
"Os livros são as melhores provisões que encontrei para esta humana viagem." (Montaigne)
segunda-feira, 6 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
quinta-feira, 2 de julho de 2009
A Minha Homenagem a Oliveira Bente
BENTE, Oliveira
V. OLIVEIRA, José de (Ruivães, V. N. de Famalicão, 14-06-1920; Gondomar, Fânzeres, 24-06-2009)
Poeta, ensaísta, ficcionista e empresário de calçado famalicense, nasceu no lugar do Paço, da freguesia de Ruivães do concelho de V. N. de Famalicão.
Fez a instrução primária (2.º Grau) em 1931, ingressando, dois anos mais tarde, no Seminário dos Missionários do Espírito Santo, com o apoio do pároco da freguesia de Requião, José Marques Pinto. Após quatro anos de estudos, obtendo as mais altas classificações, entrou numa profunda crise de fé religiosa, centrada, principalmente, no problema do celibato, que considerava anti-natural. Nesta situação, abandonou o seminário e os respectivos estudos.
Em 1942 faz o serviço militar na Póvoa de Varzim, saindo no fim da recruta. Contudo, em 1943, é mobilizado para as manobras militares que se realizaram no Alentejo, numa altura em que os alemães ameaçavam invadir a Península Ibérica, devido ao facto de Portugal ter cedido a Base das Lages (Açores) aos Estados Unidos.
Profissionalmente, trabalhou no Banco Espírito Santo, assim como também na Caixa de Previdência dos vinhos, passando por vários empregos, até que se estabeleceu em 1955, por conta própria, como empresário de calçado.
Foi em 1938 que começou a colaborar na imprensa famalicense, especialmente, e particularmente, no “Estrela do Minho”, contando com o apoio do Director, José Casimiro da Silva. Manteve, neste mesmo jornal uma extensa e variada colaboração temporal, na criatividade poética, de cronista literário, ensaísta e ficcional.
Apaixonado por Camilo, dedicou-lhe uma série de ensaios, nomeadamente “Via Dolorosa” (1938), “Ruivães na Obra de Camilo” (1939), uma série de artigos sobe as notas de leitura de Camilo (1939) a livros de escritores como Alexandre Herculano, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro e Oliveira, e, finalmente, “A Campanha Pró-Museu Camiliano” (1939-1940). Nesta laboração camiliana, teve acesso a documentos inéditos na Casa-Museu, em Seide S. Miguel (devido à relação de amizade que manteve com Raquel Castelo Branco), divulgando alguns desses documentos na revista coimbrã neo-realista “Vértice” (Maio 1942).
No “Estrela do Minho” coordenou o suplemento literário “Para as Raparigas”, no qual chegou a colaborar Armando Bacelar com o pseudónimo feminino Inês Gouveia, efectuando as colunas “Escaparate”, “Projecções” e “Bibliografia”, aqui divulgando pela primeira vez em V. N. de Famalicão, Maiakovski, Bernard Shaw, André Malraux, Paul Elouard, entre outros, assim como igualmente os escritores neo-realistas, caso de Urbano Tavares Rodrigues, Alves Redol, Mário Dionísio ou Augusto dos Santos Abranches.
Colabora noutros periódicos, tais como, por exemplo, “O Comércio da Póvoa de Varzim” (Póvoa de Varzim), “Semana Tirsense” (Santo Tirso), “O Barcelense” (Barcelos), “Ecos do Sul” (Montemor-o-Novo), “O Globo”, “O Comércio de Gaia” (Vila Nova de Gaia), “A Voz do Calhabé” (Coimbra), “Almanaque de Montemor-o-Novo” (1944), “O Regional” (S. João da Madeira) e na revista “Cultura e Recreio”. Foi director do semanário de Oliveira de Azeméis “A Voz de Azeméis”, de 1989 a 1995.
Tanto assinava como José de Oliveira, como Oliveira Bente, a sua designação pseudonímica literária. A adopção do apelido Bente é assim justificado: como o correio de Bente (freguesia do concelho de V. N. de Famalicão) era o mais próximo de sua casa que o de Ruivães, os seus amigos começaram a chamar-lhe “Oliveira Bente”.
