quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

dos dias

a personagem feminina alice bergstrom do livro de paul auster "sunset park" lamenta que os homens do pós-guerra nada digam, enquanto que os da sua geração falam pelos cotovelos, impondo a si próprios e aos outros. é esta a ideia que fica. escrevo no fim do capítulo, no próprio livro o seguinte. do que se fala e do que se não fala, do que se diz e do que se não diz, nada se fala e nada se diz. onde ficar? há minha frente, o cliente habitual, leitor dos jornais, a falar de deus e da bíblia e da igreja com um atento ouvinte e paciente. ao fundo, umas meninas conversando e rindo, da vida, possivelmente, um só, que lancha pacatamente e animadamente, mais perto, uma senhora, que lia, não reparei na capa do livro nem no autor, duas, porque não, apesar de idades diferentes, conversam possivelmente também da vida, talvez a mais nova a ouvir algum conselho, quem sabe, e ao meu lado, uma menina folheando já nervosamente uma revista, possivelmente há espera da vida, que não chega. onde ficamos? ao fundo, pausas. no essencial? de deus, da vida, o essencial. e hoje, julgo já que ontem, ou ante-ontem, chegou ao museu a "revista de história da biblioteca nacional", do rio de janeiro. tema de capa: as profecias. claro, lá tinha que falar do nosso p. antónio vieira. dois textos sobre a implantação da república portuguesa: um exclusivo e dedicado a bernardino machado. apesar de não falar do museu, foca o endereço on-line. já não é mau. pode ter o seu autor, caio boschi, algumas afirmações que não se coadnuem à verdade. como esta: dizer que bernardino machado não participou na "articulação política" do ideário republicano. é um erro! e depois nem sequer evidenciou o facto da dupla nacionalidade de bernardino machado: carioca sim, mas cidadão português, registando-se na câmara municipal de vila nova de famalicão aos 21 anos. cidadão brasileiro e cidadão português. monárquico e republicano. as polémicas de sempre. fora destas polémicas, vale a pena ler este depoimento do próprio machado: mais do que duplicidade, a unicidade. palavras retiradas da sua conferência no centro democrático de lisboa, em 4 de agosto de 1906, abrindo a campanha eleitoral. encontra-se no livro "o neo-liberalismo da monarquia".

"Vim da monarquia. Não solicitei do Partido Republicano nada, nem a inscrição do meu nome nos seus cadastros; mas tanto me identifiquei com ele, que todas as considerações ele me tem dispensado, até me elevar ultimamente à suprema dignidade de membro do seu directório. E não precisei para isso de quebrar a minha personalidade moral por quaisquer complacência. Continuo a ser o que sempre fui, um homem de ordem, de paz, a quem repugnam todas as violências, que quer o respeito de todos os direitos, e respeita no fundo de todos eles o direito de viver, mas decidido a caminhar sempre e ir sempre para a frente, custe o que custar, sem ódios, sem ameaças, mas também sem desfalecimentos, inexoravelmente, até à última extremidade aonde seja necessário ir para defender a liberdade, porque só ela é a ordem, a paz e a segurança de todos os direitos. Eu que, em monárquico, combati tantas vezes não só os meus adversários monárquicos, ams também os meus próprios correligionários e até colegas meus do ministério, eu que me esforço por ser bom, mas não à custa da minha independência, nem à custa de ninguém... eu não estou passivamente dentro do Partido Republicano, deixando-me arrastar pela onda que passa, eu luto e lutarei sempre dentro dele, contra o mal - que, seja quais forem as formas que revista, é sempre a ditadura, o desmancho dos chefes - porque não é só na sociedade portuguesa que os dirigentes valem muito mais que os dirigidos, também no Partido Republicano, apesar de todo o meu apreço por tantos seus dirigentes, que são os grande smestres da democracia, as virtudes cívicas brilham para mim sobretudo no povo republicano. A superioridade mesmo do nosso partido vem disso, de ser o único partido do povo."




ainda falta escrever um texto sobre o seu ideário republicano, entre o positivismo e o utilitarismo para o ideal de cooperação social na busca prometaica. na monarquia liberal, conservador liberal ou liberal conservador e, perante a fase preliminar da adesão ao republicanismo, a indecisão socialista. no republicanismo, um dos seus teóricos principais. muitas vezes, hoje não se fala do que se deve falar, há palavras fantasmas que vagueiam pelo ar, repletas de futilidades, sem nexo. do essencial não palavras.











Aurelino Costa e Victorino D'Almeida Parte 1/2