensei) aqueles que fixam a sua mente num objecto que não a sua própria felicidade, como a felicidade dos outros, o aperfeiçoamento da humanidade ou mesmo alguma arte pu actividade, perseguindo-o não como meio, mas como fim ideal em si. Tendo outra coisa em vista, encontram a felicidade pelo caminho. [...] Pergunte a si próprio se é feliz e deixará de o ser. A única hipótese é tratar, não a felicidade, mas outro fim que lhe seja exterior, cómo propósito da vida."
John Stuart Mill

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

bernardino machado e a república

Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta reflexão republicana, com um abraço fraternal de amizade eterna.






In O Mundo. Lisboa Ano 10, n.º 3324 (1 Fev. 1910), pp. 1-2.

do dia

as heresias às vezes sabem bem: e a heresia de hoje é que o fazedor deste blog já estava cheio do natal. de vez em quando, sabe bem sermos diferentes, porque o mundo necessita da diferença para sobreviver. às vezes, não somos nós próprios, porque o mundo sobrevive na diferença e nós nele, o mundo em nós. assim se caminha paulitanamente na sobrevivência dos dias.

sábado, 25 de dezembro de 2010

portugal anos 10






O Presidente da República Bernardino Machado e o Ministro da Guerra inspeccionam roupas para enviar aos soldados portugueses, em 1916.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

dos dias

dois textos e uma reflexão. antes da reflexão um café. os textos de que falo, e aqui já colocados, um é de mário soares e publicado na "visão" com o título "os "vencidos da vida" de hoje" e o outro é de paulo tunhas com o título "tempo propício a desejos e riscos" e publicado na revista "o mundo em 2011". se, por um lado, o texto de mário soares pretende revelar um optimismo, evidenciando os ganhos de abril, que não se colocam em causa, antes pelo contrário, veja-se, por exemplo, o caso de famalicão, na medida em que a partir dos anos oitenta assistiu-se a uma projecção construtiva e dinâmica dos equipamentos culturais, tem uma evidência, muitas vezes, de facto, esquecida pelos políticos, agentes económicos e sindicalistas: os recursos humanos, a pessoa, o ser humano. exemplo concreto disto são as greves: o que interessa há imprensa, aos sindicatos e aos políticos são, indiscutivelmente, os números, não as pessoas ou os problemas sosciais a serem resolvidos. tudo continua na mesma ou ainda pior! depois, quando assistimos a debates de uma campanha pré-presidencial tão amorfos, tão sem ideias, tão sem chama, tão sem alma e tão sem coração interrogamos sobre a passividade acomodativa da sociedade portuguesa. esta (a)comodação leva-nos à reflexão do filósofo paulo tunhas. por um lado, esta (a)comodação leva-nos a algo de irreflectido. a ética não nasce da passividade nem da inactividade, nasce da acção para uma razoabilidade do humano, mesmo sabendo, como ponto de partida, que a ética poderá ser uma ficção. mas esta ficção ética poderá ser uma realidade, mas uma realidade que não poderá ser entregue a uma "sorte moral". a ética não nasce da sorte das acções do ser humano. assim não teria fundamento e o ser humano não teria os seus próprios fundamentos de existenciariedade. a tal "sorte moral" que paulo tunhas fundamenta encaixa perfeitamente nesta ética contemporânea da aparência que não aparenta, simplesmente se acomoda. correr riscos, sim; pensarmos de novo em desejos, sim. mas os riscos e os desejos do ser humano não devem entrar nessa "sorte moral", seria a ilegitimação da ética e não daria novos rumos ao ser humano, numa época em que existem mais incertezas do que certezas, porque uma época sem referências.

paulo tunhas e pensar portugal




mário soares




amartya sen


"«No pequeno mundo em que as crianças vivem a sua existência», diz Pip no livro Grandes Esperanças, de Charles Dickens, "nada há que seja mais finamente percebido e sentido do que a injustiça». Quer-me realmente parecer que Pip tem toda a razão: depois do seu encontro humilhante com Estella, acorreu-lhe vivíssima a memória de como, enquanto criança, ele fora alvo de uma «coacção caprichosa e violenta» às mãos da sua própria irmã. Mas esta aguda percepção da injustiça evidente é algo que também acontece nos seres humanos adultos. O que nos toca, e é razoável que o faça, não é o darmo-nos conta de que o mundo fica aquém de um estado de completa justiça - coisa de que poucos têm esperança -, mas o facto de que, à nossa volta, existam injustiças manifestamente remediáveis e que temos vontade de eliminar. / Na nossa vida do dia-a-dia, isto torna-se muito claro diante de iniquidades ou subjugações de que possamos ser alvo e das quais tenhamos boas razões para nos podermos ressentir; mas é algo que também verificamos quando procedemos a um mais amplo diagnóstico da injustiça que se pode encontrar nesse mundo mais vasto em que todos vivemos." (9)
I
As Exigências da Justiça
II
Formas de Racionalidade
III
Os Materiais da Justiça
IV
Argumentação Pública e Democracia

bernardino machado, político e pedagogo

para o dr. manuel sá marques, este texto e caricatura retirado da biblioteca digital da fundação mário soares, que não deve ser seu desconhecido.



