sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dr. Manuel Simões, O Mestre Inesquecível

No ano em que faleceu, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, na reunião de 20 de Fevereiro, deliberou por unanimidade a aprovação de um voto de pesar, o qual foi, então, publicado na imprensa famalicense, com o seguinte teor: «O falecimento do Director da Casa-Museu de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos, representa uma enorme perda para o mundo camiliano e a lamentável ausência no universo intelectual e académico português, de um dos seus mais dignos representantes. / Durante o tempo em que dirigiu e orientou os destinos da Casa de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos, soube transmitir-lhe uma dinâmica e um rigor científico que constituirão para todos nós um exemplo uno de dedicação e da devoção à obra do torturado de Seide… / A ele se deve o relançamento do “Boletim da Casa de Camilo”, publicação que granjeou fama pela qualidade e cientificidade dos artigos que integra, e foi o principal impulsionador da



colecção “Estudos Camilianos”…/ Deixou uma obra ímpar e invejável ao serviço da cultura portuguesa. / Lamentamos e sentimos profundamente que a Casa-Museu de Camilo e o Centro de Estudos Camilianos tenham perdido um dos seus maiores obreiros, e um dos seus mais fiéis amigos e que Famalicão perca um dos seus maiores e mais qualificados directores culturais de sempre, e um dos seus mais importantes filhos adoptivos.” Termina com a seguinte proposta: “[…] seja dado pública divulgação em sinal de reconhecimento pelo muito que fez por Vila Nova de Famalicão […]» (itálico meu) A mesma autarquia atribui-lhe em 1990, por deliberação da reunião de Câmara de 18 de Junho do mesmo ano, no dia da Cidade, a Medalha de Mérito Cultural e, postumamente, o Prémio da Casa de Camilo (1996).



A carreira sacerdotal iniciou-a quando entrou na Companhia de Jesus no Antigo Convento da Costa (Guimarães) em 7 de Setembro de 1942, dedicando-se aos estudos portugueses e às letras clássicas. Depois de concluído o noviciado, licenciou-se ma Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga em 1950. Estudou Teologia em Granada (Espanha), aí tendo sido ordenado sacerdote no dia 15 de Junho de 1956. Regressando a Portugal, após ter completado a sua formação como jesuíta, lecciona no Colégio de S. João de Brito (Lisboa) e no Instituto Nun`Álvares (Caldas da Saúde, Santo Tirso), leccionando literatura e cultura portuguesa na Faculdade de Filosofia de Braga (Universidade Católica Portuguesa), tendo sido, igualmente na mesma Faculdade, encarregado do Curso de Humanidades, desde Setembro de 1982, ano em que começou a fazer parte do corpo docente. Era membro da Sociedade Científica da Universidade Católica.

Não deixando de exercer a sua actividade litúrgica e pastoral, tal acentuando-se como compositor musical, artista e pedagogo. Enquanto compositor, soube aliar a música à actividade litúrgica. Publicou “Missa Breve em Português: para solistas, coro uníssono e órgão sem pedal” (1958) e “Salmos & Cânticos” (1970, 1971), deixando ainda inéditos uma longa colectânea de melodias tradicionais, portuguesas e estrangeiras, harmonizadas para três e quatro vozes iguais. Fés parte da Direcção da “Nova Revista de Música Sacra” (Braga), chegando também a colaborar no “Boletim de Música Litúrgica” (Porto) e no “Boletim de Pastoral Litúrgica” (Aveiro). Ainda no âmbito musical, pertenceu como musicólogo à Comissão Bracarense de Música Sacra e foi Vogal do Serviço Nacional de Música Litúrgica, enquanto que em V. N. de Famalicão assumiu o cargo de Director Artístico do orfeão Famalicense (1978) e da Associação de Coros Paroquiais.


