
"Os livros são as melhores provisões que encontrei para esta humana viagem." (Montaigne)
sábado, 6 de março de 2010
(RE) CRIAR PORTUGAL

sexta-feira, 5 de março de 2010
o espírito comemorativo
Neste espírito temos singularmente a mentalidade cultural para o rejuvenescimento da Pátria; e neste contexto, um desses paradigmas de renovação social e cultural, será precisamente o espírito comemorativo desencadeado por Teófilo Braga à volta de Camões e as que se avizinham durante a última década de oitocentos. Ora, a revista famalicense vai imprimir ao longo dos seus anos de existência esse mesmo espírito comemorativo (o qual será retomado no pós 25-de Abril com o ciclo de homenagens dedicado a algumas figuras ilustres de Famalicão, caso de Bernardino Machado, Daniel Rodrigues, Bernardo Pindela, Daniel Rodrigues, Armando Bacelar, Lino Lima, Nuno Simões, Camilo - sempre -, entre outros) à volta de personalidades não só portuguesas, como também estrangeiras: é o caso de Camilo (várias vezes homenageado), Oliveira Martins, Jules Michelet, Vasco da Gama, o Infante D. Henrique (que será retomado nas comemorações henriquinas do Estado Novo), José Maria Latino Coelho, Antero de Quental (uma referência constante), Cristóvão Colombo, Santo António (o qual não passou despercebido em 1895 em Famalicão), etc.
Neste sentido, será com alguma ingenuidade perante as estruturas governamentais monárquicas que Sousa Fernandes dirá, logo de seguida, que "a revista não tratará de política, na acanhada e fútil significação desta palavra; não envolverá nas questões de interesses partidárias em que se esterilizam os melhores dos nossos homens. / A sua missão mira apenas a esteira uminosa por onde outros dos seus colegas se têm alçado à invejável posição de serem prestáveis à instrução pública e à literatura pátria"! De facto, ingenuidade latente, na medida em que logo no início deste editorial surge uma referência indirecta ao Ultimatum e pelo conteúdo programático da regeneração da sociedade portuguesa, lembrando as Conferências do Casino e a geração que daí advém a de 70:
"Na hora angustiosa porque a Pátria atravessa, gemendo simultaneamente sob o peso afrontoso da vilania estrangeira e sob os erros acumulados dos seus governos imprevidentes; neste momento histórico de sombrias apreensões para a gloriosa nação portuguesa, ainda há pouco nobilitada por tantos e extraordinários heroísmos e felicitada por tantas e ditosas conquistas de progresso, forçoso é que os seus filhos menos egoístas e mais patriotas não deslembrem a justa
noção do dever e colaborem na medida das suas forças para a regeneração da sua nacionalidade, trazendo à reforma dos costumes e ao paerfeiçoamento da instrução o contingente mais ou menos valioso de que possam dispôr."
Eis o sentido da nova alvorada para a sociedade portuguesa; só falta saber se, de facto, se cumpriu, pela instrução e educação!
Amadeu Gonçalves - "Nova Alvorada: o renascer cultural famalicense". In Boletim Cultural. V. N. de Famalicão, n.º 10/11 (1990/91), pp. 173-211.
obras bernardino machado, república centenário