Urbano Tavares Rodrigues - "A Personalidade e a Vida Política do Recto Cidadão e Notável Pedagogo que foi o dr. Bernardino Machado". In Diário de Lisboa. Lisboa, n.º especial do 50.º aniversário do DL (7 Abr. 1971), pp. 12-13.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

hermann hesse

CULTURA


  • "A verdadeira cultura não é aquela que almeja um determinado objectivo mas sim aquela que, como acontece em qualquer procura da perfeição, tem o seu próprio significado ínsito. Tal como a procura da força, da agilidade e da beleza física não tem um objectivo próprio definitivo (por exemplo, o de nos tornar ricos, célebres e poderosos), antes encontra em si mesma a sua recompensa, na medida em que exalta o nosso sentido vital e a nossa confiança em nós próprios, nos torna mais alegres e mais felizes e nos dá uma maior sensação de segurança e de saúde, também a procura da «cultura», ou seja, de um aperfeiçoamento intelectual e espiritual, não é um fatigante caminho em direcção a uma meta bem precisa, antes sendo, pelo contrário, um fortificante e benéfico alargamento da nossa consciência, um enriquecimento das nossas potencialidades de vida e de alegria. Por isso, a verdadeira cultura, tal como a educação física, é, ao mesmo tempo, um estímulo e uma satisfação, atinge sempre o alvo mas não pára em lugar algum, é um proceder no infinito, um vibrar em uníssono com o universo, um viver com isso fora do tempo. O seu objectivo não é o desenvolvimento de uma única faculdade ou capacidade; essa ajuda-nos, principalmente, a dar um sentido à nossa vida, a interpretar o passado, a abrirmo-nos ao futuro com corajosa prontidão." (9)
LITERATURA
  • "Entre as vias que conduzem a esta cultura, uma das mais importantes é o estudo da literatura universal, o adquirir, pouco a pouco, familiaridade com o imenso tesouro de pensamentos, experiências, símbolos, fantasias e miragens que o passado nos deixou em heranças nas obras dos poetas e dos filósofos de muitas nações. Esta via é interminável, ninguém a poderá alguma vez percorrer até ao fim, ninguém conseguiria esgotar o estudo e o conhecimento da inteira literatura de um único povo civilizado, para não falarmos daquela humanidade inteira. Porém, por outro lado, cada nosso ingresso inteligente na obra de um grande poeta ou de um importante filósofo é uma experiência feliz e satisfatória, que acrescenta em nós não uma soma de noções mortas mas antes a nossa consciência viva e a nossa compreensão. Aquilo que nos deve importar não é termos lido e conhecer o mais possível mas sim, através de uma escolha livre e pessoal de obras-primas às quais nos dedicaremos plenamente nas nossas horas livres, fazermos uma ideia da grandeza e da abundância daquilo que o homem pensou e desejou, e de nos situarmos numa relação de vivificante conformidade com a soma das coisas, com a vida e com o pulsar da humanidade. Este é, no fundo, o significado de toda a existência que não se limita à pura necessidade material. A leitura não deve, de modo algum, «distrair-nos» mas sim concentrar-nos; não nos deve fazer esquecer uma vida sem sentido, nem aturdir-nos com uma consolação ilusória antes devendo, pelo contrário, contribuir para dar à nossa vida um significado sempre mais elevado e mais pleno." (10)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