Assistente Diocesano da Juventude Universitária Católica Feminina (JUCF), de Lisboa, pertenceu também ao Secretariado Nacional de Liturgia, era membro da Comissão Bracarense da Pastoral Litúrgica e, por determinação do Episcopado, tradutor e revisor dos textos litúrgicos. Antecipando-se (e defensor) do Concílio Vaticano II, ao nível da espiritualidade e liturgia publicou “Manual do Exercitante” (1960, 1968), colectânea de textos literários ascéticos, aparecendo escritores como P. Manuel Bernardes (o seu mestre), Fr. Tomé de Jesus, P. Bartolomeu de Quental, Fr. António das Chagas, P. Diogo Monteiro e P. António Vieira, “Liturgia e Vida” (1988), “Em Espírito e Verdade” (1990) e “Elucidário Espiritual” (1993).


Se em “Liturgia e Vida” é propósito do autor não «escrever um volume sistemático a modo de compêndio tedioso, em que falasse de todos os assuntos, que lhe interessassem ou não», mas, antes pelo contrário «preferiu escolher os temas sem ordem nem razão pré-concebida, guiado por certo instinto e gosto próprio e norteando-se ainda por aquilo que, na sua melhor suposição, poderia vir a interessar ao devoto leitor», já em “Espírito e Verdade” tem a intenção de se integrar «num modo português de ver as


coisas de Deus e ter conseguido certo equilíbrio entre a tradição e a modernidade, entre o bem pensar e o bem escrever, entre as legítimas preocupações humanas do nosso tempo e as exigências evangélicas que são de todos os tempos.» Neste sentido, tal projecto espiritual e litúrgico, enquanto teólogo, será concretizado em “Elucidário Espiritual”, livro que pretende esclarecer cultural e espiritualmente alguns problemas do ser humano contemporâneo. Muitos dos textos publicados nestas obras são retirados da sua extensa colaboração, refundindo-os e ampliando-os, nas revistas bracarenses “Magnificat” e “Mensageiro”.


A par do teólogo, temos o poeta com cinco títulos publicados, nomeadamente “Canções da Vida Breve” (1958), “À Flor do Tempo” (1962), “Diálogo com a Esfinge” (1973), “Amor Situado” (1974), e “As Raízes da Noite” (1976), tendo tido a intenção de reuni-los num só volume. Aliás, esta sensibilidade poética vai-lhe permitir a realização da colecção “Deus Escondido”, traduzindo poetas como Khalil Gibran, Roman Guardini, Amado Nervo, Marie Noel, Tagore, Unamuno ou Simone Weil, cognominando-o Assis Pacheco de “tradutor garimpeiro”.



Sacerdote da cultura, encontra-se ligado à cultura portuguesa, efectuando conferências sobre música (“Da Canção e Dança á Suite”, 1984), ou sobre a história famalicense (“Lousado: da histórica aldeia do século XI à quase Vila de 1989: cultura e desenvolvimento”, 1990); como ensaísta, colaborou na revista “Brotéria”, na qual escreveu sobre literatura estrangeira (por exemplo, sobre Gabriel Garcia Marquez), literatura e cultura portuguesa (“Novas Cartas Inéditas de Antero”, 1989; “Antero Inédito: o programa da União Democrática: os antecedentes do suicídio”, 1989; “Saramago, «Em Nome de Deus»”, 1994; “Fernando Pessoa e a Cultura Portuguesa”,



1986; “A Europa Vista de Portugal”, 1992, entre outros), música (“O Compositor Manuel Faria: a propósito de uma homenagem, 1989; “Um Século de Música Sacra em Portugal”, 1989 e “A Música, Linguagem do Mistério”, 1983). Em 1998, a Faculdade de Filosofia de Braga reúne e publica-lhe esses, e outros, textos na colectânea “Temas de Arte e Cultura”.Destaca-se, inquestionavelmente, o camilianista exímio, na divulgação da obra de Camilo e no cargo directivo da Casa-Museu de Camilo Castelo Branco*, em S. Miguel de Seide. Participou nas Jornadas Camilianas de Vila Real, surgindo os seus textos na revista “Tellus”, efectuando outras intervenções, como foi o caso do Congresso


