segunda-feira, 18 de julho de 2011

camilo e o porto iii

Que é o Porto? / Não deparei ainda com esta pergunta filosófica e de rigorosa necessidade no formigueiro de crónicas e revistas, que ressaltam, luxuriosas de vida e esperanças dos tipos para os botequins. / Que é um caixeiro sem uma luva amarela? / O que é uma revista sem uma definição do Porto? Nada! - Um trabalho sem lucro; uma obra caduca, efémerae morredoira - uma incoerência literária e artística, uma pobreza de génio, uma desarmonia. / Então: que é o Porto?





O Porto é a tábua da lei das quatro operações aritméticas. É uma grande tabuada levada ao infinito da multiplicação das casas. É o dois e dois são quatro, convertido no balcão do probo e honradíssimo bacalhoeiro de miríades de caras todas típicas, idênticas e como o total de côvados aferidos e carimbados no Município da cidade da Virgem. É o carroção de Manuel José de Oliveira. É a companhia do Alba-Cosido, com o sr. Galliani e a sr.ª Gambardella e os despeitados da sr.ª Gambardella. É o teatro de Camões com o seu Zacarias, o avarento. É uma sr.ª de distinção vinculando a ária do Átila à sua laringe, aliás preciocíssima. É o administrador do concelho prendendo e enviando para o Carmo dois... o quê?... dois senhores que pateavam um cantor. É o Braz Tisana do Pobres. É a Maria, não me mates que sou tua mãe. É a Cantiga do passarinho e o Testamento do galo a gemer pela vigésima vez nos prelos incansáveis. É a cozinha dos herdeiros do chapelinho a crepitar de sardinhas fritas, toda ela uma alface, e tudo isso para honestíssimas famílias do gordo e sério mercador de fígados do Algarve, vassouras e abanos, que leva ao domingo de tarde a muito copiosa e enfezada prole a espairecer fora da cidade. É a matrona, casada defresco,que vai ao teatro de mantilha, que a depõe ao baixar do pano para, em completa harmonia conjuugal, devorar o nédio coixão de carneiro, fumegando odorífero açafrão dentre o pulento bojo duma caçarola de arroz de formo. É o riso escancarado duma plateia inocente que palmeia alegre um equívocoimundo das Luvas Amarelas. O Porto é tudo isto, e ainda mais. / ... Aqui tudo o que não for isto, é alvo de sátira traiçoeira, suja e mal-amanhada; e, se tem a franqueza de prestar consideração a esta estupidez orgulhosa, é posto à irrisão dos linheiros e dos pregueiros e dos outros todos que passaram do soco de Guimarães e da jaqueta de ganga para o casaco de veludilho e chinela de ourelos. / ... Tudo isto é verdade.






E é por isto mesmo que o Porto, espremido desde o vasto estabelecimento de Simão Duarte de Oliveira até ao tabuleiro de lumes pronto de reportórios do garoto da Porta de Carros, não transpira uma revista. Nos bailes está a filha do burguês, tipo degenrado de espadaúda minhota a fingir-se compleição nervosa e estremecida. No teatro é a mesma mulher, sempre deslocada, artificial e sonolenta. Na missa dos Congregados é a beata que pretende alinhar-se com um relicário Angélico meditado, decorado e repetido em casa pela mãe com várias explicações ricas de erudição das Horas Marianas. / A mulher do Porto, por consequência, vive só do seu vestido, do seu bracelete e do seu chapelinho de sol vermelho com grandes franjas amarelas. Groseeiramente requestada com cartas do estilo sirva-se vmc. entregar por esta minha ordem, a mulher daqui ignora rudemente as subtilezas do ideal, as preguiças amorosas que - diga-se aqui a própria verdade - são e serão sempre a douradoura das afeições. Aqui namora-se para casar: casa-se para ter filhos, que ordinariamente são as caras dos pais. Benza-os Deus!




De vez em quando, aparece uma cabeça de fogo a querer sevar-se de chamas no meio deste glacial reservatório das cabeças de pedra. Homens que não estudam o valor específico desta sociedade portuense metem-se a tratá-la com o coração viçoso e anelante: morrem na alma ou matam-se no corpo. É por isso que na semana passada um homem desespera dos recursos íntimos da coragem, não pode esquecer a mulher que o enganam não pode mesmo perdoar-lhe - e, para memória eterna de vingança de homem, rasga a artéria radial, derrama sangue até às agonias da morte, e vai morrer silencioso como o Chatterton, quando a mão do acaso, identificada à mão dum médico, lhe estanca o resto do sangue, e o salva dum suicídio de Séneca inimigo de semicúpios. / A sociedade está assim encaminhada. Honrosas excepções - homens incapazes de magoar um calo por causa do abandono da mulher, eu vos saúdo, como a tais patuscos se deve!


