quarta-feira, 6 de julho de 2011

bernardino machado e francisco giner de los ríos

a minha prenda de aniversário para o dr. sá marques, com mais uma primavera invejável, um abraço fraternal e saudoso deste amigo que não o esquece, nem a si nem à sua família.




Para além dos estudos de Gerald Moser, precisamente "A Amizade entre Bernardino Machado e os Irmãos Giner de los Ríos" e "O Lusófilo Exemplar. Francisco Giner de los Ríos", o primeiro publicado na "Seara Nova" (1961) e o segundo na "Vértice" (1960), temos também um mais recente, de Eugenio Otero Urtaza intitulado "Bernardino Machado e Francisco Giner de los Ríos: entre 1886 e 1910. Amizade, Iberismo e Espírito de Reforma Educativa", estudo que se encontra publicado na "Revista de Pensamento do Eixo Atlântico" (2003). Entre os três estudos, não conheço mais nenhum até hoje, há uma linha de continuidade: a originalidade do pensamento de Bernardino Machado e de Francisco Giner de los Ríos através do plano educativo para a renovação mental da sociedade, no caso deles, e consecutivamente, de Espanha e de Portugal. Um iberismo único, para além das perspectivas políticas, que tantas polémicas causaram nos finais do século XIX em Portugal, unindo-os o mesmo ideal reformista da sociedade pela educação num sentido prático e de consciências livres. A base que sustém os respectivos estudos é, particularmente, a correspondência de ambos: enquanto que Gerald Moser se baseia na correspondência entre Francisco Giner e Bernardino Machado, por seu turno, Eugénio Urtaza utiliza a correspondência de Bernardino Machado para Francisco Giner. A minha perspectiva é contribuir com mais uma achega da relação de amizade, cívica e intelectual, de Bernardino Machado e Francisco Giner, através dos textos do primeiro e das suas referências que realiza perante o segundo. Julgo que esta relação textual, para uma maior compreensão de ambos, ainda não está feita, faltando, suponho, o mesmo no plano inverso, de Francisco Giner relativamente a Bernardino Machado. Desta forma, a primeira referência que Bernardino Machado efectua relativamente a Francisco Giner é, precisamente, no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano. Vice-Presidente do respectivo Congresso, Machado refere-se ao Instituto Libre de Enseñanza e a Francisco Giner nos seguintes termos: "Um facto se patenteou no Congresso, que merece ser posto em alto relevo: a renovação operada na pedagogia espanhola pela sábia, cordialíssima e intrépida iniciativa da Institución Libre de Enseñanza de Madrid que de todas as boas armas de propaganda tem lançado mão na sua benemérita campanha, e que sobretudo pela virtude e autoridade do seu exemplo conseguiu influir profundamente não só nos métodos de ensino, ams ainda, o que é mais, nos costumes escolaresm desenvolvendo os costumes de família entre professores e discípulos e a todos atraindo para o mais puro culto do dever. Desta intimidade moral davam um testemunho, além de Madrid, várias Universidades da província, principalmente Oviedo. O Congresso, pode dizer-se, que era a um tempo o efeito e a demonstração da larga e poderosa influência dos superiores espíritos que dirigem a Institución entre os quais avulta, por mais que individualmente se retrata, um dos primeiros educadores modernos, D. Francisco Giner." (Pedagogia - I, V. N. de Famalicão, 2009, p. 434). Aqui, nesta citação, está precisamente o que os uniu, enquanto pedagogos: a fraterna conciliação dos espíritos numa fraternização intelectual e relacional entre professores e alunos para a consciencialização moral do segundo em plena liberdade de responsabilidade. Das influências de Julian Sans del Río e das origens da Institución Libre de Enseñanza, Machado nos explica o "mesmo sentimento patriótico de regeneração" que "agita profundamente a alma espanhola" no texto "A Pedagogia Nova em Espanha", principalmente a partir de 1876, na medida em que surge uma ordem real de que o "ensino universitário é taxado de nefasto à religião e às instituições." Os protestos não pararam. As origens da Institución de Giner estão nestes acontecimentos." (Pedagogia -I, V. N. de Famalicão, pp. 451-454). Destas duas referências de 1892, surge uma em 1896 nos seguintes termos: "Dos estrangeiros que hoje fazem opinião em assuntos de pedagogia, um dos mais eminentes é, sem dúvida, o douto professor espanhol, Francisco Giner. / O seu saber só é comparável aos seus serviços. De Madrid, onde ele é a alma da Institución Libre d`Enseñanza", a sua influência irradia por toda a Espanha; e é verdadeiramente belo e educativo este espectáculo das relações cordiais em que o magistério da nação vizinha se une intimamente entre si para o eficaz desempenho da sua missão. / Saudemos na pessoa do ilustre catedrático da Universidade Central, de Madrid, o sábio e o patriota." ("D. Francisco Giner". In Pedagogia - I, V. N. de Famalicão, p. 650). Um elogio público de uma amizade já, praticamente, com dez anos de existência. Em 1900, Bernardino Machado nas famosas "Conferências de Pedagogia", ao historiar o avanço da pedagogia europeia, refere-se a Giner nos seguintes termos: "Junto a nós, aqui mesmo em Espanha, os principais professores, à frente dos quais o meu querido amigo D. Francisco Giner, em quem me inspiro também, procuram dirigir o ensino nacional." (Pedagogia - III, V. N. de Famalicão, 2009, pp. 162) e, em 1901, em "A Estudantina de Santiago de Compostela" recorda saudosamente os tempos passados na Institución (Pedagogia - III, V. N. de Famalicão, 2009, pp. 195.198). Recorde-se que em 1888 Bernardino Machado é nomeado Professor Honorário da respectiva Instituición. Finalmente, mais duas referências: quando Blasco Ibañez vem a Portugal e é recebido pelos republicanos em Lisboa, em Maio de 1909, Machado realiza um discurso em sua honra e refere o melhor da intelectualidade espanhola da época, não esquecendo, como seria lógico, Francisco Giner. Assim se refere ao pedagogo espanhol nos seguintes termos: "Para essa obra de sociabilidade e de colaboração mútua tem contribuído imenso, cimentando a união íntima da juventude espanhola, a Instituição Livre de Ensino, de Madrid, à frente da qual está um dos primeiros educadores do nosso tempo, D. Francisco Giner. Por isso, dirige-lhe também dali as suas saudações." Estamos aqui perante uma outra temática tão cara aos dois pedagogos: a socialização do ensino: um ensino virado para a sociedade, um ensino activo e não amorfo.("Blasco Ibañez". In Pela República: 1908-1909 - II. Lisboa: Editor-proprietario, Bernardino Machado, 1910, pp. 547-551). Da última referência que de momento possuo de Bernardino Machado relativamente a Francisco Giner, encontra-se num discurso do primeiro proferido no aniversário do Centro Republicano de Setúbal (O Mundo. Lisboa, Ano 10, n.º 3398 (18 Abr. 1910), p. 2), salientando a filosofia política do pedagogo espanhol: "Um dos maiores pensadores contemporâneos, o professor espanhol D. Francisco Giner, numa nota apresentada no fim do ano passado ao Congresso de Saragoça, sobre o conceito da lei no direito positivo, demonstrou magistralmente como desde o fim do século dezoito as revoluções populares de fazer o que no Governo os Reis e os Ministros filantropos, como o nosso Pombal, tinham querido mas não haviam conseguido fazer: harmonizar, pela lei, as instituições com a sociedade." Concerteza que voltaremos mais vezes a estas duas fascinantes personalidades.




