quinta-feira, 7 de outubro de 2010

neruda ode ao livro

No dia da atribuição do nobel a Vargas Llosa, nada melhor do que lermos este elogio ao livro de Pablo Neruda, outro nobelizado, no ano de 1971, da língua espanhola, contra os catastrofistas de que o livro vai acabar. O livro não vai acabar nunca!









prémio nobel literatura 2010

  • Tive conhecimento da atribuição do Nobel da Literatura de 2010 na hora do almoço. As notícias irrompiam pela televisão, e, numa simples nota de rodapé, lá aparecia a novidade do dia, em termos literários, a atribuição, pela Academia Sueca, do prémio nobel da literatura ao escritor peruano Vargas Llosa. E pensei logo, devo ter lá por casa alguma coisa; e aqui está o alguma coisa, numa simples homenagem ao nobelizado deste ano.

  • "A vida que as ficções descrevem - sobretudo as mais conseguidas - não é nunca a que realmente viveram os que a inventaram, escreveram, leram e apreciaram, mas a fictícia, a que tiveram que criar artificialmente porque não a podiam viver na realidade e, por isso, se resignaram a vivê-la a penas da forma indirecta e subjectiva como se vive essa outra vida, a dos sonhos e das ficções. A ficção é uma mentira que encobre uma profunda verdade; é a vida que não foi, a que os homens e mulheres de uma determinada época quiseram ter e não tiveram e, por isso, foram obrigados a inventar." (13)
  • "... a literatura é o melhor que foi inventado para defesa contra o infortúnio..." (19)
  • "O romancista não escolhe os seus temas; é escolhidos por eles." (21)
  • "... o romancista autêntico é aquele que obedece docilmente à sorientações que a vida lhe impõe, escrevendo sobre esses temas e fugindo daqueles que não nascem intimamente da sua própria experiência e lhe chegam à consciência com o carácter de necessidade. Nisso consiste a autenticidade do romancista: aceitar os seus próprios demónios e servi-los na medida das suas forças." (25)
  • "A sinceridade ou a falta dela não é, em literatura, um assunto ético, mas sim estético." (38)
  • "... o grande triunfo da técnica romanesca: alcançar a invisibilidade, ser tão eficaz na construção da história que dotou de cor, dramatismo, subtileza, beleza, sugestão, que já nenhum leitor detecte sequer a sua existência, pois, conquistado pelo feitiço daquele trabalho, não tem a sensação de estar a ler, mas sim a viver uma ficção que, por um certo espaço de tempo, pelo menos, conseguiu, no que diz respeito a esse leitor, suplantar a vida." (78)