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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

de afonso cruz, o mundo





ficamos sempre na expectativa com o título. só que o título é um pequeno nada quando se lê esta história, o último livro do escritor português afonso cruz, e que se chama "o pintor debaixo do lava-loiças". entre o que poderá ser a realidade, o espaço geográfico do mundo do pintor josef soers, isto é, ivan soers, e o espaço geográfico da infância do escritor afonso cruz, há um ponto em comum: a estética. se em ivan soers nos surgem reflexões estéticas à volta do que poderá ser a arte, em afonso cruz, através da personagem wilhelm, surgem-nos reflexões sobre o que poedrá ser a literatura. se logo no início nos surge a justificação desta história, na medida em que "as histórias não podem ser engarrafadas sem que se estraguem rapidamente", até porque elas "têm de andar ao ar livre como os animais selvagens", o que se deve fazer com as histórias é que "temos de as soltar para que possam correr todas nuas, digamos, libertas, sem preconceitos"; e, para além das reflexões estético-literárias, perante a ironia e o humor, afonso cruz oferece-nos reflexões éticas e existenciais, seja sobre o amor, a guerra, a morte, a interioridade do humano, sobre o tempo, transmite-nos uma ideia de portugalidade, enfim, a transcendência do mundo em nós, melhor, aquela in-transcendência para além daquele projecto de soers e que se chamava "museu das coisas inúteis". neste livro nada é inútil. há frases e pensamentos que podemos não concordar com eles, mas, como soers, reinventa-se o mundo, nós mesmos podemos reinventar e redesenhar esteticamente o mundo em nós para sermos outros nele. na mensagem de soers-cruz, de que "a felicidade é quando nos esquecemos da infelicidade em que vivemos", vai precisamente ao encontro do que acabo de dizer. reproduzo num pequeno filme a capa e três desenhos de afonso cruz, com a sua devida permissão, outra riqueza deste livro, cheio de olhos, abertos e fechados, para vermos melhor o mundo, diga-se, a escrita enquanto mundo de uma in-transcendência que se eleva.




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

portuguesia 5.ª edição



"A diferença é dizer, é revelar, é haurir o tesouro da eloquência a riqueza da palavra."


"Grande há ser o merecimento da poesia, personalizada, deixem dizer assim, no poeta para resistir à negligência sisuda dos que, fartos das suas, prescindem de assistir às lástimas alheias! Esse grande merecimento há-de consistir em três preciosas qualidades: primor da linguagem, conhecimento do coração, e elevada filosofia, tão elevada filosofia, tão elavada que a personalidade do autor desapareça nela, e fique a humanidade."


Camilo, O Nacional, 1856




PORTUGUESIA


FESTA DA POESIA DE LÍNGUAS PORTUGUESAS E ESPANHOLAS


5.ª EDIÇÃO


3 SETEMBRO 2011


CASA-MUSEU CAMILO CASTELO BRANCO


S. MIGUEL DE SEIDE


VILA NOVA DE FAMALICÃO




O autor do projecto desta festa da poesia lusófona, agora voltada para a língua espanhola, é wilmar silva, tendo como curadores o próprio wilmar e luís serguilha. tem o apoio da câmara municipal de vila nova de famalicão e da casa-museu de camilo castelo branco-centro de estudos camilianos, com poetas, artistas e ensaístas convidados do brasil, da espanha, da finlândia, do méxico, de moçambique e de portugal.






abertura


arq. armindo costa, presidente da câmara municipal de vila nova de famalicão


apresentação "portuguesia" por wilmar silva e luís serguilha




09h30


audição instalação "tropofonia"


a lírica de camilo castelo branco


jardins da casa de camilo




10h30


perfomances "guesas livres"


com carlos vinagre, luísa raposo, maria elisa ribeiro, rita dahl




11h30


provocação a poesia em transe: transversalização


medulas de diálogo: imersão e emersão da palavra


com amadeu gonçalves, marília lopes e sara canelhas


provocador: josé pego




12h45


perfomance "guesas livres"


com elza ramos amaral, francesco napoli, jorge melícias, jorge velhote




15h00


perfomance "guesas livres"


com joão rasteiro, camila vardarac, olga valeska, victor sosa




15h45


provocação a poesia em transe: imaginários de resistência


medulas de diálogo: koa`e de luís serguilha


com luís serguilha


provocador victor sosa




16h45


perfomance "guesas livres"


com beatriz ramos do amaral, carlos poças falcão, domingos mazzilli, ignacio martínez-castignani




17h30


provocação a poesia em transe: des-territorialização da língua


medulas de diálogo: geografias, línguas, linguagens


com josé manuel mendes, graça capinha, helena vasconcelos


provocador paulo nogueira




19h15


perfomance "guesas livres"


com camila buzelin, delmar gonçalves, gisela gracias ramos rosa, tábata morelo




20h00


exposição e leitura cartas de amor enviadas a camilo


com regina melo




20h30


liberdade livre







quarta-feira, 27 de julho de 2011

antónio pina

o dito do não dito, o invisível que é visível em nós


no mundo no outro




O Livro dos Saberes Práticos





O livro



E quando chegares à dura

pedra de mármore não digas: «Água, água!»,

porque se encontraste o que procuravas

perdeste-o e não começou ainda a tua procura;

e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras

pois é tudo o que tens: literatura,

nem sequer mistério, nem sequer sentido,

apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.



Não tenhas contra ele o coração endurecido,

aquilo que podes saber está noutro sítio.

O que o livro diz é não dito,

como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

romantismo(s)

para yoli, docemente




... cantava o amor que se aperfeiçoa pela morte, o Amor que não morre nem no túmulo."


Oscar Wilde




O primeiro livro que o "Diário de Notícias" oferece aos seus leitores, na sua colecção anual (e que já vem desde o ano 2000, suponho), é de contos que intitulou "Românticos". Tem textos de Oscar Wilde ("O Rouxinol e a Rosa"), de Guy de Maupasant ("De Viagem"), de Anton Tchekov ("Amor"), de Rainer Maria Rilke ("A Fuga") e, finalmente, de Aldous Huxley ("Hubert e Minnie"). Se no primeiro conto nos deparamos com o amor platónico não ideal, mas real, se no segundo temos o amor como compaixão e de resignação, o amor de agradecimento, no terceiro o amor mistério prático, que de mistério nada tem, porque se prevê no futuro, o amor da ignorância porque simplesmente se ama, digamos, o amor da indiferença conjugal, no quarto conto o amor-traição feito esperança, parecendo recair a culpabilidade nos outros, mas recaindo no próprio ser humano pela não responsabilidade, o último é o corolário de todos os outros, porque será, precisamente, no amor imaginário que não se concretiza na prática, a idealização metafísica do próprio amor que não se concretiza e não se materializa. Mas a personagem que a todos deve encantar e fascinar é, indiscutivelmente, o rouxinol, o qual, num acto de doação caritativa pela possível pureza amorosa do estudante, doa a sua própria vida, para que o estudante consiga o seu amor, que é, simplesmente, frustrado. Amor imaginativo no real não correspondido, nem sequer foi experiência vivencial, como em Hubert, o qual, perante a realidade, fugiu, temendo Eros no momento da entrega. As desculpabilidades do humano são sempre muitas. Neste exemplo, o do estudante, como poderia ele perceber as palavras do rouxinol no seu acto doativo, se nunca teve, pelo menos, a experiência vivencial do encontro? Veja-se a simplicidade com que Oscar Wilde nos transmite sobre aquilo que poderá ser a pureza do amor, nessa dupla entrega unitária: "A única recompensa que te peço é que sejas um amante fiel, pois o Amor é mais sábio que a Filosofia, por mais sábia que esta seja; e é mais forte do que o poder, por mais poderosos que este seja. Tem asas de fogo, e cor de fogo tem o seu corpo. Há uma doçura de mel nos seus lábios e o seu hálito lembra o incenso." O estudante, que não percebeu nada destas palavras, resigna-se, desconfiando da boa-vontade do amável rouxinol. Quando conseguiu a rosa vermelha para o estudante, e este lá foi oferecer à sua amada para conseguir a dança e os seus sorrisos e os seus afectos, esta já tinha materializado o amor num outro pretendente, não corporalmente feito Eros, mandando o estudante às favas. O amor idealizado é o amor da ilusão. Comenta o estudante: "Que coisa estúpida é o Amor. De nada serve a lógica, porque nada prova: conta-nos sempre coisas que nunca sucederão e faz-nos acreditar em coisas que não são verdadeiras. Na realidade, não tem nada de prático, e nos tempos que correm, ser prático é tudo.Voltarei à Filosofia e estudarei Metafísica." Terá simplesmente uma vida estúpida, porque a Filosofia e a Metafísica com o Amor ainda saberão melhor! O amor na esperança. O amor será, precisamente, todo o contrário das suposições do estudante, porque a idealização metafísica do amor pela literatura (Hubert) será o fracasso perante a realidade. Camilo nos explifica isto mesmo em muitos dos seus romances. O amor de nada estúpido é, o amor não precisa da lógica e da racionalidade, é como é, desabrocha, os acontecimentos sucedem-se maravilhosamente, é prático porque vivencial no encontro e ainda podemos acreditar.

