quinta-feira, 30 de setembro de 2010

dias



Mais uma das minhas homenagens (e poucas serão) ao Dr. Sá Marques. Num fim-de-semana passeadeiro, lá deambulámos pelas ruas de Lisboa, almoçamos no Martinho da Arcada, antes disso ainda pela Faculdade de Belas-Artes, apresentou-me um ensaista de renome nacional, António Valdemar, preparava e dava conta do seu próximo livro sobre a República, que chegou a ser amigo íntimo de Nuno Simões, e muitas histórias nos foram contadas, numa franca cavaqueira como se nos conhecêssemos há anos, e maravilhado estava e fiquei com aquelas esculturas e alto-relevos pelos corredores e paredes da Faculdade... Depois do almoço, mais uma deambulação, e desta vez de eléctrico, como se costuma dizer há sempre uma primeira vez para tudo, e neste último fim-de-semana andei pela primeira vez na linha de Sintra, andei pela primeira vez de eléctrico e pela primeira vez fui há Brasileira, ter com Pessoa. Aos que pensava fazer esta visita a Pessoa!!! E depois passámos pelo Largo de São Carlos, na casa onde ele viveu, e dizia-me o Dr. Sá Marques, também chegou a chamar-se Largo do Directório, porque foi a sede do Partido Republicano, e todas estas histórias e outras que entretanto me contava, ou há volta de Aquilino Ribeiro, onde Bernardino Machado viveu, aqui e ali, de facto não parava, Bernardino! E aqui transcrevo a ideia de Steiner sobre os cafés na Europa, acrecentando, aqui ficam, os cafés de Pessoa, ficando mais ricos com a nossa presença, a minha, salvo seja, e a companhia fantástica do Dr. Sá Marques, que será sempre inesquecível no meu coração... E os cafés serão sempre espaços únicos de liberdade, de respiração porque de leitura, de convívio... Apresento a ideia dos cafés da Europa de Steiner e o que ele, no pequeno ensaio "A Ideia de Europa" nos diz sobre a identificação cultural da própria Europa, recorrendo-me aos sublinhados que lá estão no próprio texto.













  • "A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequantados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para lá do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da «ideia da Europa». / O café é um local de entrevistas e conspirações, de debates intelectuais e mexericos, para o flâneur e o poeta ou metafísico debruçado sobre o bloco de apontamentos. Aberto a todos, é todavia um clube, uma franco-maçonaria de reconhecimento político ou artístico-literário e presença programática. Uma chávena de café, um copo de vinho, um chá com rum assegura um local onde trabalhar, sonhar, jogar xadrez ou simplesmente permanecer aquecido durante todo o dia. É o clube dos espirituosos e a poste-restante dos sem-abrigo." (26)

  • "A Europa morrerá efectivamente, se não lutar pelas suas línguas, tradições locais e autonomias sociais. Se se esquecer que «Deus reside no pormenor.». (50)

  • ... «a vida não reflectida» não é efectivamente digna de ser vivida." (55)





uma visão da república




a esquerda democrática republicana


elzira machado a contista em espanhol