virginia woolf


  • «A biblioteca é sempre a sala mais agradável de uma casa», citou ela, e passou os olhos pelos livros. Os livros eram «O espelho da alma. The Faerie Queene e a Crimea de Kinglake; Keats e a Sonata a Kreutzer. Ali estavam eles, a reflectir. Em quê? Que remédio podia ela encontrar com a sua diade - a idade do século, trinta e nova - nos livros? Era avessa aos livros, como o resto da sua geração; e avessa às armas também. E mesmo assim, tal como, na farmácia, uma pessoa com uma dor de dentes lancinante passa os lhos pelos frascos com rótulos dourados no caso de um deles conter a cura, ela ponderou: Keats e Shelley; Yeats e Donne. Ou talvez não um poema; uma vida. A vida de Garibaldi. A vida de Lord Palmerston. Ou talvez não a vida de uma pessoa; de um condado. As Antiguidades de Durham; As Actas da Sociedade Arqueológica de Nottingham. Ou nem mesmo uma vida, mas ciência - Eddington, Darwin, ou Jeans. / Nenhum deles lhe fazia passar a dor de dentes. Para a sua geração o jornal era um livro." (22)
  • "Vazia, vazia, vazia; silenciosa, silenciosa, silenciosa. A sala era uma concha, cantando o que fora antes do tempo..." (33)
  • "Vindas da biblioteca as vozes pararam na entrada. Encontraram por certo um obstáculo; um rochedo. Era absolutamente impossível, mesmo no coração da província, estar só? Tal era o choque. Depois disso, o rochedo foi contornado, abrangido. Se era doloroso, era essencial. Tem que haver sociedade. Saindo da biblioteca, era doloroso, mas agradável..." (33)
  • "«Faltam-nos as palavras - faltam-nos as palavras», protestou a Sr.ª Swithin. «Na cabeça; não nos lábios; é só isso.» «Pensamentos sem palavras?, ruminou o irmão. «Será isso possível?» (45)
  • "Porque julgarmo-nos uns aos outros? Conhecemo-nos uns aos outros? Não aqui, não agora." (49)
  • "«Como tenho o coração cheio de primavera?» disse ele em voz alta, de pé, em frente à estante. Livros: o precioso sangue vital dos espíritos imortais. Poetas: os legisladores da humanidade." (85)
  • "A música acorda-nos. A música faz-nos ver o que está escondido, juntar o que está quebrado. Olhar e ouvir. Ver as flores, como elas irradiam a sua vermelhidão, a sua brancura, o seu prateado, e o seu azul. E as árvores, com as suas silabizações em muitas línguas, as suas folhas verdes e amarelas apressando-nos e misturando-nos, e chamando-nos, como os estorninhos e as gralhas-calvas, se juntam, se apinham todos, para tagarelar e se divertir enquanto a vaca fulva anda para a frente e a preta fica parada." (88)
  • "O vento levou consigo as palavras." (91)
  • "Por onde caminho?» cismou ela. «Por que túneis ventosos? Onde o vento sem olhos sopra? E onde não cresce nada para os olhos. Nenhuma rosa. Para nascer onde? Em algum indistinto campo estéril onde nenhum crepúsculo estende o seu manto; nem o sol nasce. Tudo é igual aí. Sem vento e sem alento são as rosas lá. Nãi há variação; nem o mutável e o amável; nem boas vindas e despedidas; nem descobertas nem emoções furtivas, onde a mão procura a mão e os olhos buscam abrigo dos olhos.» (111)
  • "Cada um é parte do todo." (135)
  • "Palavras sem sentido - palavras maravilhosas." (148)

bernardino machado, presidente 1915

para o dr. manuel sá marques, que já deve ser do seu conhecimento, esta reportagem da Ilustração Portuguesa, quando Bernardino Machado foi eleito pela primeira vez presidente da república portuguesa, encontrando-se digitalizada na hemeroteca digital, uma obra notável da hemeroteca municipal de lisboa, que tem por objectivo a construção de uma biblioteca digital de jornais e revistas. com este projecto encontramo-nos, assim, perante o mundo fasciante que é a imprensa periódica portuguesa.





Ilustração Portuguesa, Lisboa, 2.ª série, n.º 495 (16 Ago. 1915), pp. 217-220.