domingo, 3 de julho de 2011

castelao

para yoli, docemente




A Associaçom Galega da Língua, denominada AGAL, republicou no ano passado o livro de Castelao "Sempre em Galiza" numa edição portuguesa. A AGAL é uma associação sem fins lucrativos legalmente constituída em 1981, (faz este ano precisamente 30 anos) tem como um dos seus objectivos principais a dinamização plena da língua do galego-português da Galiza e a sua reintegração no âmbito linguístico a que historicamebnte pertence. o galego-luso-brasileiro. Ao mesmo tempo da republicação do livro de Castelao numa edição portuguesa, a AGAL publicou as "Sete Achegas a Castelao e ao Sempre em Galiza". Diz-nos Miguel R. Penas, Vice-Presidente da AGAL e director da Através Editora, a marca editorial da respectiva associação galega, que o Sempre em Galiza "é um dos alicerces ideológicos em que se apoiou o nacionalismo galego para se reconstituir após a barbárie fascista que comemçou no ano de 1936... É um livro fundamental para conhecer a Galiza, para nos aproximar do nosso país e da sua História e para sermos capazes de interpretar o porquê dum movkimento como o nacionalismo galego, o galeguismo político, que tem umas características próprias e que promove desde há quase cem anos a concepção da Galiza como uma colectividade nacional, como uma nação."






RODRÍGUEZ CASTELAO, Alfonso Daniel Manuel

Sempre em Galiza. Alfonso Daniel Manuel Rodríguez Castelao; Versão em língua portuguesa Fernando Vasquez Corredoira; Coord. editorial Miguel R. Penas, Alexandre Banhos; Glossário Fernando Vasquez Corredoira; Notas Ernesto Vasquez Sousa, Fernando Vasquez Corredoira. [S. l.]: Associaçom Galega da Língua, Através Editora, 2010. 580 p.






Fernando V. Corredoira - "Prefácio à Versão em Língua Portuguesa do Sempre em Galiza"

Camilo Nogueira - "A Rota do Sol"

Francisco Rodríguez - "Portugal e Nós"

X. M. Beiras - "Castelao e a Economia Galega"

Margarita Ledo - "Castelao Como mediação"

Encarna Otero - "Sempre na Galiza: leitura obrigada"

Luis G. ´Foz` - Castelao, Portugal e a Independência"











sexta-feira, 1 de julho de 2011

revista de portugal





Amadeu Gonçalves - "Literatura & Imprensa: do local ao global". In Boletim Cultural. V. N. de Famalicão, 3.ª série, n.º 2 (2006), p. 136





Público/P2 (1 Jul. 2011).









segunda-feira, 27 de junho de 2011

revisitar uma polémica literária teixeira de pascoaes e júlio brandão em 1912



"Passada a euforia nefelibata, [Júlio] Brandão irá cultivar uma estética romântica, sentimental e folclorizante, sendo precisamente tal características que irá induzir o nosso autor no afastamento da literatura portuguesa, imbuíndo Brandão, na sua caminhada de publicista, para um espírito lusitanista, voitalista e saudosista. Melhor explicando, Brandão ao revalorizar e ao memorializar o simbolismo e o nefelibatismo nota-se uma espécie de individualismo mítico, até porque a memorialização do seu tempo inicial de escritor / poeta revela que não está particularmente interessado com as mutações do seu momento presente histórico [...] Será, então, a partir deste momento que se nota de facto um afastamento do nosso autor relativamente à evolução estético-literária da cultura portuguesa..., passando pela Renaswcença Portuguesa, apesar de ter colaborado no seu órgão oficial "A Águia", assim como na sua antecedente "A Rajada", pelo modernismo e "Orfeu" até ao movimento dos seareiros e até mesmo pelos presencistas. Daqui o seu conflito pessoal, jamais literário, com Teixeira de Pascoaes, este de maior valia literária." (135-136).


Amadeu Gonçalves - "Literatura & Imprensa: do local ao global". In Boletim Cultural. V. N. de Famalicão, 3.ª série, n.º 2 (2006), pp. 121-144.




Amadeu Gonçalves - "Júlio Brandão e Teixeira de Pascoaes". In Opinião Pública. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 26 (5 Fev. 1991), p. 12.



Participa Júlio Brandão no Inquérito Literário promovido por Boavida Portugal e inicia a sua polémica com Teixeira de Pascoaes.

INQUÉRITO LITERÁRIO.
Inquérito literário. Org. Boavida Portugal. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1915.
«O Snr Julio Brandão diz não vêr correntes literárias que não se tenham há muito observado», pp. 94-99. (1)

Passa-se isto em 1912. Um redactor do jornal República promove um inquérito à vida literária portuguesa e consulta os nossos intelectuais mais representativos, desde Júlio de Matos e Gomes Leal até a jovens como Vila Moura e Augusto de Castro. Boavida Portugal, o autor da iniciativa, não lhe avaliando as consequências, desencadeia uma torrente caudalosa de réplicas e comentários de quanto escritor se achou molestado na suas obras pelos inquiridos. A lista dos esclarecimentos e queixas é imensa![1]


[1] António Manuel Couto Viana – “Júlio Brandão”. In As (e)vocações literárias: estudos & memórias. Lisboa: [s. n.], 1980, pp. 176-180.







