domingo, 21 de novembro de 2010

cesariny e o surrealismo

Entre os dias 25 e 27 de Novembro, a Fundação Cupertino de Miranda vai realizar o IV Encontro em torno da figura de Mário Cesariny, o surrealista por excelência. Deixo aqui uma sugestão de leitura, por sinal do próprio Cesariny, para uma compreensão mais abrangente do surrealismo. Durante alguns dias, não aparecerá nada neste blog, já que o seu fazedor vai até Lisboa em trabalho por causa de um leilão que tem objectos e manuscritos de Bernardino Machado, tentando, se for caso disso, juntar o útil ao agradável, já que gostaria de ver a exposição "Património e Cultura" que está patente no Palácio da Ajuda, no âmbito das comemorações do Centenário da República. O mesmo fazedor deste blog não poderá faltar e visitar a exposição que está patente na mesma casa, em V. N. de Famalicão, denominada "Por Toda a Parte - Júlio", no regresso; e no regresso haverá novidades, de certeza absoluta.


"Este livro não será uma antologia nem uma recolha exaustiva mas a indicação de um sentido em marcha com, à direita e à esquerda, declives e barreiras muito à vista. Se se traçou um círculo é que, para lá das montanhas, ninguém acende o fogo que nos leva à caminhada nocturna, e se emprego o plural quando digo o caminho é porque, quando se anda um dia inteiro, «on est seul, avec tout de que l`on aime.» (Cesariny)

EILEEN JOYCE plays LISZT UN SOSPIRO ( Étude de concerto n. 3)

Reverie - Claude Debussy

Ocean's 11 - Claude Debussy

Debussy, Clair de lune (piano music)

Giuseppe Verdi Triumphant March

Nabucco Verdi

dia mundial da saudação




























dias

Hoje comemora-se o dia mundial da saudação. No dia 19 comemorou-se o dia mundial da Filosofia. Não queria que estas duas datas passassem-se despercebidas neste blog. A Filosofia, que começou com essa figura metafórica do espanto, hoje já não se espanta a si própria, nem com o mundo, nem se transcende a si própria. Contudo, a Filosofia sobrevive-se a si própria, commovimentos de rotação muito peculiares, com a intenção de voltar às origens, o questionamento do questionar o mundo na busca da cidade da verdade. O filósofo, esse ser estranho, ainda hoje assim cognominado, que procura a justiça no mundo, segundo dizem, mas não é apenas isso que busca, o filósofo, que na denominação de Merleau-Ponty, no livro que aqui divulgo com algumas citações, "que não é um ser inteiramente real", é, ao mesmo tempo, da realidade, superando-a, no espanto, porque o espanto do mundo o faz sobreviver em si com os outros, transcendendo-se a si próprio, na busca da luz entre a sensação (aisthesis), as opiniões (doxa), e a verdade (aletheia). Perante a cidade dos homens e de Deus, acrescento, na ideia de Ponty, a cidade da verdade, conseguida através do questionamento constante. O filósofo e a filosofia ajudam nessa descoberta, não havendo nenhuma conclusão, entre o passado e o presente dirigido ao futuro. Na existência de sermos, o espanto do mundo ainda faz falta para a sobrevivência da Filosofia, em diálogo constante com as outras sabedorias e conhecimentos. E do dia mundial da saudação colocarei uma série de postais, colecção editada pelo Museu Bernardino Machado, a propósito da cordealidade de Machado, o qual, nas "Notas dum Pai", considera a cordealidade como uma das maiores virtudes do ser humano! Num mundo sem referências, entre o que se diz de manhã e o que se diz ao fim do dia já não é a mesma coisa, onde não há um cumprimento, existindo a falta de respeito, a indiferença pelo outro, nada melhor do que divulgar esta colecção de postais para uma saudação aos que visitem este blog, para a cordealidade do humano seja uma realidade cada vez mais e encantatória para a superação dos dias. Estas caricaturas são de Manuel Monterroso e foram publicadas no jornal "Miau" em 28 de Janeiro de 1916.

merleau-ponty, a filosofia e o filósofo

  • "Se, na verdade, é a Cidade que ele [o filósofo] defende, não pode ser apenas uma Cidade nele, mas a Cidade existente à sua volta."
  • "O que caracteriza o filósofo é o movimento que leva incessantemente do saber à ignorância, da ignorância ao saber; e um certo repouso neste movimento..."
  • "O filósofo é o homem que desperta e fala, e o homem contém em silêncio os paradoxos da filosofia, porque, para ser plenamente homem, é preciso ser um pouco mais e um pouco menos do que homem."
  • "... o filósofo encontra, não o abismo do eu ou do saber absoluto, mas a imagem renovada do mundo, e nela a sua própria, entre os outros. A sua dialéctica ou a sua ambiguidade é apenas uma maneira de dizer aquilo que cada homem muito bem sabe: o valor dos momentos em que, efectivamente, a vida se renova, continuando, em que o seu mundo privado se torna mundo comum."
  • "O absoluto filosófico não se situa em parte alguma, nunca está algures, tem que ser defendido em cada acontecimento."
  • "... ironia filosófica, como se o seu silêncio e a sua reserva nela se reconhecessem, porque, desta vez, a palavra serve de libertação."
  • "A filosofia volta-se para a actividade simbólica anónima de que emergimos e para o discurso pessoal que em nós próprios se constrói, que somos nós próprios, perscruta aquele poder de espressão que os outros simbolismos se limitam a exercer. Em contacto com todos os factos e experiências, procura captar rigorosamente os momentos fecundos em que um sentido toma possa de si próprio, recupera e impede para além de qualquer limite o devir da verdade que pressupõe e faz que haja uma única história e um único mundo".
  • "O filósofo não afirma que é possível uma transcensão final das contradições humanas e que o homem total nos espera no futuro: como toda a gente, sobre isso nada sabe. Diz apenas - o que é completamente diferente - que o mundo teve um começo, que não devemos julgar o seu futuro pelo seu passado, que a ideia de um destino nas coisas é uma ideia mas uma vertigem, que as nosas relações com a natureza não estão fixadas de uma vez para sempre, que ninguém pode saber o que pode fazer a liberdade, nem imaginar como seriam os costumes e as relações numa civilização que não fosse perseguida pela competição e pela necessidade."
  • "O enigma da filosofia (e da expressão) está em que, por vezes, para si, para os outros e para a verdade, o caminho é o mesmo. São estes momentos que a justificam. É unicamente com eles que o filósofo conta. Ele nunca aceitaria estar contra os homens, nem os homens contra ele, ou contra a verdade, nem a verdade contra eles. Quer estar simultaneamente em toda a parte, correndo o risco de não estar nunca inteiramente em parte alguma."