Camilo, O Nacional (25 Fev. 1850)

suroeste

En el aspecto cultural, los artistas fueron excelentes voceros de estos cambios que se produjeron a una velocidad inusitada para los tiempos. Esta «aceleración histórica», en palabras de Octavio Paz, llegó a las artes plásticas y a la literatura e la mano del simbolismo finisecular (que en el ámbito hispano se conoció con el término «modernismo») y las vanguardas históricas de los primeros años del siglo XX. El simbolismo se extendió como uma mancha de aceite por Europa y América, dando pie a que, algunos años después, las vanguardias históricas ecçlisonaran en el conjunto de las artes y en todo Occidente de forma simultánea. / [...] Cien años después, la Sociedade Estatal de Conmemoraciones Culturales (SECO) y el Museo Extremeño Iberoamericano de Arte Contemporáneo (MEIAC) recuerdan aquella estética, ese gran movimiento artístico internacional, como lo denominaría el poeta portugués Fernando Pessoa, que transformó para siempre la concepción de la cultura. A exposição Suroeste acerca al publico el amplio período estético que compreende cronológicamente desde 1890 a 1936, con el objecto de iluminar mejor las raíces de la cultura actual y la forma de entender el mundo de las nuevas generaciones. / [...] Suroeste oferece una visión panorámica de los inícios de esa red de contactos, algo así como una colección de fotogramas que resalta cómo en la literaturam la plástica, el cine, la fotografía, la música el diálogo fue posible y fecundo entre los primeros modernistas y el primer simbolismo luso, por un lado y entre los miembros del 27 y los autores del segundo modernismo portugués, por otro.


Soledad López





Eduardo Lourenço - "O Mundo sem Saber", pp. 21-27

António Sáez Delgado - "Suroeste: el universo literario de un tiempo total em la Península Ibérica (1890-1936)", pp. 28-43.

JUan Manuel Bonet - "Portugal-España 1900-1936: artes plásticas", pp. 44-57.

José-Carlos Mainer - "Entre dos Siclos: la incertidumbre de la modernidad", pp. 58-69.

Gabriel Magalhães - "O Remorso Romântico: um ensaio sobre as desfocagens do romantismo no espaço peninsular", pp. 70-81.

Elena Losada Soler - "Una Historia Intermitente: Eça de Queirós en España", pp. 82-93.

Carlos Reis - "A Falência da Palavra Realista: antes do modernismo", pp. 94-105.

Eloísa Álvarez - "Eugénio de Castro y España", pp. 106-127.

Ángel Marcos de Dios - "Unamuno y la Literatura Portuguesa", pp. 128-141.

António Cândido Franco - "Pascoaes Ibérico", pp. 142-155.

Maria Jorge, Luís Manuel Gaspar - "Miren Ustedes: Leal da Câmara em Espanha", pp. 156-161.

Elias J. Torres Feijó - "Relacionamento Literário Galego-Português: legitimação e expansão com Sísifo ao fundo", pp. 162-187.

Victor Martínez-Gil - "Portugal y Cataluña ante la Modernidad: intercambios artísticos y literarios", pp. 188-203.

Antonio Franco Domínguez - "La Extremadura Portuguesa y la Estremadura Espanhola: los imaginarios del oficialismo", pp. 204-211.

Jordi Cerdà Subiraches - "Mouvement de Nouveauté", pp. 212-229.

Fernando Cabral Martins - A Obsessão da Identidade (Pesoa e a Ibéria do Século XX)", pp. 230-240.

Jerónimo Pizarro - "Otros Vestigios", pp. 240-249.

Antonio Sáez Delgado - "Adriano del Valle y Rogelio Buendía: los interlocutores ultraístas", pp. 250-255.

Eloy Navarro Domínguez - Ramón Gómez de la Serna, Carmen de Burgos y el «Descubrimiento» de Portugal", pp. 256-281.

Sara Afonso Ferreira - "Alamda e Espanha: os embaixadores desconhecidos», pp. 282-311.

João Paulo Cotrim, Luís Manuel Gaspar - "António Ferro: um cometa a sudoeste", pp. 312-317.

Andreia Galvão - "«De Braço Dado com Almada: Madrid, um «momento» determionante para Segurado e para a arquitectura portuguesa", pp. 318-323.

Ana Berruguété - "Vázquez Díaz y Portugal", pp. 324-339.

José Luís Porfírio - "Memórias de Vázquez Díaz", pp. 340-343.

António Apolinário Lourenço - "A Geração de 27 e o Segundo Modernismo Português", pp. 344-355.

Fátima Freitas Morna - "Vitorino Nemésio e a Espanha", pp. 356-373.

Javier Herrera - "Presencia de Portugal en el Cine Español: 1895-1936", pp. 374-385.

Salvato Telles de Menezes - "Relações Cinematográficas entre Portugal e Espanha: 1895-1936", pp. 386-394.

José de Matos Cruz - "1896-1936: Espanha / Portugal" ", pp. 395-399.

"Música na Exposição", pp. 400-403.

Hipólito de la Torre - "Cronologia Histórica", pp. 405-422.

Luís Manuel Gaspar - "Cronologia Literária e Artística", pp. 423-431.

Perfecto E. Cuadrado - "De Silêncios, Diálogos y Monodiálogos: surrealismo en España y Portugal", pp. 432-445.