O sr. dr. Teixeira de Pascoaes[1]

Diz que a poesia religiosa da Raça é
o primeiro sinal do seu renascimento


Há nomes que naturalmente ocorrem ao debater-se determinado assunto. Assim, num inquérito à vida literária portuguesa, o nome do sr. dr. Teixeira de Pascoaes, não só como poeta, mas, sobretudo, como director da revista-órgão da Renascença Portuguesa A Águia, impunha-se naturalmente.
Depois, como um dos quesitos do inquérito indaga, ainda, da existência e orientação da renascença literária em Portugal, devíamos, naturalmente, ouvir alguém que a representasse oficialmente e ninguém mais competente do que aquele que é considerado chefe dos renascentes.
Foi-nos impossível consultar pessoalmente, acerca deste inquérito, o sr. dr. Teixeira de Pascoaes.
O ilustre autor do Sombras, concordando plenamente connosco, no modo de ver a respeito da responsabilidade dos intelectuais chamados a fazer afirmações perante o seu país, escreveu-nos a seguinte carta:

Meu bom amigo: acerca das perguntas que me faz sobre o movimento literário do país, envio-lhe as seguintes ligeiras e incompletas considerações. Espero que me perdoe o seu nulo valor e falta de interesse crítico, e peço-lhe que tome estas minhas palavras apenas como um desejo de satisfazer o seu amável pedido. O assunto proposto exige demorada atenção e longo trabalho; e isso não me é possível num momento em que o meu espírito anda tão preocupado com outras coisas, entre as quais a revisão e aperfeiçoamento dos meus livros já publicados, cuja próxima segunda edição pertencerá à «Renascença Portuguesa». Direi, de passagem, que o meu pensamento poético desenvolveu-se em mim com tal rapidez que, para não lhe ficar atrás, tive de o exteriorizar em livros escritos à pressa. Compreende-se, portanto, a necessidade de corrigir e aperfeiçoar a minha obra, que já consta de dez volumes compostos e publicados num período de onze anos. Só peço a Deus saúde e tempo para conseguir este maior desejo da minha vida, a única razão da minha vida. O amor que dedico à minha obra não é somente um amor paterno. Amo-a, porque estou convencido de que ela deu ao espírito português alguma coisa que lhe faltava.
Eis o que lhe posso responder à pergunta que me fez acerca do meu papel na literatura contemporânea. E já disse o bastante para ofender a minha repugnância em falar de mim e esse aspecto mais simpático da Caridade – que se chama Modéstia.
Na época actual, pertence à Poesia o lugar mais alto na nossa literatura. Não digo isto por causa da minha pessoa, que pode ser posta de parte sem que se torne sensível a sua falta. Nem quero mesmo referir-me aos dois maiores poetas europeus – Guerra Junqueiro e Gomes Leal.
Basta-me falar de António Correia de Oliveira, Jaime Cortesão, Afonso Lopes Vieira, Mário Beirão, Augusto Casimiro, Afonso Duarte, e, depois destes, dos novíssimos poetas, Carlos de Oliveira, Augusto Santa Rita, Afonso Mota Guedes. Eis uma vasta seara espiritual dadivosa e prometedora dos mais belos frutos. Estes poetas criaram em Portugal uma poesia profundamente portuguesa e original. Eles bebem a sua inspiração no mais íntimo veio religioso da alma lusitana, criadora da Saudade, a Virgem do Desejo e da Lembrança, nascida do casamento do Paganismo com o Cristianismo.
Os seus versos são feitos de luz do sol e de lágrimas, de terra e céu, de beijos e de preces, de sombras e claridades. É a poesia religiosa da Raça o primeiro sinal do seu renascimento. Quando a alma de um Povo está para criar uma nova primavera espiritual, a Poesia é a primeira flor que aparece.
Mas este religioso sentimento lusitano já se tornou consciência e sabedoria e filosofia nesse poderosíssimo cérebro de Leonardo Coimbra. O seu livro intitulado O Criacionismo demonstra isto admiravelmente. Basta lê-lo com inteligência e amor. Escusado insistir no que esta obra representa para a desejada civilização portuguesa. Outras tendências há na actual poesia portuguesa; mas eu não posso concordar com elas porque são estrangeiras para a nossa alma. Últimos vestígios do estrangeirismo que caracterizou o período da decadência.
Quanto ao Romance, conheço, pelo menos, alguns seus representantes de grande merecimento: Raúl Brandão, Antero de Figueiredo, Vila Moura, António Patrício, Malheiro Dias, Sousa Costa, Veiga Simões, João Grave e Justino de Montalvão. Os nossos prosadores sãoa dmiráveis artistas, mas precisam de criar um alto pensamento lusitano que organize e oriente a sua obra.
Quanto ao Teatro... imagino que, depois de Gil Vicente e Garrett, é coisa que não existe em Portugal. O português é muito espontâneo e sincero. A sua arte dá-se imediatamente ao leitor, sem intérpretes; e, quando tenta adaptar-se à representação e ao cenário artificial, desfalece e vulgariza-se. Além disso, o português vive pouco dentro da alma humana; a sua vida dispersa-se pela natureza, a sua dor é mais feita das lágrimas das coisas, recebe-a mais do exterior que dos íntimos sobressaltos do espírito.
A Espanha é a terra natal do Drama. Portugal a terra natal da Elegia, esse drama feito nuvem. A elegia é divina e voa para as estrelas; o drama é humano e desce aos abismos sepulcrais. A elegia é o próprio olhar da saudade, isto é, do nosso espírito que se lembra do céu de onde veio, e por isso, deseja regressar à pátria natal. A elegia é a forma divina do Lirismo Português, é a nossa alma religiosa envolta em luar de morte e crepúsculos de ante-manhãs de vida...O drama é o olhar dos homens, afogado em lágrimas, enevoado de torvos desesperos; é a vida animal contrariada pela própria dolorosa contingência. A terra de Portugal é elegíaca e divina e, portanto, eternamente hostil à terra espanhola.

[1] Ibidem, pp. 28-32.




Teixeira de Pascoaes - "A Renascença Portuguesa e um Inquérito Literário". In O Mundo. Lisboa, Ano 13, n.º 4334 (30 Set. 1912), p. 2.







O sr. Júlio Brandão

Diz não ver correntes literárias que
não se tenham há muito observado

Ao contrário do que toda a gente se tem permitido manifestar, nós não procuramos somente os críticos, nem exclusivamente os literatos, para esclarecer a situação da literatura portuguesa contemporânea.
São novos e velhos, críticos e não críticos, prosadores, poetas, dramaturgos, romancistas, etc., etc., que vêm dizer de si e do que através das suas especialidades eles vêm na república das letras.
Só assim se conseguirá esclarecer o assunto.
O sr. Júlio Brandão, que é um literato por demais conhecido no nosso meio, foi justamente chamado a depor neste inquérito.
A interessante carta que nos enviou põe-nos diante dos olhos mais uma nova fase do prisma que todos andamos a espreitar amorosamente, desde o começo da publicação deste inquérito. Ei-la:



Meu prezado colega: só hoje me é possível responder ao seu amável convite, em globo, e muito atabalhoadamente. Perdoe-me!
Parece-me que a nossa literatura continua a ser acentuadamente subjectiva e lírica; nós somos um povo de poetas, meu amigo, e de poetas amorosas. Somos capazes de todos os heroísmos – tendo uma estrela a alumiar-nos.
À parte certas alterações formais, na essência não vejo nada de novo, nas diversas manifestações literárias. Não observo correntes, que se não tivessem há muito observado.
A poesia moderna tem, na realidade, cultores notáveis; é variada e rica – precisamente porque cada um, dos bons, bebe pelo seu copo. Não vejo que se tenha criado nenhuma nova poesia; vejo poetas diferentes, cada um com o seu temperamento e a sua arte. E como a nossa poesia é lírica, os poetas sinceros, arrancando os seus poemas da sua mais profunda sensibilidade, têm de ser pessoais e portugueses...
E veja: os romancistas que melhor exprimiram o sentir português foram Júlio Dinis e Camilo; e as novelas que têm alcançado êxito são as que se entretecem de aventura apaixonada, ou que vibram de lirismo, de elegia, de piedade.
O nosso mais notável novelista moderna é, para mim, D. João de Castro; creio até que será o nosso único novelista actual; os outros, e alguns de talento, são romancistas.
A diferença, para mim, de novela e romance é a que existe entre os processos de Camilo e de Eça de Queirós, para não sair de Portugal.
Quer dizer de teatro? Parece-me evidentemente em decadência. Guerra Junqueiro, quando frisou a diferença entre o povo espanhol, intensamente dramático, e o português, vascularmente elegíaco, indicou naturalmente a razão porque o nosso teatro tem apenas lampejos efémeros. A última revivescência foi-lhe dada, triunfalmente, por Henrique Lopes de Mendonça. O Duque de Viseu marca época no teatro português.
Além deste escritor insigne, e não falando nos deliciosos idílios de D. João da Câmara, tão nossos Júlio Dantas, Marcelino Mesquita e Afonso Lopes Vieira hão-de continuar a enriquecer a nossa literatura dramática.
... Mas, afinal, quando serão proibidos os cinematógrafos?
Deixei de propósito para último lugar o caso do renascimento literário entre nós – e quem o representa. Era o ponto burlesco.
É certo que existe uma taboleta «Renascença», com uma revista pendurada; mas tudo isso me parece uma patuscada de vaudeville. Não quer isto dizer que não colaborem nesse grupo homens de real talento; mas que fazem eles renascer? Não, a Renascença é uma filarmónica, ou melhor, uma cooperativa em que o sócio-gerente, o impagável Pascoaes, entrelaça na fonte de Ária e de Semita os loiros do maior génio europeu contemporâneo. Ele afirma-o, e a rapaziada mais nova acredita-o sob a palavra de honra de Pascoaes.
Um movimento dirigido por ele – «para orientar as classes mais cultas» – é uma coisa imprevista de audácia e de estupidez. As classes mais cultas! O sr. Pascoaes é uma bexiga de porco, a rebentar de vaidade – e afectando modéstia, bondade, ternura ariana. Na essência é um tartufo. É um Budasinho que usasse navalha de ponta e mola. De uma ignorância e de uma abundância poética flitiva. É ver as baboseiras que escreve, em prosa de colegial; é ver as suas notas de crítica – em que, nas entrelinhas pelo menos, ele é sempre o Supremo Génio, o mais profundo filósofo contemporâneo.
Os versos deste ária misturado de semita são de uma arte pobríssima, sem o menor equilíbrio estético – aqui e ali com trechos líricos felizes, mas que ele embrulha em longas tiradas do Rosalino Cândido. E sempre o mesmo Saudosismo – que não é o de Garrett, porque Garrett é um asno, mas é o da Raça, do ária e do semita, que deu a Virgem Maria e Vénus, o cristianismo e o paganismo. O que ele sabe de raças! Faz vertigens!
Além disso, Pascoaes, de vez em quando, diz ao orbe estupefacto o que se salvará no oceano das idades, das letras portuguesas. Quer saber? São dois sonetos de Antero; o episódio do Adamastor; uma das cartas de Soror Mariana; a oração à Luz, de Junqueiro, e pouco mais, à parte a obra dele, Pascoaes, que o digno homem está a refundir em Amarante, para lhe arrancar tudo que não seja dos árias ou dos semitas, da raça portuguesa... Que lhe parece o pândego?...
Aquela Oração à Luz é, de resto, uma generosidade do ária. É claro que Pascoaes, desde os tempos do franquismo, que tãoa rdentemente amou, não simpatiza com o grande Poeta; mas, desde que Pascoaes apareceu republicano... histórico, quis ser mãos largas com o autor da Pátria: aplaude-lhe a Oração à Luz: corre a salvá-la!
Mas porque é que os Simples se não podem integrar nos árias? Não, não! Pascoaes não permite. Mas porque é que João de Deus é sempre maltratado, o divino poeta, nas baboseiras vergonhosas que bolsa o sr. Pascoaes? Mas porque é que os poetas novos do talento de Manuel da Silva Gaio, de Eugénio de Castro, de João de Barros, de Augusto Gil, de Guedes Teixeira, não falando em mim, é claro, que sou réprobo, em muitos outros anteriores, e em vários rapazes que se têm revelado brilhantemente, não podem ser descendentes dos Árias e dos Semitas? É que o sr. Pascoaes não gostam que lhe chamem mistificador; não lhe convém que, assim como gritaram ao velho rei no conto de Andersen, « que ele ia nú», que digam também, entre um coro de aplausos ingénuos ou inconscientes, que o sr. Pascoaes é um subalterno a armar ao efeito – ou um caso de manicómio. Não quer que lhe rebentem a bexiga de porco.
Terminando: a Renascença não existe; existe a Águia. É claro que serão sempre belas as coisas belas que lá forem escritas – que servem para amparar no seu trono de papelão, por pouco tempo, o pateta de revista de ano que a dirige.
E sabem quem são, entre outros, os criadores da Renascença? Os srs. Carlos de Oliveira, Augusto Santa Rita, Afonso Mota Guedes.
João de Deus e Garrett nada representam na raça. Representam aqueles!
Bom, já escrevemos demais – e convém esperar um pouco, visto que o homem está a rever a sua Obra – a maior da Europa.
Porque aquilo de chamar a Junqueiro e a Gomes Leal poetas europeus, leva água no bico... Seria até um caso de psicologia que eu desfiaria gora, e que seria divertidíssimo.
Mas já tenho abusado, não é verdade?









Júlio Brandão - "Polémica Literária". In O Mundo. Lisboa, Ano 13, n.º 4356 (23 Out. 1912), p. 3.
















terça-feira, 14 de junho de 2011

camilo e a literatura



Anátema. Pref., sel. e notas de Alexandre Cabral. Lisboa: Círculo de Leitores, 1981



