sábado, 17 de julho de 2010

neo-realismo famalicense

O trabalho sobre o neo-realismo em V. N. de Famalicão encontra-se na sua recta final. Amanhã é dia de o ilustrar. Ainda estou a transcrever a segunda polémica forte entre o grupo a que chamo os neo-realistas da Estrela (compreenda-se do jornal famalicense Estrela do Minho) e a ala conservadora da cultura famalicense, compreendida esta pelo Notícias de Famalicão, jornal dirigido então por Rebelo Mesquita, tendo sido a polémica com o jornalista Jerónimo de Castro. A polémica andou à volta da questão do que as raparigas deveriam ler. O que os neo-realistas famalicenses aconselharam, numa detrminada altura, foi o livro Fel de José Duro. Caiu o carmo e a trindade! A outra questão andou à volta dos livros de Alexandre Herculano Eurico, O Presbítero e Mário de Silva Gaio, se estavam ou não censurados. Transcrevo aqui uma parte da introdução.


Quando se inicia um trabalho de investigação, o qual se pretenda original, corre-se sempre alguns riscos. Neste caso concreto, o neo-realismo em V. N. de Famalicão, o qual poderia correr alguns riscos pela dimensão que em si comporta, relativamente ba duas personalidades: Armando Bacelar (o teórico) e João Rubem (o desconhecido), isto é João Dinis Cupertino de Miranda. Mas sendo a base para este trabalho de investigação o jornal Estrela do Minho, tais personalidades não ficarão de fora, antes pelo contrário, incorporando-os naquilo a que designo por "incursões biográficas". Aqui acrescento mais dois: José de Oliveira (o divulgador), ou Oliveira Bente, e Francisco Carneiro de Sá (o esteta famalicense). Oliveira tem o mérito, honra lhe seja feita, de ter sido, a par de Joaquim de Oliveira (do qual desconheço os seus dados biográficos e o seu livro Rompimento), o divulgador do neo-realismo em V. N. de Famalicão, nas suas colunas Escaparate, Projecções e no suplemento literário que então criou intitulado Para as Raparigas, dirigido ao lado de José Brandão (o mesmo sucedendo com Joaquim de Oliveira, conhecendo apenas os seus textos no jornal focado). Mas existem, o tempo o irá comprovar, declarações estranhas, senão mesmo preconceituosas, desse tempo vivido em V. N. de Famalicão, relativamente á produção literária então realizada. Um dos casos sintomáticos e enigmáticos é o próprio José de Oliveira, em declarações numa carta que então me escreveu um ano antes do seu falecimento.




Mas dizia, este trabalho poderia trazer alguns riscos, sendo o maior deles indicustivelmente o de Bacelar, e ainda um outro, o caso de João Rubem, os quais, mais importante o primeiro (mas sem querer tirar o nível e a importância da produção literária do segundo, principalmente no campo do ensaio e na divulgação da literatura brasileira), pela sua colaboração poética e teórica no âmbito do neo-realismo, e não menos original pelo menos no campo teórico, publicando na imprensa e nos suplementos literários do neo-realismo (o mesmo sucedendo a Rubem), o que por si só merece um estudo mais amplo e abrangente. Apesar da colaboração de Armando Bacelar, principalmente com o seu pseudónimo feminino Inês Gouveia, pelo menos no que diz respeito ao neo-realismo, cingindo-se a pouco mais do que três textos (mas já com uma participação cívico-política no Estrela do Minho com nome próprio, assim como igualmente uma colaboração poética no jornal Notícias de Famalicão entre 1935 a 1936), o caso de Rubem é ainda mais estranho, já que publicou apenas na imprensa famalicense apenas três poesias (conforme se pode ver na bibliografia que aqui apresento).





O que proponho analisar, baseando-me na imprensa famalicense, particularmente no jornal Estrela do Minho e nos seus suplementos literários que então apareceram, nomeadamente Esta Página (1942), Para as Raparigas (1942-1944) e A Mulher e a Criança (1947), mais os dois primeiros do que o último, são as pressuposiçóes teóricas à volta do neo-realismo, as recepções literárias (escritores famalicenses e do de âmbito nacional) e as polémicas, uma mais suave (uma personagem masculina que se dirige a três femininas, obtendo a resposta apenas de uma todas elas ficcionadas) e outra mais forte (esta com o jornal Notícias de Famalicão, então dirigido por Rebelo Mesquita, tendo sido a polémica com Jerónimo de Castro). Começo precisamente, antes de entrar no primeiro ponto, de elaborar, então, as chamadas "incursões biográficas" através de Armando Bacelar, José de Oliveira, João Rubem e Francisco Carneiro de Sá. Não é por acaso que Sá aparece em último na medida em que a sua incursão biográfica já contem elementos teorizantes, abrindo a porta para os pressupostos teóricos que aqui proponho analisar (ou, pelo menos, alguns). Finalmente, ao analisar os três caminhos do neo-realismo em V. N. de Famalicão, os textos que referencio aparecem discriminados na Bibliografia Activa.

infinitamente escrever

"Observo-me a escrever como nunca me observei a pintar, e descubro o que há de fascinante neste acto, na pintura, vem sempre o momento em que o quadro não suportra nem mais uma pincelada (mau ou bom, ela irá torná-lo pior), ao passo que estas linhas prolongar-se infinitamente, alinhando parcelas de uma soma que nunca será começada, mas que é, nesse alinhamento, já trabalho perfeito, já obra definitiva porque conhecida. É sobretudo a ideia do prolongamento infinito que me fascina. Poderei escrever sempre, até ao fim da vida..."
José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia

quixotes do mundo


cristianismos


pacheco pereira e a república






literatura e república