domingo, 19 de dezembro de 2010

todos os nomes



  • "É mais do que certo e sabido que a morte, quer por incompetência de origem quer por má-fé adquirida na experiência, não escolhe as suas vítimas consoante a duração das vidas que viveram, procedimento este, aliás, entre parêntesis se diga, que, a dar crédito à palavra das inúmeras autoridades filosóficas e religiosas que sobre o tema se pronunciaram, acabou por produzir no ser humano, reflexamente, por diferentes e às vezes contraditórios caminhos, o efeito paradoxal duma sublimação intelectual do temor natural de morrer. Mas, indo ao que nos interessa, aquilo de que a morte nunca poderá ser acusada é de ter deixado ficar indefinidamente no mundo algum esquecido velho, apenas para se ir tornando cada vez mais velho, sem merecimento ou outro motivo visível." (15-16)
  • "... o espírito humano, muitas vezes, toma decisões cujas causas mostra não conhecer, sendo de supor que o faz depois de ter percorrido os caminhos da mente com tal velocidade que depois não é capaz de os reconhecer e muito menos reencontrar." (24)
  • "Só os deuses mortos são deuses sempre." (26)
  • "... não há nada que mais canse uma pessoa que ter de lutar, não com o seu próprio espírito, mas com uma abstracção." (27)
  • "Para anunciar o começo de algo, fala-se sempre do dia primeiro, quando a primeira noite é que deveria contar, ela é que é a condição do dia, a noite seria eterna se não houvesse noite." (28)
  • "A fama, ai de nós, é um ar que tanto vem como vai, é um cata-vento que tanto gira ao norte como ao sul, e tal como sucede passar uma pessoa do anonimato à celebridade sem perceber porquê, também não é raro que depois de ter andado a espanejar-se à calorosa aura pública acabe sem saber como se chama." (29-30)
  • "... sendo a vida biologicamente a mesma, quer dizer, o mesmo ser, as mesmas células, as mesmas feições, a mesma estatura, o mesmo modo aparente de olhar, ver e reparar, e sem que a estatística se tivesse podido aperceber da mudança. essa vida passou a ser outra vida, e outra pessoa essa pessoa." (31)
  • "O sábio é sábio consoante o grau de prudência que o exorne..." (34)
  • "... a prudência só é boa quando se trata de conservar aquilo que já não interessa..." (35)
  • "... Quantos aos pensamentos metafísicos, meu caro senhor, permita-me que lhe diga que qualquer cabeça é capaz de os produzir, o que muitas vezes não consegue é encontrar as palavras." (39)
  • "Em geral não se diz que uma decisão nos aparece, as pessoas são tão zelosas da sua identidade, por vaga que seja, e da sua autoridade, por pouca que tenham, que preferem dar-nos a entender que reflectiram antes de dar o último passo, que ponderaram os prós e os contras, que sopesaram as possibilidades e as alternativas, e que, ao cabo de um intenso trabalho emntal, tomaram finalmente a decisão. Há que dizer que estas coisas nunca se passaram assim. Decerto não entrará na cabeça de ninguém a ideia de comer sem sentir suficiente apetite, e o apetite não depende da vontade de cada um, forma-se por si mesmo, resulta de objectivas necessidades do corpo, é um problema físico-químico cuja solução, de um modo mais ou menos satisfatório, será encontrada no conteúdo do prato. Mesmo um acto tão simples, como é o de descer à rua a comprar o jornal pressupõe, não só um suficiente desejo de receber ingormação, o qual, esclareça-se, sendo desejo, é necessariamente apetite, efeito de actividades físico-químicas específicas do corpo, ainda que de diferente natureza, como pressupõe também, esse acto rotineiro, por exemplo, a certeza, ou a convicção, ou a esperança, não conscientes, de que a viatura de distribuição não se atrasou ou de que o posto de venda de jornais não está fechado por doença ou ausência voluntária do proprietário. Aliás, se persistíssemos em afirmar que as nossas decisões somos nós que as tomamos, então teríamos de principiar por dilucidar, por discernir, por distinguir, quem é, em nós, aquele que tomou a decisão e aquele que depois a irá cumprir, operações impossíveis, onde as houver. Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós. A prova encontramo-la em que, levando a vida a executar sucessivamente os mais diversos actos, não fazemos preceder cada um deles de um período de reflexão, de avaliação, de cálculo, ao fim do qual, e só então, é que nos declararíamos em condições de decidir se iríamos almoçar, ou comprar o jornal, ou procurar a mulher desconhecida." (41-42)
  • "O corpo que sonha é real, portanto, salvo opinião mais autorizada, também tem de ser real o sonho que ele estiver a sonhar, O sonho só tem realidade como sonho, Quer dizer que a minha única realidade foi essa, Sim, foi essa a sua única realidade vivida..." (44)
  • "... o tempo, ainda que os relógios queriam convencer-nos do contrário, não é o mesmo para toda a gente." (47)
  • "... O acaso não escolhe, propõe..." (47)
  • "Quem somos nós para falar de consequências, se da fila interminável delas que incessantemente vêm caminhando na nossa direcção apenas podemos ver a primeira, Significa isso que algo pode acontecer ainda, Algo, não, tudo, Não compreendo, Só porque vivemos absortos é que não reparamos que o que nos vai acontecendo deixa intacto, em cada momento, o que nos pode acontecer, Quer isso dizer que o que pode acontecer se vai regenrando constantemente, Não só se regenera como se multiplica, basta que comparemos dois dias seguidos, Nunca pensei que fosse assim, São coisas que só os angustiados conhecem." (48)

