quarta-feira, 28 de julho de 2010

abílio de magalhães brandão (1860-1930)

Famalicense por adopção, afectividade social, vivência literária e de residância, este hábil etnógrafo nasceu na freguesia de São Sebastião, concelho de Guimarães, falecendo na freguesia de S. Tiago da Cruz, concelho de V. N. de Famalicão, onde residiu na casa da Quinta de Ribela. No ano do seu falecimento, o jornal famalicense Estrela do Minho fazia-lhe o seguinte elogio público: "Descendente de uma família muito distinta de Guimarães, aqui constitui familia e pelo mseu correctíssimo porte conquistou a simpatia de todos os famalicenses. / Espírito culto e de clara inteligência, colaborou em várias publicações literárias e económicas, sendo um entusiasta dos modernos processos agrícolas nas suas propriedades." Se, por um lado, profissionalmentefoi Recevedor e Resoureiro Municipal em paços de Ferreira, por outro lado, no plano cívico pertenceu à Comissão Regional da Agricultura de Santo Tirso, tendo sido vogal da respectiva comissão.






Publicou em 1896 o "Manual do Recebedor do Concelho ou Bairro". O livro é dedicado a João Franco, entao Ministro do Reino, que o tinha nomeado para o cargo referido em 1890. Quem fará a recepão a este livrinho será Sousa Fernandes no jornal famalicense, e órgão dos republicanos, O Porvir, em 21 de Outubro de 1896. A actividade cultural de Magalhães Brandão ficou notabilizada com os seus curiosos estudos e recolhas de documentos etnográficos, nas suas próprias palavras, o folclore, passando pelas adivinhas, os jogos populares infantis, as tradições populares na prática da agricultura, etc. Rompe, desta forma, com o cientismo do século XIX, na medida em que este considerava o folclore (cultura popular) como algo de inútil. Os seus estudos detectam já a antropologia cultural contemporânea, a qual recorre à tradição, à pedagogia e à psicologia. Publicou os seus trabalhos na Revista de Guimarães, da Sociedade Martins Sarmento, na Nova Alvorada, de V. N. de Famalicão, e, a nível de jornais, nos de Famalicão Lavoura do Minho e Estrela do Minho, no Jornal de Paços de Ferreira, e, para além da amizade que manteve com José Leite de Vasconcelos, foi um dos seus colaboradores na Etnografia Portuguesa, relativamente aos costumes e às tradições do Baixo-Minho, e, em especial, de V. N. de Famalicão.




Em plena época de efervescência republicana (1912), não só devido à lei da Separação da Igreja e do Estado, mas também devido à ruptura do Partido Republicano, aparecendo o Partido Republicano Evolucionista, de António José de Almeida, e o Partido União Republicana de Brito Camacho, surge envolvido na polémica da Fonte Santa de Mouquim, que se deu na sua propriedade. As considerações simpáticas de Sousa Fernandes ao livrinho que Magalhães Brandão publicou em 1896, serão, agora, de perseguição. Toda esta polémica mereceu, já no seu fim, uma longa reflexão crítica no jornal famalicense Desafronta, em 23 de Novembro de 1912, jornal que, aliás, era o órgão do partido Republicano Evolucionista em V. N. de Famalicão. Nesta mesma longa reflexão pretende justificar cientificamente as qualidades termais da água existente na propriedade, descrevendo que o seu conhecimento é simplesmente ignorânica por parte dos poderes políticos e públicos, reflectindo, igualmente, sobre a história da casa da Quinta de Ribela, como dialogando a sua defesa pessoal das acusações que era alvo, principalmente no aproveitamento económico. Politicamente, o atingido foi o seu filho, António Magalhães Brandão, farmacêutico, e estava filiado no Partido Republicano Evolucionista.



A polémica foi não só vivida na imprensa famalicense, como também surgiu na imprensa nacional. É o caso da Ilustração Portuguesa (1 de Julho de 1912) num artigo de Sousa Martins ou no Mundo Ilustrado, de 30 de Junho de 1912. Reproduzo aqui o texto de Sousa Martins, a longa reflexão de Magalhães Brandão publicada no jornal Desafronta, em 25 de Novembro de 1912, as capas das duas revistas em que colaborou e o primeiro texto intitulado Eucaliptos que publicou no jornal famalicense A Lavoura do Minho, em Setembro de 1913, assim como o cabeçalho do primeiro número do mesmo jornal.