“Não queremos enviesar apontoados de palavras eufónicas ao avelhado véu de mistérios com que por aí se enroupa o romance chamado da época. Filho legítimo da literatura palpitante de actualidade chamam-lhe uns: outros dizem que não é nada, ou por muito favor – uma ginástica de contorções dificultosas de estilo, opulenta de pontinhos, e ahs! E ohs!
Não subscrevemos a alguma das opiniões.
A primeira é um revoltante empirismo da ciência, pavoneando-se como o arlequim cintilante de lantejoulas. Tem de seu uma prodigiosa colecção de palavras elásticas até o infinito das reticências. O que escreve, magnetiza a inteligência do que lê, e manda-o adivinhar. Os temperamentos de nervoso afinadíssimo, à custa de grandes cargas de electricidade, vergam ao sonambulismo, e dormem com meia página do Judeu Errante no meio. A literatura, que palpita, está para a literatura que não palpita como menino de colégio, todo vibrante de viveza, que vem no sábado a casa perguntar ao bom pai:
- Mon père! Comment se port-t-il, bien?
O pai que é português, como uma página de frei bernardo de Brito, responde:
- Estou bem, louvado seja Deus.
Depois, o traquinas esperto e inquieto, cansado das carícias do pai, diz-lhe assim com uma indolência apaixonada:
- Je suis fâché... Je m`en vais jouer la cavatine en Torquate Tasse.
O pai aventura uma pergunta:
- Quem foi esse Torquato Tasso?
- Torquato Tasso... foi um poeta de aspirações etéreas, rico de estilo luxuriante, vivido de paixões ardidas e incisivas, estro inspirado do grandioso da arte, fadado para os séculos como o pregão de uma luta que se há travado no primitivo das crenças...
- Muito bem – interrompeu o pai. – Donde era Tasso, em que anos floresceu, e qual dos cantos do seu poema é o mais importante?
O palpitante menino (que já tinha escrito prosa em bíblico, e versos a uma mariposa) pede uma resposta à reminiscência, e esta dá-lhe o que pode: um trecho de uma revista semanal, em que o escritor analisando a ópera Torquato Tasso, escrevera assim: Da harmonia ressalta o pensamento: o pensamento, vibrado pelo impulso místico da arte, é como a harpa íntima de Tasso a modular tristezas. A dor e o rondó! A cavatina e o pranto! A demência e o alegro! A alma que se rasga, e a harmonia que se quebra, rápida e improvisa como o expirar do fulminado!...”
Estas palavras bem as decorara o colegial; mas isto, que muito vale não era resposta para um velho biógrafo, cronológico, e, diga-se o que é, sem palpitações de
actualidade!” (Introdução, 45-46)


“Se o estilo é o homem, como dizem os que sabem, não nos desaprovem este recurso de emparelhar o saber dos velhos com o dos novos.
Segunda opinião:
Dizem que o escrever de hoje é dessorado de erudição, leviano, vaporoso, ginástico, estridente, cabalístico, bafagem de brisa, balão aerostático, fogo chinês, vicejante, ondulante, estrepitoso e abismador!
Não é tudo assim.
Popularizada a literatura, era necessário despojá-la das alfaias graves e sinceras da ciência, trazê-la da profundeza da erudição à superfície das inteligências vulgares, e vesti-la do maravilhoso surpreendedor, já que o lógico verosímil é repelido da biblioteca da burguesa e do artista. Para captar a benevolência da leitora, precisava-se da história de uns amores trágicos, urgentes, e lamentosos. Para a do artista, cumpria ampliar-lhe a órbita do espírito apoucado, e humanitária da arte. O estilo devia ser exagerado como o pensamento: quimérico, híbrido, e mentiroso como todas as teorias, criadas no caos de todas as práticas.
Trabalho exclusivamente do coração, artimanha política, método civilizador, era aquele o único adaptado para cabeças sem cultura, sem sistema, prenhes de utopias e fumos de socialismo, como ele se escreve em jornais e romances. Criou-se, pois, uma escola militante. E o povo aplaude esses estereótipos baratos consagrados ao povo, entenda ou não entenda o que lê, possa ou não possa digerir o que entende.” (Introdução, 46-47)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

camilo, a literatura e a dimensão moral






Camilo Castelo Branco - Cenas da Foz. Lisboa: Círculo de Leitores, 1989.





“O romance tem cousa má!
É a primeira vez que os tipos perpetuam o invento escandaloso de um título sem texto! Um crítico francês anunciou um romance, que, em lugar de principiar pelo princípio, começava no segundo volume. O autor, respeitador do público, explicava o contra-senso, dizendo que os romances eram escritos de modo que tanto fazia ao caso começar do primeiro volume para diante, como do último para trás.
Isto é razoável e persuasivo. Porém, incoerências deste tamanho não se desculpam num romance pensado, filosófico, haurido das fontes do coração, da experiência, e feito expressamente para entrar em quinhão de glória com as Reflexões de Fócion, com o Manual de Epicteto, com os Enxertos Gnómicos de Séneca, com os Caracteres de la Bruyére, excelentes repositórios de filosofia prática, que eu hei-de ler na primeira ocasião, porque me dizem que são livros de muito interesse, que ensinam a procurar a felicidade, como agulha em palheiro, na pobreza, na humildade, e na virtude. Mestres desta ordem têm sempre uma vida eivada de amarguras: isso é o que eu posso desde já afirmar, sem os ter lido. Fôcion sofreu morte dolorosa. Séneca, preceptor de Nero, bem sabem que desastrado remate teve de vida. Epicteto é aquele escravo do Tesouro de Meninos, que exclama, erguendo a canela partida por uma paulada: «Não vos disse eu que ma havíeis de quebrar?» Donde infiro que os preceptores da felicidade andam sempre de candeias às avessas com o género humano, e muitas vezes com a arte de engranzar capítulos de romance, de modo que a história vá bem contada até ao fim, que deve ser onde casa o herói, ou a heroína morre de tubérculos, no uso de óleo de fígados de bacalhau.
João Júnior, sumamente penhorado pelas atenciosas maneiras com que os seus numerosos amigos tem recebido esta sua primogénita criatura, tem a honra de declarar ao público, e mais senhores, que o capítulo XIV foi eliminado deste quadro de costumes, porque havia nele frescura de ideias, fantasia de cores, debuxos copiados da natureza viva, cousas, enfim, tão verdadeiras, tão patriarcais, tão nuas, que o seu editor, depois de montar os óculos, e sorver duas pitadas conspícuas, disse que não patrocinava com o seu nome um capítulo em que o mencionado supra contava os factos como eles tiveram a impudência de acontecer.
Em virtude do que entrei na minha consciência de artista, e vim a um acordo com a moral, aspando as doze páginas em que eu fortalecia os hábitos da natureza bruta com as doutrinas lúcidas dos intérpretes mais abalizados dos mistérios do coração; doze páginas salpicadas de uma erudição exemplificativa, que remontava à criação do globo, para provar que o homem e a mulher, sem o intermédio do merinaque, são dois entes homogéneos, duas substâncias amalgâmicas, dois tomos da mesma obra, duas criaturas, enfim, dos nossos pecados. Nesse capítulo, naufragado no cachopo da moral, tinha eu uma gorda nota comprovativa da minha opinião ideológica a respeito de mulheres, rica de história antiga, em que, sabe Deus com que vigílias, entravam Salomão e Dalila, Péricles e Aspásia, Tibulo e Lésbia, Ovídio e Corina, tudo pessoas que amaram como se ama de uma até quarenta vezes na vida, com todo o ideal arroubado dos anélitos da adolescência, com a fé pura, cândida e imaterial do amor de Voltaire a Madame du Châtelet, do amor de La Rochefoucauld a Madame de La Fayette, do amor da minha vizinha do terceiro andar, que, às duas horas da noite, desce, com uma caixa de lumes prontos, a desandar a chave, que teima em chiar, apesar do azeite prévio, quando um Romeu de capote de mangas lhe assobia a cavatina do Trovador. Tudo isto, e muitas cousas mais, vinham na nota, que prometo embetesgar na primeira cousa que escrever, ainda que seja um artigo sobre o pulgão da batata.
Fortíssimas razões tinha eu para teimar em publicar o meu querido capítulo XIV, visto que era ele o relatório das miudezas que se deram antes e depois do fatal acontecimento da noite de 25 de Agosto de 1826, acontecimento grave e complicado, cujo conhecimento seria a chave do meu romance, se o editor ultra-honesto não teimasse em afirmar que o meu romance não precisa de chave para abrir as portas da eternidade. Pedi-lhe que me deixasse, ao menos, contar o facto em estilo levantado, alegórico, metafórico, ao alcance, apenas, das inteligências superiores. Nem isso. Estava escrito em estilo oriental, balsâmico, todo perfumarias de subtil aroma da alma, e ele teima em dizer que a alma não tem nariz.” (79-81)

domingo, 29 de maio de 2011

armando bacelar




ARMANDO BACELAR

(St.º Adrião, V. N. de Famalicão, 25-09-1998; Porto, 02-09-1998)


O TEÓRICO NEO-REALISTA


E só uns novos homens de um novo meio social para quem a verdade não tenha o brilho sufocante do sol, poderão encará-lo de frente, criando uma nova ideologia que volte a ser expressão do concreto geral, para o desenvolvimento da história pela resolução objectiva dos problemas humanos.