portugal



"A autoflagelação é a má consciência da passividade, e não é fácil superá-la num contexto em que a passividade, quando não é querida, é imposta. Estamos a ser agidos. Nosso é apenas um nome em nome do qual outros agem para o bem que só é nosso se for também deles. Para agirmos temos de desviar os olhos desta paisagem e caminhar no escuro por alguns momentos até chegarmos às suas traseiras para ver os andaimes que a sustentam, observar a azáfama que por lá vai e identificar os lanços vazios à espera da nossa acção. O objectivo deste livro é identificar alguns desses lanços e, co m isso, reconstruir a esperança a que temos direito. Esperar sem esperança seria o pior que nos poderia acontecer. O nosso inconformismo ante tal cenário deve ser radical. / No primeiro capítuloi, falo breves precisões concentuais sobre as crises e suas soluções. No segundo capítulo, apresento uma reconstrução histórica de algumas contas mal feitas na nossa vida colectiva e nas nossas relações com a Europa. No terceiro capítulo, analiso o possível impacto das medidas de austeridade recessiva na vida dos portugueses. No quarto capítulo, proponho algumas medidas para sairmos da crise com dignidade e com esperança, tanto medidas de curto prazo como medidas de médio prazo. No quinto capítulo, centro-me nos desafios que se levantam às soluções que só fazem sentido se adopatdas a nível europeu e mundial. O maior desses desafios é travar e se possível inverter a preocupante proliferação do que desgigno por fascismo social. No sexto capítulo, defendo a necessidade e a possibilidade de um outroi projecto europeu mais inclusivo e solidário. Finalmente, no sétimo capítulo, defendo que a outra Europa possível só se concretizará na medida em que ela for capaz de partilhar os desafios da luta por um outro mundo muitíssimo mais vasto, mas, tal como ela, possível e urgente." (9)


I - As identidades das crises


II - Um diagnóstico português


III - A desmedida das medidas de auteridade recessiva


IV - Sair da crise com dignidade e esperança


V - Outros mundos possíveis: a ameaça do fascismo social


VI - Outra Europa possível


VII - Outro mundo é possível