É preso, a primeira vez, em 19 de Março de 1945, no Porto, devido ao seu convívio numa tertúlia literária portuense, constituída essencialmente por estudantes e trabalhadores intelectuais., envolvendo numa célula comunista clandestina. Pertenceu ao M. U. D. É desta altura o poema “Preso Político”, incluído na sua recente antologia poética “Voo de Pássaro” (2005). Na prisão conheceu Lino Lima, de quem se tornaria amigo. Com o fim da 2.ª Guerra Mundial, foi libertado em 31 de Julho de 1945, após um amnistia de Salazar, tendo este o receio de que os vencedores do conflito o obrigassem a aceitar a transição para a democracia. Voltou novamente a estar preso em 1947, mas desta vez, apenas por quinze dias, por falta de provas.
Em 1948 publica “Combate”, não só de fortes influências neo-realistas, como também por Maiakovski, com poemas de intervenção política, apesar do livro ser dedicado, ainda que tardiamente, à libertação de França. O livro teve, na época, uma ampla recepção na imprensa famalicense e na revista literária “Vértice”, através de Armando Bacelar com o seu pseudónimo Carlos Relvas, destacando-se, no cômputo geral, as qualidades técnicas do poeta.
Reedita, em 1996, “Ruivães na Obra de Camilo” (encontrando-se a preparar uma 2.ª edição corrigida e ampliada) e em 2005, no “Boletim Cultural” da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, a “Via Dolorosa”.
Amadeu Gonçalves
P. S. Foi com grande tristeza que, através de um texto de Filipe Oliveira, publicado no jornal famalicense "O Povo Famalicense", soube do falecimento de José de Oliveira, uma das personagens míticas no campo da actividade cultural famalicense, principalmente nos anos quarenta. Ultimamente, nestes últimos dois anos, tinha entrado com José Oliveira numa franca epístola cordial, principalmente na troca de informações bibliográficas, as quais dizem respeito à sua intensa colaboração na imprensa portuguesa. Forneceu-me, igualmente, algumas informações dos colaboradores nas páginas dos seus suplementos literários que criou no jornal "Estrela do Minho" (verificar neste blog o item suplementos literários). O seu préstimo para comigo foi, de facto, fantástico, porque me permitiu completar as informações que então tinha. Ficará para sempre na minha memória esta sua franca colaboração.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
APEFP - Ética, Política e Marketing

A VII sessão, e a última do I Filo-Café organizado pela Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática (APEFP), tem como convidado o especialista em marketing político João Manuel Machado Faria de Abreu, natural de Santo Tirso, com o tema Ética, Política e Marketing.
Numa altura em que tantas linhas já se escreveram na imprensa diária e tantas palavras já se pronunciaram a propósito dos resultados das últimas eleições europeias, os/as quais desconcertaram a realidade do mapa sócio-político nacional, é nossa intenção realizar uma breve análise das mesmas.
Desconcertaram por algumas razões, nomeadamente, e em primeiro lugar, pelas sondagens anteriormente realizadas antes das eleições, elas próprias enganadoras, não tendo sido, aliás, a primeira vez que tal fenómeno aconteceu em Portugal. Uma segunda razão é a vitória da ilusão do P. S. D. a nível nacional, perante a qual, mais do que propriamente uma alternativa ao poder socialista, se assistiu a uma Vitória de Pirro, de possível transição para algo ainda mais obscuro, digamos, por outras palavras, uma vitória cínica, essencialmente com a vontade de assaltar o poder. O mesmo aconteceu a nível local: a imprensa famalicense destacou na primeira página a vitória concelhia do P. S. com os insignificantes votos 235! Uma terceira razão deve-se particularmente a alguns críticos de nomeada deste P. S. D., que se renderam fulminantemente a esta vitória da ilusão. Para além das sondagens enganadoras, surgem-nos agora os críticos enganadores, incoerentes com eles próprios, os que escrevem páginas inteiras na imprensa diária. Os próprios políticos também acabam por ser incoerentes com eles próprios. E questiona-se isso mesmo: a falta da incoerência dos actores políticos (será de forma (in)consciente?), dos próprios críticos e, muitas vezes, dos próprios jornalistas. Será tudo isto marketing político?
Uma das últimas razões desconcertantes destas eleições europeias foi o aumento dos votos nulos e, particularmente, dos votos em branco. Não encontrei na imprensa uma análise sócio-política à volta dos votos brancos, os quais significam simplesmente que as pessoas que votaram em branco não se enquadram no actual quadro político-partidário português, o que é grave. Mesmo o fenómeno da elevada abstenção nestas últimas eleições europeias, as quais foram uma espécie de pré-legislativas, representa o que disse com os votos brancos. Ah, foram europeias, dirão os mais cáusticos e dogmáticos, não legislativas, podem dizê-lo! Contudo, mesmo o quadro abstencionista das legislativas e das autárquicas é bastante considerável relativamente aos últimos anos. As variações não têm sido significativas.
