sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

cmvnf/ape conto 2009





foi entregue hoje, em s. miguel de seide, o prémio do conto camilo castelo branco do ano de 2009, numa parceria câmara municipal de vila nova de famalicão (cmvnf) e associação portuguesa de escritores (ape). o galardoado com o prémio foi o escritor afonso cruz com o livro "enciclopédia da estória universal", perante um júri constituído por clara rocha, josé antónio gomes e josé ribeiro ferreira. quando se leu o livro, foram feitas as devidas referências. afonso cruz é um escritor da nova geração que traz uma lufada de ar fresco à literatura portuguesa. deixo a lembrança, ou algumas lembranças do dia de hoje, nomeadamente a dedicatória de afonso cruz, assim como o texto manuscrito que teve início na folha ante-rosto do livro, o qual, na íntegra, pode ser encontrado neste blog. a sessão decorreu com o olhar atento de camilo.









o dr. artur sá da costa apresentou, no discurso inuagural da sessão, este quarteto de cordas da escola profissional de música da artave, que tocou um tema popular português de forma erudita, antes dos discursos iniciais.




a mesa: presidente da junta de s. miguel de seide, manuel amado; vereador da cultura e vice-presidente cmvnf, dr. paulo cunha; arq.º armindo costa presidente cmvnf; dr. josé manuel mendes, presidente ape; afonso cruz, o escritor premiado.




afonso cruz, no seu discurso inaugural. a sua "enciclopédia da estória universal" foi o primeiro livro que escreveu, não o primeiro que publicou. salientou que esta sua "enciclopédia" é uma bibliografia inventada, uma ficção do princípio ao fim, apesar da história, senão as histórias, serem baseadas em factos. salvo raro excepções, o livro nas livrarias estava quase sempre nas estantes dedicada à história. o exemplar que adquiri na livraria bertrand em braga estava, apesar no inicio se pensar o mesmo, na estante da ficção, bem lá no cimo, escondidinho. já contei neste blog a história.




dr. antónio gomes, representante do júri. dos pontos que focou, saliento a originalidade da arquitectura narrativa; a cultura filosófica do autor, leitor omnívoro; o passado e o presente da condição humana, nesta barca do mundo na qual estamos inseridos. estamos perante um livro inovador e de imaginação. tema principal: uma biblioteca imaginada. o que temos nesta "enciclopédia", para além do humor, deparamo-nos com a ironia, perante a narativa efabulística. estamos perante uma parábola divertida e crítica da cultura histórica nesta época neo-liberal.



dr. josé manuel mendes, presidente da ape. começou por referir uma ausência presente, a do dr. aníbal pinto de castro, considerando-o como um raio de luz e de sombra. perosnalidade invulgar, no magistério, enquanto professor em coimbra, onde foi seu aluno, e com obra reconhecida no centro de estudos camilianos. para o dr. josé manuel mendes, o dr. aníbal pinto de castro era uma personalidade que conjugava saberes múltiplos. deixou-nos estudos sobre os cancioneiros, p. antónio vieira, camilo, acrescentando camilo a camilo. de pinto de castro, acabou por salientar o seu fantástico humor envolvendo a sua personalidade cativadora. da existência do prémio, salientou a cooperação institucional entre a ape e a cmvnf para a valorização da literatura no que ela tem de perdurável e pela obra de afonso cruz, uma livre criação de ficcionalidade: e que o seu livro tenha aparecido em estantes trocadas acaba por ser uma honra! o que a "enciclopédia" de afonso cruz revela é o seu carácter polissémico. terminou com uma citação de s. tomás de aquino: a fé é a substância das coisas que se esperam: na ideia de que a literatura perdure, eternamente.





arq.º armindo costa, presidente da cmvnf, no momento do seu discurso. começa por recordar o dr. aníbal pinto de castro nas seguintes palavras: "por vezes, não são necessárias palavras", e "simples gestos indiciais revelam, com misteriosa eloquência, os segredos do futuro". salienta que o grande prémio do conto camilo castelo branco revela hoje um futuro promissor para afonso cruz, artista multifacetado. para além de escritor, revela-nos o artista da imagem, o artista da música. salienta que os jornais dizem que afonso cruz é um faz-tudo, sendo, por isso mesmo, um artista multifacetado da pós-modernidade em curso. comenta que numa época como a nossa em que se valoriza a especialização, tal situação para afonso cruz será um elogio, "porque consegue tocar vários instrumentos da arte com o talento iluminante que despontam e nos surpreendem." o que tornou imortal camilo foi, precisamente, a sua descrição das paixões humanas, a perspicácia social e política. focando o facto do ministério da educação ter retirado o livro "amor de perdição" do programa do ensino secundário, tal como aconteceu com outros autores clássicos, o que se passou é que camilo "foi expulso da escola portuguesa." cito do discurso do presidente da cmvnf: "dizem os entendidos em programas curriculares, que nem todos estão preparados para aceder à mensagem humanista de que somos herdeiros. lamentamos profundamente, porque a retirada de camilo das escolas representa, antes de mais, um murro no estômago da nossa cultura e da nossa tradição humanista, e representa também um ataque à literatura portuguesa e à educação das novas gerações." citando camilo "os dias prósperos não vêm por acaso. nascem de muita fadiga e muitos intervalos de desalento", afirmando que a cmvnf não desistirá de camilo. camilo agradece.




no momento da entrega do prémio a afonso cruz



o presidente da cmvnf, arq.º armindo costa, a oferecer a afonso cruz, a "história de famalicão".




afonso cruz e francisco josé viegas














afonso cruz, o artista faz-tudo

Conheça Afonso Cruz, o artista faz-tudo, que recebe o Prémio de Conto
"Nada neste livro pode ser considerado um facto objectivo e tudo, ou quase tudo, podemos assegurar, é pura invenção... Creio que as referências bibliográficas são falsas, bem como as citações. Diz-se que existe uma entrada que é totalmente verdadeira. Também isto pode ser mentira./ O que sabemos é que não existe nenhuma realidade factual, que as coisas são muito mais aquilo que sentimos do que aquilo que realmente aconteceu. O conteúdo da mentira ou da história, o seu caroço, é uma rquétipo, e contém tanta verdade como qualquerr símbolo pode conter... / Outra evidência, ao ler a Enciclopédia, é que o homem não é uma unidade (constatação que faz parte de algumas entradas), mas uma multiplicidade, um conjunto de personagens e personalidades, um conjunto de ideias tantas vezes contraditórias. Achamos que pensamos de certa maneira, mas temos, todos nós, opiniõe~s contrárias àquelas que julgamis serem as nossas. Somos, como disse Agostinho, um mistério para nós mesmos. Somos todos fracturados, como Pessoa, só que mais exagerados."
Afonso Cruz, Enciclopédia da Estória Universal