  • "... o que à primeira vista é igual para todos e na realidade é diferente para cada um. E diferente também de cada vez..." (56)
  • "... toda a gente sabe que sendo certo que não é com vinagre que se apanham moscas, não é menos certo também que algumas nem com mel se deixam apanhar." (59)
  • "É uma pessoa feliz, pode guardar os seus segredos, Não creio que alguém seja feliz só por guaradar segredos, É feliz, o que eu sou não interessa..." (61)
  • "... perdoa-se porque se ama, ama-se porque se perdoa..." (63)
  • "... seguramente na cabeça de toda a gente, um pensamento autónomo que pensa por sua própria conta, que decide sem a participação do outro pensamento, aquele que conhecemos desde que nos conhecemos e que tratamos por tu, aquele que se deixa guiar por nós para nos levar aonde cremos que conscientemente queremos ir, mas que, afinal de contas, poderá ser que esteja a ser conduzido por outro caminho, noutra direcção, e não para a esquina mais próxima..." (69)
  • "... o que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca e que é preciso andar muito para alcançar o que está perto. " (69)
  • "... pessoas desconhecidas é o que mais se encontra na vida..." (70)
  • "... o princípio de um desenho como o de todas as vidas, feito de linhas quebradas, de cruzamentos, de intersecções, mas nunca de bifurcações, porque o espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do corpo, e o corpo não seria capaz de mover-se se lhe faltassem as asas do espírito." (74)
  • "... há outras pessoas que se não salvam o mundo é só porque o mundo não se deixa salvar..." (87)
  • "Provavelmente, quanto maior é a diferença, maior será a igualdade, e quanto maior é a igualdade, maior a diferença será..." (97)
  • "... alguma razão o povo há-de ter para persistir em afirmar, não obstante as contrariedades da vida, que a má sorte nem sempre há-de estar atrás da porta..." (107)
  • "... ninguém tem o direito de apropriar-se de retratos que não lhe pertençam, salvo se lhe foram oferecidos, levar o retrato duma pessoa no bolso é como levar-lhe um pouco da alma..." (119-120)
  • "... aos múltiplos sentidos das palavras que cautelosamente ia pronunciado, sobretudo aquelas que parecem ter um sentido só, com elas é que é preciso mais cuidado. Ao contrário do que em geral se crê, sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é directo, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao paso que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos, de direcções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições." (133-134)
  • "Sendo a alma humana o que sabemos, e não podemos gabar-nos de saber tudo..." (140)
  • "... a vida tinha-lhe ensinado que a melhor maneira de defender os segredos próprios ainda é guardar respeito aos segredos alheios." (147-148)
  • "... aquilo que ainda é vivo àquilo que já está morto, aquilo que vai morrendo àquilo que vai nascendo, todos os seres a todos os seres, todas as coisas a todas as coisas, eles e elas, mais do que aquilos que à vista os separa..." (155)
  • "Sim, mas o que está a ver de mim também é uma pela, aliás, a +ele é tudo quanto queremos que os outros vejam em nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos." (157)
  • "... em todo o caso lembra-te de que não é só a sabedoria dos tectos que é infinita, as surpresas da vida também o são..." (158)
  • "... tempo a que poderíamos chamar de alma..." (179)
  • "... ignorantes como somos, até onde puderam já alcançar os avanços da ciência, da mesma maneira que as ondas de rádio, que ninguém vê, conseguiram levar os sons e as imagens por ares e ventos, saltando as montanhas e os rios, atravessando os oceanos e os desertos, também não será nada de extraordinário se já estiveram descobertas ou inventadas, ou vierem a sê-lo amanhã, umas ondas leitoras e umas ondas fotógrafas capazes de atravessar as paredes e registar e transmitir para o exterior casos, mistérios e vergonhas da nossa vida que julgaríamos a salvo de indiscrições." (185-186)
  • "É sabido como os nossos pensamentos, tanto os da inquietação como os do contentamento, e outros que nem são disto nem daquilo, acabam, mais tarde ou mais cedo, por cansar-se e aborrecer-se de si mesmos, é só questão de dar tempo ao tempo, é só deixá-los entregues ao preguiçoso devanear que lhes veio da natureza, não lançar na fogueira nenhuma reflexão nova, irritante ou polémica, ter, sobretudo, o supremo cuidado de não intervir de cada vez que diante de um pensamento já por si disposto a distrair-se se apresente uma bifurcação atractiva, um ramal, uma linha de desvio. Ou intervir, sim, mas para o impelir com delicadeza pelas costas, principalmente se é daqueles que incomodam, como se estivéssemos a aconselhá-lo."
  • "... há ocasiões na vida em que nos deixamos ir, em que somos capazes de contar as nossas dores até ao primeiro desconhecido que nos apareça..." 191)
  • "... A felicidade e a infelicidade são como as pessoas famosas, tanto vêm como vão..." (197)
  • "... as águas passadas não movem moinhos..." (198)
  • "Nao se pode imaginar, é impossível, só estando lá..." (199)
  • "... embora não seja capaz de dizer em que consiste a diferença, deve ser coisa de dentro, não de fora." (201)
  • "... a memória, que é susceptível e não gosta de ser apanhada em falta, tende a preencher os esquecimentos com criações de realidade próprias, obviamente espúrias, mas mais ou menos contíguas aos factos de cujo acontecer só lhe havia ficado uma lembrança vaga, como o que resta da passagem duma sombra." (201)
  • "... a sabedoria popular a dizer, desde que o mundo é mundo, que o coração não sente o que os olhos não vejam." (214)
  • "... cada um sabe de si e só Deus sabe de todos." (220)
  • "... há mesmo quem afirme que um Cemitério assim é como uma espécie de biblioteca onde o lugar dos livros se encontrasse ocupado por pessoas enterradas..." (230)
  • "As obras do acaso são infinitas." (243)
  • "Em geral as pessoas não conseguem ser justas, nem consigo mesmas, nem com os outros..." (247)
  • "... os tectos das casas são o olhos múltiplo de Deus." (248)
  • "A vida é estranha..." (257-258)
  • "Provavelmente tinha razão quando disse que talvez nenhum suicídio possa ser explicado, Racionalmente explicado, entenda-se, Tudo se passou como se ela não tivesse feito mais do que abrir uma porta e sair, Ou entrar, Sim, ou entrar, conforme o ponto de vista, Pois aí fica uma excelente explicação, Era uma metáfora, a metáfora sempre foi a melhor forma de explicar as coisas." (267)
  • "O espírito humano, porém, quantas vezes será preciso dizê-lo, é o lugar predilecto das contradições, aliás nem se tem observado ultimamente que elas propsperem ou simplesmente tenham condições de existência viáveis fora dele..." (268)