Armando Bacelar


Escritor e político. Com uma luta anti-fascista exemplar (preso várias vezes), Armando Bacelar, que terminou a sua licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1943, participou activamente na imprensa e nas revistas literárias ligadas ao Neo-Realismo, tal como é o caso Alma Académica (Porto), Alma Nova (Braga), Comércio dos Novos/O Comércio da Póvoa de Varzim (Póvoa de Varzim) – dirigiu estes dois últimos títulos enquanto ainda jovem estudante – Da Gente Moça//O Trabalho (Viseu), O Diabo (Lisboa), Do Espírito Literário/Ecos do Sul (Vila Real de St.º António), A Ideia Livre (Anadia), Independência de Águeda (Águeda), Nova Luz (Coimbra), Pensamento (Porto), Síntese (Coimbra), Sol Nascente (Porto, Coimbra), O Trabalho (Viseu), Vértice (Coimbra), entre outros títulos. Escreveu com os seguintes pseudónimos: Carlos Relvas, Eugénio Bastos Freire, Raul Sequeira, Aníbal Borges de Castro e Inês Gouveia. A seguir ao 25 de Abril foi Secretário de Estado da Justiça e Ministro dos Assuntos Sociais pelo Partido Socialista em vários governos provisórios, além de deputado em várias legislaturas. Foi distinguido em 1996 pelo então Presidente da República Jorge Sampaio com a Grã-Cruz da Ordem do Infante, tendo sido também distinguido pela Câmara Municipal de V. N. de Famalicão com a Medalha de Ouro do Município. No mesmo ano, a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco organiza a exposição Armando Bacelar e Lino Lima: testemunhos de luta pela liberdade, baseada essencialmente no espólio doado pela família de Bacelar à mesma instituição pública famalicense. A propósito da problemática de Bacelar enquanto teórico do Neo-Realismo ver, por exemplo, Carlos Reis – O Discurso Ideológico do Neo-Realismo Português. Coimbra: Almedina, 1983; Textos Teóricos do Neo-Realismo Português. Apresent. Crítica, sel., notas e sugestões de leitura Carlos Reis. Lisboa: Editorial Comunicação, 1981; Armando Bacelar – (Pre)Tetxos: Armando Bacelar, Teórico do Neo-Realismo? Nota explicativa, sel., notas e indicações bibliográficas Amadeu Gonçalves; Introd. José Manuel Mendes. No Prelo.







armando bacelar e manuel da fonseca





Numa altura em que o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, prepara as comemorações de dois centenários de nascimento, o de Alves Redol e o de Manuel da Fonseca, abrindo ontem a exposição comemorativa do segundo, apresento hoje algumas capas e dedicatórias de Manuel da Fonseca a Armando Bacelar, livros existentes no espólio de Bacelar patente na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão.































sábado, 28 de maio de 2011

armando bacelar e alves redol



Numa altura em que o Museu do Neo-Realismo pretende comemorar, este ano, o centenário de nascimento de Alves Redol com várias iniciativas, partilho um texto de Armando Bacelar, o qual está incluído no meu livro ainda inédito "Pre-Textos", o qual contém oitenta e um textos da colaboração dispersa de Bacelar pela imprensa neo-realista. O texto de Armando Bacelar sobre Alves Redol encontra-se publicado no livro "Testemunhos dos seus Contemporâneos" (2001). Contudo, não só partilho o respectivo texto, como partilho as respectivas informações bibliográficas que se encontram em notas-de-rodapé, da minha responsabilidade, partilhando igualmente, em conexão com o texto de Bacelar, as obras existentes no seu espólio, o qual se encontra na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. Desta forma, partilho as capas dos livros de Alves Redol com a respectiva dedicatória a Bacelar, começando a amizade de ambos com a simples dedicatória para o crítico literário da "Vértice", passando a ser ao longo dos anos o camarada das lides literárias. O que hoje aqui coloco, espero que seja do agrado de quem visitar este blog.





MEMÓRIA DE ALVES REDOL[1]


Em 1937, cheguei a Coimbra, para cursar Direito na velha Universidade. Além de uma mala com roupa, levava uma pasta com livros, projectos e manuscritos e a alma cheia de sonhos de redenção do país e da humanidade, através da luta política (que naquele tempo só podia ser clandestina ou ressupunha que o essencial se passasse na clandestinidade) e da acção cultural renovadora (por uma cultura viva, colocada ao serviço do povo, através de folhetos, de conferências e recitais, de colaboração em jornais e revistas, ocupando o espaço que a censura prévia e a repressão nos deixassem). Com Alguns nomes na mente, de possíveis companheiros, com eles estabeleci contactos que nunca mais me deixaram e que a comunidade dos riscos mais estreitavam. Foi então que, pela primeira vez, me citaram Alves Redol, colaborador de “O Diabo” em que eu, pouco mais tarde, também viria a colaborar, sempre com pseudónimos vários que me permitiam, como a muitos outros empenhados nas tarefas políticas, preservar com o anonimato a liberdade de actuação possível.Era o tempo da mais feroz repressão salazarista. Poucos antes, o fascismo português institucionalizara-se, à imagem e semelhança dos modelos hitlero-mussolinianos com a criação da Legião e da Mocidade portuguesas, com o reforço da censura e da polícia política (P. V. D. E., antecessora da P. I. D. E. / D. G. S.). Na clandestinidade, fracassadas as tentativas anteriores dominantes do “reviralhismo” (conjunto dos partidos da I República, dissolvidos), da maçonaria (a eles ligada, igualmente dissolvida e que recebera rudes golpes) e do anarco-sindicalismo (que perdera a sua acção de guia da classe operária depois da greve revolucionária de 1934 na Marinha Grande e do fracassado atentado contra Salazar, em 1935, cujos quadros tinham sido dizimados, sem que se renovassem), a condução da luta passara para o Partido Comunista Português. Com este e com as outras correntes oposicionistas se constituíra, pouco antes, à semelhança do que acontecera em França e Espanha, mas em condições que a clandestinidade tornava completamente diferentes (como em Itália e na própria Alemanha), a Frente Popular que, nesse ano de 1937, tivera muitos activistas perseguidos e presos, torturados nos cárceres da P. V. D. E., com tal sanha e requintes de barbaridade que o próprio Ministro do Interior e cunhado do Salazar, Passos e Sousa, se vira forçado a ordenar um pseudo-inquérito à polícia política. Aqui ao lado, na vizinha Espanha, decorria a fase mais aguda da guerra civil que opunha


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[1] Armando Bacelar – “Memória de Alves Redol”. In Alves Redol: testemunhos dos seus contemporâneos. Org. Maria José Marinho, António Mota Redol. Lisboa: Caminho, 2001, pp. 27-30.
“Representação Cénica com a peça «Forja», de Alves Redol, não se realizou por recusa de cedência do «Teatro Narciso Ferreira» (COOPRAVE 1970 6).
“Aspecto Cultural. Neste capítulo, associou-se a nossa Cooperativa ao movimento de divulgação da obra de Alves Redol, patenteando ao público a «Exposição Itinerante». Seguiu-se um colóquio sobre a vida e a obra do escritor, moderado pelo Dr. José Manuel Mendes, de Braga, que amavelmente acedeu ao convite neses entido feito pela Direcção” (COOPRAVE 1971 3).


