quinta-feira, 21 de abril de 2011

mircea eliade e portugal






  • Sorín Alexandrescu - "Portugal visto por Mircea Eliade".



  • Carlos Leone, José Eduardo Franco, Rosa Fina - "Estudo Introdutório"




I - Portugal no Século XIX


II - Os eruditos e a revolução.


III - As lutas partidárias


IV - O regicídio e a implantação da República


V - "Balbúrdia sanguinolenta"


VI - A ditadura de Sidónio Pais


VII - A guerra civil


VIII - Salazar: de Santa Comba a Coimbra


IX - Salazar: estudante e professor em Coimbra


X - Salazar: um dia no Parlamento...


XI - A revolução de 28 de Maio de 1926.


XII - Salazar: ditador das Finanças


XIII - Uma revolução espiritual


XIV - O Estado salazarista


XV - Quinze anos mais tarde...







para mim, eliade foi sempre o historiador das religiões. deliciei-me com a leitura de "Mitos, Sonhos e Mistérios" (1990), "O Mito do Eterno Retorno: arquétipos e repetição" (1990), "O Sagrado e o Profano: a essência das religiões" (s. d.), este livro uma tradução de rogério fernandes, e, inquestionavelmente o seu mais do que famoso "tratado de história das religiões" (1992), com um prefácio de george dumézil. dos vários sublinhados deste "tratado" encontro este, naquilo que poderá ser o documento perante o sagrado e a história: "Cada documento pode ser considerado como uma hierofania, na medida em que exprime à sua maneira uma modalidade do sagrado e um momento da sua história, isto é, uma experiência do sagrado entre as inumeráveis variedades existentes. Aí, qualquer documento é para nós precioso, em virtude da dupla revelação que realiza: 1.º) revela uma modalidadedo sagrado, enquanto hierofania; 2.º enquanto momento histórico, revela uma situação do homem em relação ao sagrado." desconhecia que alguma vez eliade tivesse estado entre nós. a primeira revelação desta situação foi o seu "diário português" (2008), escrito entre 1941 a 1945, anos em que permaneceu em portugal como diplomata da embaixada da roménia em lisboa, entre cascais e lisboa. no "diário" a 21 de abril de 1941, fala-nos da "pobreza intelectual de lisboa", ameaçando-o "de uma lenta degradação". O "diário" serviu para se "reencontrar" e se "concentrar" em si mesmo. a segunda surpresa foi a de hoje. ao ir até à livraria fontenova em busca de um outro livro, apareceu-me este "salazar e a revolução de portugal", o qual acaba por ser uma perspectiva e u ma análise histórica a portugal, passando pela monarquia, viajando pela república até à ascensão de salazar. tal como podemos ler logo no início do estudo introdutório, "se salazar é uma das figuras da cultura portuguesa mais sujeitas a processos de mitificação, sem dúvida que esta obra de Mircea Eliade inaugurou e lançou bases sólidas, no campo da Filosofia da História, para a construção do mito luminoso do fundador do Estado Novo português." o livro vale, posso então dizê-lo, e indo ao encontro de eliade, como uma forma de percebermos como esse mito e a sociedade portuguesa de então se construiu, diria, no profano e na profanidade mental de sermos portugueses. o livro vale, portanto, documento histórico de um tempo concreto. e de bernardino machado diz-nos, o seguinte, a dado passo: "Bernardino Machado era por excelência "o presidente. na verdade, em breve será eleito presidente do Partido Republicano. A sua adesão é um golpe mortal para a Monarquia. As últimas vacilações e reticências da burguesia são vencidas por esta aparição nobre, a personificação de todas as virtudes cívicas e familiares. "O seu papel essencial será o de dar ao partido a apa~rência e a psicologia de um partido de Governo: acabaram-se os sonhos federalistas (luso-hispânicos), o extremismo social, o internacionalismo, as doutrinas transcendentes, a desordem; do ponto de vista positivo: ordem por dentro, paz por fora, fundada na aliança com os ingleses. É desde o início, o programa de um estadista responsável." (Ribeiro Lopes). Machado sonha com uma República burguesa, ordeira, calma. No seu foro íntimo, detestava a República de rua, dos tribunos, a República revolucionária, dinâmica, telúrica. Era um homem de ordem, mas a sua ambição desmesurada fez com que tenha sonhado durante tod aa sua vida com o dia em que chegaria a chefe do Estado; para que o seu sonho se tornasse realidade, não recuou perante a necessidade de atacar a Monarquia que tanto amava. / Ao seu lado, todos os outros chefes republicanos parecem explosivos, terroristas, demoníacos. A barba patriarcal do nobre presidente é um símbolo de todads as virtudes patrióticas. O poeta desvairado, o judeu de génio Guerra Junqueiro - que escreveu as páginas mais atrozes contra Deus, Portugal e o rei, para acabar a sua vida abraçando um cricifixo - é o único a escrever: "Bernardino é um lírio que irá dar um fruto envenenado..." A história não o contradisse. Machado criou o mito da República cordial, simples, honesta, burguesa, bem comportada, pelo qual a revolução conseguiu converter e abalar os velhos partidos do Governo. O sorriso do presidente foi o cavalo de Tróia da revolução no coração da burguesia portuguesa." (79-80). uma perspectiva que pode ser muito bem analisada, esta de eliade sobre bernardino machado. possivelmente, numa próxima oportunidade, após a leitura integral deste livro do historiador das religiões. e para a desconstrução de alguns destes mitos que se construiram, nada melhor do que ler o estudo de Norberto Ferreira da Cunha intitulado "Bernardino Machado: de monárquico liberal a republicano (1882-1907), estudo publicado nas obras de bernardino machado "Política", Tomo I (2011), uma edição da câmara municipal de vila nova de famalicão, do museu bernardino machado e das edições húmus.











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