sábado, 18 de dezembro de 2010

camilo no cinema



"Mistérios de Lisboa" foi distinguido com o prémio francês louis delluc, que promove o melhor filme francês do ano. baseado no livro de camilo com o mesmo nome, o filme foi realizado pelo chileno raul ruiz, tendo já sido distinguido no festival de san sabastian e na mostra internacional de cinema de são paulo.








alberto sampaio

num texto intitulado "o despotismo económico" e publicado no livro "monarchia para a republica", bernardino machado, analisando a crise agrícola do país e realizando uma espécie de relatório das actividades que o seu governo liberal, enquanto manteve a pasta do ministério das obras públicas, comércio e indústria, promoveu a promoção da agricultura, não só no campo da reforma instrucional, como noutras, salienta que já a crise económica e da agricultura tinha sido salientada por nomes como oliveira martins, pereira de magalhães, malheiro dias, joaquim de vasconcelos e alberto sampaio, os quais tinham realçado a sua defesa, como propondo novas alternativas próprias para a reabilitação económica do país.




In As Artes Entre as Letras, n.º 40 (15 Dez. 2010), pp. 6-7

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

cmvnf/ape conto 2009





foi entregue hoje, em s. miguel de seide, o prémio do conto camilo castelo branco do ano de 2009, numa parceria câmara municipal de vila nova de famalicão (cmvnf) e associação portuguesa de escritores (ape). o galardoado com o prémio foi o escritor afonso cruz com o livro "enciclopédia da estória universal", perante um júri constituído por clara rocha, josé antónio gomes e josé ribeiro ferreira. quando se leu o livro, foram feitas as devidas referências. afonso cruz é um escritor da nova geração que traz uma lufada de ar fresco à literatura portuguesa. deixo a lembrança, ou algumas lembranças do dia de hoje, nomeadamente a dedicatória de afonso cruz, assim como o texto manuscrito que teve início na folha ante-rosto do livro, o qual, na íntegra, pode ser encontrado neste blog. a sessão decorreu com o olhar atento de camilo.









o dr. artur sá da costa apresentou, no discurso inuagural da sessão, este quarteto de cordas da escola profissional de música da artave, que tocou um tema popular português de forma erudita, antes dos discursos iniciais.




a mesa: presidente da junta de s. miguel de seide, manuel amado; vereador da cultura e vice-presidente cmvnf, dr. paulo cunha; arq.º armindo costa presidente cmvnf; dr. josé manuel mendes, presidente ape; afonso cruz, o escritor premiado.




afonso cruz, no seu discurso inaugural. a sua "enciclopédia da estória universal" foi o primeiro livro que escreveu, não o primeiro que publicou. salientou que esta sua "enciclopédia" é uma bibliografia inventada, uma ficção do princípio ao fim, apesar da história, senão as histórias, serem baseadas em factos. salvo raro excepções, o livro nas livrarias estava quase sempre nas estantes dedicada à história. o exemplar que adquiri na livraria bertrand em braga estava, apesar no inicio se pensar o mesmo, na estante da ficção, bem lá no cimo, escondidinho. já contei neste blog a história.




dr. antónio gomes, representante do júri. dos pontos que focou, saliento a originalidade da arquitectura narrativa; a cultura filosófica do autor, leitor omnívoro; o passado e o presente da condição humana, nesta barca do mundo na qual estamos inseridos. estamos perante um livro inovador e de imaginação. tema principal: uma biblioteca imaginada. o que temos nesta "enciclopédia", para além do humor, deparamo-nos com a ironia, perante a narativa efabulística. estamos perante uma parábola divertida e crítica da cultura histórica nesta época neo-liberal.