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os governos republicanos, da Frente Popular, às legiões do fascismo franquista, apoiadas a fundo por Salazar, Hitler e Mussolini. Todos nós sabíamos que se jogava também o essencial do nosso destino de portugueses por muitos anos. E organizávamos as acções possíveis de solidariedade com os irmãos republicanos espanhóis. As emissões rádios governamentais de Madrid, Barcelona e Valência ouviam-se perfeitamente em Portugal e eram escutadas diariamente com emoção e ansiedade. Entre outros, os discursos de Neni e da Passionária entusiasmavam-nos, o “Cancionero de la Guerra Civil”, os poemas de Lorca (fuzilado em 1936), de Rafael Alberti[1], de António Machado, de José Bergamin e de Miguel Hernandez circulavam de mão em mão, nos poucos exemplares que conseguíamos obter.
Se da Espanha nos vinha a emoção, da França desse tempo chegava-nos o essencial do pensamento. Obras como as de Marx (nas edições Costes), de Paul Latargue, de Jean Cassou, de Paul Langevin, de Louis Aragon (“Pour un Réalisme Mistifiée”), de Georges Friedman (“La Crise du Progrès” e “De la Sainte Russie à l`U. R. S. S.”) exerceram profunda e duradoura influência entre nós.Da França, mas não só. Porque a própria literatura da emigração italiana aqui era lida, geralmente em versões francesas, com “Fontamara” e Le Grain Sous la Neige”, de Ignazio Silone, em que se espelhava tanto da realidade comum aos portugueses, sobretudo dos rurais. Da Alemanha vinham-nos romances como os de Erich Maria Remarque e de Ernst Glaeser, os desenhos cáusticos de Groz, estudos teóricos de Engels e dos pensadores marxistas pré-hitlerianos. Da América do Norte recebíamos a influência das obras literárias realistas sociais de Theodore Dreiser, de Sinclair Lewys, de Upton Sinclair, de Helen Grace Carlisle, de Michael Gold, de Charles Yale-Harrison, de John dos Passos e de pensadores como Sidney Hook. Da Inglaterra conseguíamos obter as análises políticas de Palm Dutt e algumas revistas de esquerda, pois as publicações de língua inglesa eram menos impedidas de chegar até nós. Da União Soviética, também via França e em traduções francesas, obtínhamos os romances de F. Gladkov “Le Ciment”, de Gorki (sobretudo “A Mãe”), “Et l`Axier Fut Trempé”, de Boris Pilniac (“O Volga Desagua no Mar Cáspio”), de Tchapaiev, de Ilya Ehrenburg, de Cholokov (“O Don Silencioso”), os ensaios sobre estética e literatura de Plekhanov, os escritos de Lenine e Staline, que considerávamos então o desenvolvimento do humanismo marxista. Esporadicamente, vinham até nós algumas obras da literatura progressista e revolucionária sul-americana, como “Dona Bárbara” de Rómulo Galegos, “Huasipungo” de Jorge Icaza, “Tuerra Amarga”, versos de Serafín Garcia, e outros, além de reproduções dos grandes pintores mexicanos (Siqueros, Orozco, Rivera). Mas, sobretudo, a grande revelação para todos nós eram os novos romancistas brasileiros, com a força pujante do seu realismo social. Acima de todos Jorge Amado (“Cacau”, “Suor”, “Mar Morto”, “Jubiabá”, “Os Capitães da Areia”) e Graciliano Ramos (“Vidas Secas”, “caetés”). Mas também Osvaldo de Andrade, Lins do Rego, Amando Fontes, Raquel de Queiroz, Eriço Veríssimo. No plano interno, a nova geração que começava a afirmar-se, imbuída de valores do marxismo (materialismo dialéctico, humanismo concreto, racionalismo moderno, estas duas últimas denominações usadas porque ultrapassavam as barreiras da censura) e o realismo socialista (realismo social, neo-realismo, escrevia-se, pelo mesmo motivo), partia ao assalto das cidadelas culturais e estéticas dominantes entre os expoentes máximos do pensamento e da arte das gerações anteriores. Notas, artigos, palestras, folhetos, colaboração no semanário “O Diabo”, de Lisboa, e no mensário “Sol Nascente”, publicado no Porto, mas com a sua direcção em Coimbra, bem como em toda uma extensa rede de jornais de província do



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[1] Rafael Alberti – Antología Poética: 1924-1944. Buenos Aires: Editorial Losada, 1945. (BMCCB/FL-EAB).


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país inteiro atacavam, mais ou menos acerbamente (e quantas vezes injustamente!), o idealismo dos mentores da “Seara Nova” (sobretudo António Sérgio e os seus discípulos) e o intimismo, o subjectivismo dos escritores ligados à “Presença” (Régio, Gaspar Simões, Casais Monteiro). Mário Dionísio, Jofre Amaral Nogueira, António Ramos de Almeida, Manuel Campos Lima, Joaquim Namorado, Rodrigo Soares, Carlos Serra (estes dois nomes são alguns dos pseudónimos de companheiros antigos que ficaram pelo caminho), Luís Vieira (pseudónimo de Fernando Marta), Fernando Piteira Santos, Álvaro Cunhal foram algumas das vozes que mais se fizeram ouvir nessa campanha que esquematicamente, no campo do pensamento, opunha o materialismo ao idealismo e, nos domínios da arte, propunha o realismo contra o subjectivismo estético.
Da sua página de crítica do suplemento literário semanal do “Diário de Lisboa”, João Gaspar Simões era quem mais se opunha a estas arremetidas doutrinais. E clamava: “Obras! Venham obras”, na constatação evidente de que um movimento meramente doutrinário não bastava, de que qualquer corrente estética não chega sequer a ter existência se não se materializar em obras válidas.
Por esse tempo, Alves Redol, que não andava muito misturado a estas polémicas, se bem que profundamente interessado nelas, pensava e trabalhava, convivia com o povo do seu Ribatejo e documentava-se. Daí extraíra um pequeno primeiro livro, que não era de ficção, mas de ensaio folclórico-sociológico: “Glória: uma aldeia do Ribatejo”[1]. E foi no ano de 1939 que publicou o seu primeiro romance, “Gaibéus”[2], como quem atira uma pedrada a um charco.
“Gaibéus” tinha realmente o valor da sua força e da sua novidade. Era, ao mesmo tempo, um panfleto literário e uma obra de novo tipo, apesar das suas debilidades formais, que mais tarde o escritor reviu. Romance colectivo, sem personagens individuais, situava-se nos antípodas da ficção de personagens que até aí se fizera. A sua matéria era a das relações sociais exploradores-explorados predominantes no meio do trabalho rural em que se movia, a afirmação de uma classe que começava a estar consciente do seu papel histórico, ainda incipiente e sem politização efectiva, na qual se pressentia mais do que se sentia o ritmo ofegante e o esforço doloroso da revolução em que se acreditava e que se desejava, mas sem que no livro se dessem largas à intervenção do romancista, que procurava encontrar-se como que ausente da obra. Nesta característica, Alves Redol demarcava-se dos precursores do neo-realismo, da corrente do romance social anterior sob a influência de Zola e Blasco Ibañez, desde Manuel Ribeiro a Ferreira de Castro.
Não foi por acaso, mas por um amadurecimento colectivo correspondente a transformações sociais e culturais na sociedade portuguesa, que Alves Redol publicou nesse ano o primeiro romance, porque pela mesma altura apareceram a “Rosa dos Ventos”, livro de poemas de Manuel da Fonseca, e a “Sinfonia de Guerra”, de António Ramos de Almeida com que se iniciava o movimento neo-realista no domínio do livro de poesia.Desde então até à sua morte, a actividade literária de Redol nunca mais se deteve. Pouco depois, apareciam os contos de “Nasci Com Passaporte de Turista”[3], a que se foram sucedendo, com ritmo regular e crescente de apuramento e de vigor, “Marés”[4],


