domingo, 27 de março de 2011

da alma

"Alma do homem, / como és semelhante à água! / Destino do homem, / como és semelhante ao vento!"
Goethe



"Pois bem, na esteira desta metáfora, pensámos adoptar como esquema simbólico para a nossa busca no horizonte da alma o da navegação. São quatro as etapas da viagem e correspondem às partes deste volume. Antes de embarcar, é necessário um itinerário de aproximação; é a primeira meta a atingir. Ele é Sem fronteiras porque o percurso que se inicia pretende chegar aos Territórios distantes das culturas primitivas e penetrar nas antigas e gloriosas civilizações do Egipto, da Mesopotâmia, da Índia e da Arábia, mas também não teme visitar lugares recônditos, quase semelhantes a grutas escuras, como no caso da metempsicose, do espiritismo e da metapsicologia. / O grande rio da alma que devemos navegar, circundado por estas terras, revelas duas nascentes específicas que o alimentam de modo copioso. Serão elas que constituirão a segunda meta da nossa nevageção ideal. De um lado está a Nascente sagrada das Escrituras bíblicas com a sua mensagem original e variada, que tem alguns ápices no livro do Génesis e nas palavras de Cristo e de Paulo. Do outro, eis a Outra nascente, a da cultura grega, onde aparecem os mitos fascinantes de Psique e Orfeu, mas também sobressaem pensadores excelsos como Platão, Aristóteles e Plotino. / Depois, a partir das nascentes, a navegação penetra no curso atormentado do rio. É a terceira etapa, a mais extensa, porque tem de percorrer séculos e séculos de história. Entram em cena três perfis da alma. Antes de mais nada, o que foi desenhado pela teologia cristã no seu incessante processo de interrogação, nas respostas do Magistério eclesial oficial, na elaboração intensa dos seus pensadores e também no seu esforço ousado de abeirar-se do além-vida alma, para lá da fronteira da morte (a Alma teológica). / Depois, há a complexa e até tortuosa reflexão de filosofia ocidental, a partir de Descartes, de cujo dualismo derivaram não só os grandes espiritualistas, como Espinosa e Hegel, mas também a dura reacção dos «materialistas», negadores convictos da alma. É o capítulo da Alma filosófica, que também se abre a teorias inovadoras - como a do evolucionismo - e a práticas incisivas - como a da psicologia/psicanálise. / O último perfil é o da Alma poética: trata-se de um olhar lançado sobre o mistério do espírito pela intuição literária. Então, vai-se das cenas emocionantes criadas pelo génio de Dante ao terrível pacto entre Fausto e Mefistófeles narrado por Goethe, dos diálogos entre alma-corpo-natureza imaginados por Leopardi, Rosenzweig ou Péguy, até a uma surpreendente elaboração racional de Pirandello e a muitos outros autores. / Deste modo, chega-se à quarta e última etapa, a da Foz, porque então a história da alma entra e faz parte dos nossos dias. Penetra-se no inquietante e também fascinante laboratório das neurociências para encontrar o homem neuronal que alguns gostariam de ver espoliado de alma e reduzido a cérebro. Contudo, trata-se apenas de uma Acostagem parcial e não da atracação definitiva: de facto, as águas continuam a correr, e a alma não cessará de alcançar-nos para conduzir-nos mais longe." (15-16)


Giafranco Ravasi

leituras


kundera leitor


"No século XIX, era assim: tudo o que se passava num romance tinha de ser verosímil. No século XX, este imperativo perdeu a força; de Kafka até Carpentier ou García Marquez, os romancistas tornaram-se cada vez mais sensíveis à poesia do inverosímil."

Kundera

a república na revista vértice






  • Pedro Santos Maia - "Reflexão Intempestiva sobre a República e o Republicanismo: a questão colonial", pp. 5-19


  • David Oliveira Ricardo Pereira - "As Políticas Sociais na Primeira República Portuguesa: 1910-1926", pp. 20-30.


  • Domingos Abrantes - "A República, as Feministas e a situação das Mulheres", pp. 31-46


  • Maria Alice Samara - "Das Mulheres, dos Republicanos e da República", pp. 47-56.


  • João Maria Nabais - "Adelaide Cabete, uma alma notável da Primeira República", pp. 57-65.


  • Rui Namorado Rosa - "Ensino e Cultura Técnica e Científica em Portugal: a transicção republicana", pp. 66-77.


  • Américo António Lindeza Diogo - "O Conflito de 14-18 em 1940, ou Guerra e Fotogenia: o João Ratão, de Jorge Brum do Canto", pp. 7892.


  • Serafina Martins - "Aquilino Ribeiro nos Bastidores da República", pp. 93-102.


  • João Cravo - "As Festas da Árvore, a Amadora e a República - ritualizar para integrar", pp. 103-108.