dr. josé manuel mendes, presidente da ape. começou por referir uma ausência presente, a do dr. aníbal pinto de castro, considerando-o como um raio de luz e de sombra. perosnalidade invulgar, no magistério, enquanto professor em coimbra, onde foi seu aluno, e com obra reconhecida no centro de estudos camilianos. para o dr. josé manuel mendes, o dr. aníbal pinto de castro era uma personalidade que conjugava saberes múltiplos. deixou-nos estudos sobre os cancioneiros, p. antónio vieira, camilo, acrescentando camilo a camilo. de pinto de castro, acabou por salientar o seu fantástico humor envolvendo a sua personalidade cativadora. da existência do prémio, salientou a cooperação institucional entre a ape e a cmvnf para a valorização da literatura no que ela tem de perdurável e pela obra de afonso cruz, uma livre criação de ficcionalidade: e que o seu livro tenha aparecido em estantes trocadas acaba por ser uma honra! o que a "enciclopédia" de afonso cruz revela é o seu carácter polissémico. terminou com uma citação de s. tomás de aquino: a fé é a substância das coisas que se esperam: na ideia de que a literatura perdure, eternamente.





arq.º armindo costa, presidente da cmvnf, no momento do seu discurso. começa por recordar o dr. aníbal pinto de castro nas seguintes palavras: "por vezes, não são necessárias palavras", e "simples gestos indiciais revelam, com misteriosa eloquência, os segredos do futuro". salienta que o grande prémio do conto camilo castelo branco revela hoje um futuro promissor para afonso cruz, artista multifacetado. para além de escritor, revela-nos o artista da imagem, o artista da música. salienta que os jornais dizem que afonso cruz é um faz-tudo, sendo, por isso mesmo, um artista multifacetado da pós-modernidade em curso. comenta que numa época como a nossa em que se valoriza a especialização, tal situação para afonso cruz será um elogio, "porque consegue tocar vários instrumentos da arte com o talento iluminante que despontam e nos surpreendem." o que tornou imortal camilo foi, precisamente, a sua descrição das paixões humanas, a perspicácia social e política. focando o facto do ministério da educação ter retirado o livro "amor de perdição" do programa do ensino secundário, tal como aconteceu com outros autores clássicos, o que se passou é que camilo "foi expulso da escola portuguesa." cito do discurso do presidente da cmvnf: "dizem os entendidos em programas curriculares, que nem todos estão preparados para aceder à mensagem humanista de que somos herdeiros. lamentamos profundamente, porque a retirada de camilo das escolas representa, antes de mais, um murro no estômago da nossa cultura e da nossa tradição humanista, e representa também um ataque à literatura portuguesa e à educação das novas gerações." citando camilo "os dias prósperos não vêm por acaso. nascem de muita fadiga e muitos intervalos de desalento", afirmando que a cmvnf não desistirá de camilo. camilo agradece.




no momento da entrega do prémio a afonso cruz



o presidente da cmvnf, arq.º armindo costa, a oferecer a afonso cruz, a "história de famalicão".




afonso cruz e francisco josé viegas














afonso cruz, o artista faz-tudo

Conheça Afonso Cruz, o artista faz-tudo, que recebe o Prémio de Conto
"Nada neste livro pode ser considerado um facto objectivo e tudo, ou quase tudo, podemos assegurar, é pura invenção... Creio que as referências bibliográficas são falsas, bem como as citações. Diz-se que existe uma entrada que é totalmente verdadeira. Também isto pode ser mentira./ O que sabemos é que não existe nenhuma realidade factual, que as coisas são muito mais aquilo que sentimos do que aquilo que realmente aconteceu. O conteúdo da mentira ou da história, o seu caroço, é uma rquétipo, e contém tanta verdade como qualquerr símbolo pode conter... / Outra evidência, ao ler a Enciclopédia, é que o homem não é uma unidade (constatação que faz parte de algumas entradas), mas uma multiplicidade, um conjunto de personagens e personalidades, um conjunto de ideias tantas vezes contraditórias. Achamos que pensamos de certa maneira, mas temos, todos nós, opiniõe~s contrárias àquelas que julgamis serem as nossas. Somos, como disse Agostinho, um mistério para nós mesmos. Somos todos fracturados, como Pessoa, só que mais exagerados."
Afonso Cruz, Enciclopédia da Estória Universal

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

a república em torres novas

Exposição e catálogo organizado(a) pelo Museu Municipal Carlos Reis, de Torres Novas. A exposição tem documentação essencialmente oriunda de fundos privados.


I
Referências da Proclamação da República em Torres Novas
II
Torres Novas e o Centenário do 5 de Outubro - Catálogo
III
Os Rostos do 5 de Outubro
Ruy de Bivar Pinto Lopes, Pedro Gorjão Maia Salazar, Augusto Moita de Deus, Francisco Antunes dos Santos Trincão, José Lopes dos Santos, Manuel Simões Serôdio, Manuel Simões Serôdio, António Pinto de Magalhães e Almeida, Manuel Antunes Grácio e José Antunes Grácio, Sebastião Dantas de Souza BarachoJosé Luiz dos Santos Moita, José Maria Dantas de Sousa Baracho Junior
IV
Extra-Catálogo
Objectos, Jornais, Cartazes e Iconografia, Selos, Documentos



carlos pinto coelho na última entrevista à rtpn

a minha homenagem a um defensor e a um divulgador do livro! o seu programa "acontece" durou nove anos, caso único e imparável na divulgação do livro e da cultura portuguesa.