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[1] (1938) Alves Redol – Glória: uma aldeia do Ribatejo: ensaio etnográfico. Pref. João David Pinto Correia. Lisboa: Publicações Europa-América, [s. d.].
[2] Alves Redol – Gaibéus: romance. Lisboa: AR, 1939 (Dist. Livraria Portugália).
Alves Redol – Gaibéus. 6.ª ed. Lisboa: Publicações Europa-América, 1965.
[3] Alves Redol – Nasci Com Passaporte de Turista: contos. Lisboa: [s. n.], 1940.
[4] Alves Redol – Marés: romance. Lisboa : Livraria Portugália, 1941. (BMCCB/FL-EAB).



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“Avieiros”[1], “Fanga”[2] e as obras posteriores. O escritor recorreu aos romances de personagens em todos estes livros mas, através deles, a sua preocupação constante foi a de captar as relações sociais no que considerava essencial, nas suas linhas de força mais significativas dentro de uma realidade em movimento. Para as suas obras partia de um método de trabalho que consistia no convívio humano e na cuidadosa anotação da realidade observada, como fez quando, afastando-se do seu Ribatejo que tão bem conhecia, andou embarcado e a compartilhar a vida com os trabalhadores que desciam e subiam o Douro, ao preparar o seu ciclo de romance “Ciclo Port-Wine”[3].
Em Coimbra, em Lisboa, no Porto, nós, os amigos de Redol e os que com ele andávamos embarcados nas mesmas águas, nas mesmas aventuras e correndo os mesmos riscos, convivíamos intensamente, desde as mesas dos cafés às salas das redacções e a outros encontros de carácter mais reservado ou mesmo secreto, deslocando-nos com frequência entre essas cidades, ao nível dos mais responsáveis, para trocarmos ideias e coordenarmos a nossa acção. Era aí que, raras vezes, aparecia Redol, com a sua modéstia e a sua descrição de que não fala muito nem teoriza, mas sobretudo trabalha, com um sorriso aberto, fraterno e bondoso a bailar-lhe nos lábios, de olhos fundos e penetrantes cravados em nós e, sobretudo, abertos para o que nós significávamos, para o novo mundo em que todos acreditávamos, que, com os homens, iríamos construir.
Entretanto, sobrevinda a tragédia do fim da guerra de Espanha, a repressão intelectual acentuava-se. A censura aperfeiçoava-se. O “Sol Nascente”, “O Diabo” e quase todas as publicações mais activas eram suprimidas simultaneamente por um simples ofício censório. Outras mais efémeras lhes tomavam o lugar. Isto a partir de 1940, após a queda da França, em fase adiantada da segunda guerra mundial. Mas, por essa altura, já havia um largo movimento editorial, com o “Novo Cancioneiro, os “Novos Prosadores” e muitas publicações avulsas em que toda uma geração de escritores se afirmava. Iam-se afirmando Soeiro Pereira Gomes, Mário Dionísio, Manuel da Fonseca, Faure de Rosa, Manuel do


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[1] Alves Redol – Avieiros: romance. Lisboa: Livraria Portugália, 1942.
Alves Redol – Avieiros: romance. Pref. AR. Lisboa: Publicações Europa-América, 1968.
[2] Alves Redol – Fanga: romance. Lisboa: Portugália Editora, 1943.
[3] Alves Redol – Ciclo Port-Wine: horizonte cerrado – I. Lisboa: [s. n.], 1949.
Alves Redol – Ciclo Port-Wine: vindima de Sangue – III. Lisboa: Publicações Europa-América, [s. d.].
Outros livros de Alves Redol na BMCCB/FL-EAB: i) Anúncio: novela. Lisboa: Inquérito, 1945; ii) Porto Manso: romance. Lisboa: Editorial Inquérito, [1946]; iii) Olhos de Água. Il. Lima de Freitas. Lisboa: Centro Bibliográfico, [1954]; iv) A Barca dos Sete Lemes: romance. Lisboa: Publicações Europa-América, 1958; v) Uma Fenda na Muralha: romance. Lisboa: Portugália-Editora, [1959]; vi) O Cavalo Espantado: romance. Lisboa: Portugália Editora, 1960; vii) Barranco de Cegos: romance. Lisboa: Portugália Editora, 1961; viii) O Muro Branco: romance. Lisboa: Publicações Europa-América, 1966; ix) Teatro: Forja. 2.ª ed. Maria Emília – I. Lisboa: Publicações Europa-América, 1966; Teatro: O Destino Morreu de Repente. Sugestão para um Divertimento Popular – II. Lisboa: Publicações Europa-América, 1967; Os Reis Negros. Lisboa: Publicações Europa-América, 1972. (BMCCB/FL-EAB).
Recensões críticas de Armando Bacelar a livros de Alves Redol: i) “Gaibéus”, romance de Alves Redol.” In Vértice. Coimbra, Ano 4, n.º 52 (Nov.-Dez. 1947), pp. 538-539; ii) “Vindima de Sangue, romance de Alves Redol””. In Vértice. Coimbra, Ano 14, n.º 124 (Jan. 1954), pp. 54-56; iii) “Olhos de Água”, por Alves Redol”. In Vértice. Coimbra, Ano 16, n.º 143/144 (Ago.-Set. 1955), pp. 543-544; iv) “O Cavalo Espantado”, romance de Alves Redol”. In Vértice. Coimbra, Ano 21, n.º 210 (Mar. 1961), pp. 211-212; v “Notas de Leitura. Barranco de Cegos, romance de Alves Redol”. In Vértice. Coimbra, Ano 22, n.º 231 (Dez. 1962), pp. 655-657; vi) “Ficção. Histórias Afluentes, contos de Alves Redol”. In Vértice. Coimbra, Ano 25, n.º 257 (Fev. 1965), pp. 132-133.
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Nascimento, Carlos de Oliveira, Fernando Namora, Mário Braga, João José Cochofel, Álvaro Feijó, Cardoso Pires e tantos outros.
Os livros eram, por vezes, apreendidos e havia sempre o risco de o serem. Por isso, não se podendo contar seguramente com as vendas nas livrarias, as edições vendiam-se em grande parte de mão a mão, por todos nós, nas escolas e universidades e nos locais de trabalho, a amigos, conhecidos. Porém, o rio, de débil nascente a que Alves Redol, desde “Gaibéus” e com o seu exemplo, insuflara, tornara-se mar. E todos os esforços do fascismo na sua persistente política anticultural foram inúteis para o conter.