“Brasileiros-Emigrantes”, o qual assinalou, em Santo Tirso, o Centenário do Falecimento do Conde de S. Bento, com a comunicação “Camilo e os Brasileiros” (1993). Foi um dos organizadores do Colóquio “Camilo Castelo Branco: Jornalismo e Literatura no Século XIX” (1998), participando com o texto “Camilo, Jornalista Católico”. Organizou o Congresso Internacional que se realizou em V. N. de Famalicão


e em Coimbra (Junho de 1991) no âmbito do Centenário do Falecimento de Camilo Castelo Branco, com o lema por ele escolhido “Camilo Vivo”, pertencendo à Comissão Nacional das Comemorações. Na divulgação do pensamento e da obra ficcional de Camilo escreveu pequenos artigos no jornal famalicense “Voz de Famalicão” (1990). Chegou ainda a elaborar o projecto do Colóquio Comemorativo do 1.º Centenário do falecimento de Ana Plácido (1995). Promoveu a colecção “Estudos Camilianos” (aqui publicando, por exemplo, de Alexandre Cabral “Camilo Castelo Branco: roteiro dramático dum profissional das letras”, 1988) e foi um dos promotores e fundadores do Centro de Estudos Camilianos (1991), renovando e dirigindo o “Boletim da Casa de Camilo” (3.ª série, 1983-1988). Neste publicou os estudos sobre a poesia camiliana,



respectivamente “Camilo, Poeta Romântico” (1990), “A Poesia Religiosa de Camilo” (1998), “Humorismos Poéticos de Camilo” (1988) e “Camilo Lírico” (1990), assim rompendo com a tradição camiliana que afirmava que a poesia de Camilo nada acrescentava aos estudos da obra ficcional. Para além destes, salientam-se os seguintes: “Nossa Senhora da Obra de Camilo” (1998), “Camilo, Pombal e os Jesuítas” (1983), “Brognolo e Camilo” (1985) e “Camilo, Apologista dos Jesuítas” (1993).
Finalmente, assumiu, em V. N. de Famalicão, a Direcção Cultural da Fundação Cupertino de Miranda (1978), chegando a ser nomeado administrador da mesma instituição em 1983.
O seu espólio particular, principalmente a bilbioteca, está à guarda do Centro de Estudos Camilianos.

Bibliografia
Amadeu Gonçalves – Subsídios Bibliográficos de Manuel Simões, 1998; Aníbal Pinto de Castro – À Memória do Padre Manuel Simões, 1999; Uma Aproximação aos Autores Famalicenses, 1998; Antologia dos Autores Famalicenses, 1998; Biografias de Autores Famalicenses, 1998; Dicionário Cronológico de Autores Famalicenses Portugueses – V, 2000; Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura/Supl. – XXII; Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura – XXVI; O Grande Livro dos Portugueses, 1990; João Bigotte Chorão – Lembrança e Louvor do Padre Manuel Simões, 1999.; Manuel Augusto Dias - "Ansianenses Ilustres: Padre Dr. Manuel Simões, 2004.
Este texto é uma aproximação da comunicação que vou referir no Congresso "A Escola de Braga...", no dia 17 de Outubro, na Faculdade de Filosofia, em Braga, a convite do Prof. José Gama.
Agradecimentos
Agradeço a amabilidade prestada pelos serviços da Fundação Cupertino de Miranda (Biblioteca), nomeadamente Dr. António Gonçalves e Dr.ª Marlene Oliveira, assim como ao Jornal Serras de Ansião, tal como ao Sr. Manuel Augusto Dias, pela rápida resposta que solicitei a propósito do seu trabalho sobre o Dr. Manuel Simões.
Amadeu Gonçalves

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