Artes & Espectáculos - Carlos Pinto Coelho na última entrevista à RTP - RTP Noticias, Vídeo

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

dos dias

a personagem feminina alice bergstrom do livro de paul auster "sunset park" lamenta que os homens do pós-guerra nada digam, enquanto que os da sua geração falam pelos cotovelos, impondo a si próprios e aos outros. é esta a ideia que fica. escrevo no fim do capítulo, no próprio livro o seguinte. do que se fala e do que se não fala, do que se diz e do que se não diz, nada se fala e nada se diz. onde ficar? há minha frente, o cliente habitual, leitor dos jornais, a falar de deus e da bíblia e da igreja com um atento ouvinte e paciente. ao fundo, umas meninas conversando e rindo, da vida, possivelmente, um só, que lancha pacatamente e animadamente, mais perto, uma senhora, que lia, não reparei na capa do livro nem no autor, duas, porque não, apesar de idades diferentes, conversam possivelmente também da vida, talvez a mais nova a ouvir algum conselho, quem sabe, e ao meu lado, uma menina folheando já nervosamente uma revista, possivelmente há espera da vida, que não chega. onde ficamos? ao fundo, pausas. no essencial? de deus, da vida, o essencial. e hoje, julgo já que ontem, ou ante-ontem, chegou ao museu a "revista de história da biblioteca nacional", do rio de janeiro. tema de capa: as profecias. claro, lá tinha que falar do nosso p. antónio vieira. dois textos sobre a implantação da república portuguesa: um exclusivo e dedicado a bernardino machado. apesar de não falar do museu, foca o endereço on-line. já não é mau. pode ter o seu autor, caio boschi, algumas afirmações que não se coadnuem à verdade. como esta: dizer que bernardino machado não participou na "articulação política" do ideário republicano. é um erro! e depois nem sequer evidenciou o facto da dupla nacionalidade de bernardino machado: carioca sim, mas cidadão português, registando-se na câmara municipal de vila nova de famalicão aos 21 anos. cidadão brasileiro e cidadão português. monárquico e republicano. as polémicas de sempre. fora destas polémicas, vale a pena ler este depoimento do próprio machado: mais do que duplicidade, a unicidade. palavras retiradas da sua conferência no centro democrático de lisboa, em 4 de agosto de 1906, abrindo a campanha eleitoral. encontra-se no livro "o neo-liberalismo da monarquia".

"Vim da monarquia. Não solicitei do Partido Republicano nada, nem a inscrição do meu nome nos seus cadastros; mas tanto me identifiquei com ele, que todas as considerações ele me tem dispensado, até me elevar ultimamente à suprema dignidade de membro do seu directório. E não precisei para isso de quebrar a minha personalidade moral por quaisquer complacência. Continuo a ser o que sempre fui, um homem de ordem, de paz, a quem repugnam todas as violências, que quer o respeito de todos os direitos, e respeita no fundo de todos eles o direito de viver, mas decidido a caminhar sempre e ir sempre para a frente, custe o que custar, sem ódios, sem ameaças, mas também sem desfalecimentos, inexoravelmente, até à última extremidade aonde seja necessário ir para defender a liberdade, porque só ela é a ordem, a paz e a segurança de todos os direitos. Eu que, em monárquico, combati tantas vezes não só os meus adversários monárquicos, ams também os meus próprios correligionários e até colegas meus do ministério, eu que me esforço por ser bom, mas não à custa da minha independência, nem à custa de ninguém... eu não estou passivamente dentro do Partido Republicano, deixando-me arrastar pela onda que passa, eu luto e lutarei sempre dentro dele, contra o mal - que, seja quais forem as formas que revista, é sempre a ditadura, o desmancho dos chefes - porque não é só na sociedade portuguesa que os dirigentes valem muito mais que os dirigidos, também no Partido Republicano, apesar de todo o meu apreço por tantos seus dirigentes, que são os grande smestres da democracia, as virtudes cívicas brilham para mim sobretudo no povo republicano. A superioridade mesmo do nosso partido vem disso, de ser o único partido do povo."




ainda falta escrever um texto sobre o seu ideário republicano, entre o positivismo e o utilitarismo para o ideal de cooperação social na busca prometaica. na monarquia liberal, conservador liberal ou liberal conservador e, perante a fase preliminar da adesão ao republicanismo, a indecisão socialista. no republicanismo, um dos seus teóricos principais. muitas vezes, hoje não se fala do que se deve falar, há palavras fantasmas que vagueiam pelo ar, repletas de futilidades, sem nexo. do essencial não palavras.