quarta-feira, 13 de julho de 2011

romantismo(s)

para yoli, docemente




... cantava o amor que se aperfeiçoa pela morte, o Amor que não morre nem no túmulo."


Oscar Wilde




O primeiro livro que o "Diário de Notícias" oferece aos seus leitores, na sua colecção anual (e que já vem desde o ano 2000, suponho), é de contos que intitulou "Românticos". Tem textos de Oscar Wilde ("O Rouxinol e a Rosa"), de Guy de Maupasant ("De Viagem"), de Anton Tchekov ("Amor"), de Rainer Maria Rilke ("A Fuga") e, finalmente, de Aldous Huxley ("Hubert e Minnie"). Se no primeiro conto nos deparamos com o amor platónico não ideal, mas real, se no segundo temos o amor como compaixão e de resignação, o amor de agradecimento, no terceiro o amor mistério prático, que de mistério nada tem, porque se prevê no futuro, o amor da ignorância porque simplesmente se ama, digamos, o amor da indiferença conjugal, no quarto conto o amor-traição feito esperança, parecendo recair a culpabilidade nos outros, mas recaindo no próprio ser humano pela não responsabilidade, o último é o corolário de todos os outros, porque será, precisamente, no amor imaginário que não se concretiza na prática, a idealização metafísica do próprio amor que não se concretiza e não se materializa. Mas a personagem que a todos deve encantar e fascinar é, indiscutivelmente, o rouxinol, o qual, num acto de doação caritativa pela possível pureza amorosa do estudante, doa a sua própria vida, para que o estudante consiga o seu amor, que é, simplesmente, frustrado. Amor imaginativo no real não correspondido, nem sequer foi experiência vivencial, como em Hubert, o qual, perante a realidade, fugiu, temendo Eros no momento da entrega. As desculpabilidades do humano são sempre muitas. Neste exemplo, o do estudante, como poderia ele perceber as palavras do rouxinol no seu acto doativo, se nunca teve, pelo menos, a experiência vivencial do encontro? Veja-se a simplicidade com que Oscar Wilde nos transmite sobre aquilo que poderá ser a pureza do amor, nessa dupla entrega unitária: "A única recompensa que te peço é que sejas um amante fiel, pois o Amor é mais sábio que a Filosofia, por mais sábia que esta seja; e é mais forte do que o poder, por mais poderosos que este seja. Tem asas de fogo, e cor de fogo tem o seu corpo. Há uma doçura de mel nos seus lábios e o seu hálito lembra o incenso." O estudante, que não percebeu nada destas palavras, resigna-se, desconfiando da boa-vontade do amável rouxinol. Quando conseguiu a rosa vermelha para o estudante, e este lá foi oferecer à sua amada para conseguir a dança e os seus sorrisos e os seus afectos, esta já tinha materializado o amor num outro pretendente, não corporalmente feito Eros, mandando o estudante às favas. O amor idealizado é o amor da ilusão. Comenta o estudante: "Que coisa estúpida é o Amor. De nada serve a lógica, porque nada prova: conta-nos sempre coisas que nunca sucederão e faz-nos acreditar em coisas que não são verdadeiras. Na realidade, não tem nada de prático, e nos tempos que correm, ser prático é tudo.Voltarei à Filosofia e estudarei Metafísica." Terá simplesmente uma vida estúpida, porque a Filosofia e a Metafísica com o Amor ainda saberão melhor! O amor na esperança. O amor será, precisamente, todo o contrário das suposições do estudante, porque a idealização metafísica do amor pela literatura (Hubert) será o fracasso perante a realidade. Camilo nos explifica isto mesmo em muitos dos seus romances. O amor de nada estúpido é, o amor não precisa da lógica e da racionalidade, é como é, desabrocha, os acontecimentos sucedem-se maravilhosamente, é prático porque vivencial no encontro e ainda podemos acreditar.