É neste quadro pós-europeias, e numa altura em que se estuda a hipótese das eleições autárquicas e legislativas serem em comum, no mesmo dia, a APEFP não poderia deixar passar a análise política, numa base ética e de marketing, na medida em que o Presidente da República reforçou e enalteceu a urgência da ética nas instituições e dos cidadãos, no seu discurso de 10 de Junho.
Ora, para estas questões e outras, a APEFP convidou o especialista João Abreu para esta última sessão do seu I Filo-Café. Licenciado em Direito, no ramo Jurídico e Económico (1991), realizou, posteriormente, não só uma pós-graduação em Marketing (1993), como realizou o mestrado na mesma área, defendo a tese Marketing Jurídico: a sua aplicação no caso dos serviços profissionais dos advogados em Portugal (1997), tendo realizado a sua formação académica na Universidade Portucalense (Porto).
Se a sua actividade profissional é repartida actualmente na docência, entre o Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM, Matosinhos) e no Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA, V. N. de Gaia) – tendo igualmente exercido a docência na Universidade Fernando Pessoa e na Universidade Católica (Porto) –, realça-se, indiscutivelmente, a sua actividade de formador, tendo sido, aliás, Director da formação da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE, Porto).
Para além da sua actividade profissional, João Abreu tem também uma experiência invejável na actividade cultural, social e política.
Na actividade cultural destaca-se, sem sombra de dúvidas, a sua Academia de Emoções (Porto), fundada em 2007. Aliás, João Abreu já foi considerado como sendo o primeiro emotólogo português, tendo obtido uma certificação exclusiva em Emotologia pela Cidade do Cérebro, num curso realizado em São Paulo. Salienta-se também a sua experiência como autarca, tendo sido responsável pelo gabinete da cultura da Câmara Municipal de Penafiel. Realçamos ainda a sua colaboração na imprensa regional, nomeadamente Jornal de Santo Thyrso, Jornal da Trofa, entre outros, e, particularmente na revista Export Press (tendo sido, aliás, um dos seus redactores) salientando o texto O Marketing Para a Exportação da Cultura (1992). Publicou Marketing de Serviços Para Advogados (1999) e o livro de poesias Caril dos Anjos (2006).
No campo social é membro, ocupando cargos directivos, de algumas das instituições tirsenses de solidariedade social, tendo sido membro da direcção da Associação Portugal-Moçambique (Porto). Politicamente, é vereador pelo P. S. D. na Câmara Municipal de Santo Tirso e actual candidato à mesma autarquia.
A APEFP, que tem demonstrado cada vez mais a sua importância na sociedade para o amplo debate das ideias, orgulha-se de apresentar um tema tão polémico e alucinante como é a política, com um convidado especializado, não só no que diz respeito perante a teoria, como igualmente na prática. Se na teoria tem já dois cursos frequentados, nomeadamente, o Curso de Marketing Pós-Eleitoral, realizado sob a orientação de Manhanelli Consultores, e o Curso de Planeamento Estratégico de Comunicação Política, este realizado pela Marco Iten Consultores (ambos os cursos frequentados em São Paulo), chegando a realizar no Brasil várias conferências sobre o tema que hoje a APEFP apresenta, na prática surge o candidato à autarquia tirsense pela segunda vez consecutiva.
A sessão será realizada no Museu Bernardino Machado no próximo dia 13 de Julho, pelas 21h30, em V. N. de Famalicão, e terá como moderador Amadeu Gonçalves, Presidente da Assembleia-Geral da APEFP. Entrada gratuita.
O Presidente da Assembleia-Geral
APEFP
Amadeu Gonçalves
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Livros

«Teoria Moral e Ética Aplicada são dois volumes que foram concebidos para serem lidos sequencialmente. É certo que se trata de duas obras independentes, cada uma das quais pode ser lida sem a outra, mas estão de tal maneira interligadas, que não é aconselhável fazê-lo. Com efeito, em Teoria Moral, as ideias e os princípios éticos são apresentados no abstracto, com vista à sua aplicação a casos concretos; é em Ética Aplicada que são discutidos os casos concretos, pressupondo este segundo volume, em grande medida, as ideias e os princípios anteriormente defendidos (embora as grandes linhas com base nos quais foram defendidos sejam novamente recordadas). Os dois livros foram escritos em conjunto, e a melhor maneira de os ler é em sequência.»
David Oderberg
«As obras Ética Aplicada e Teoria Moral, o volume que faz par com aquele, constituem uma alternativa bem necessária à ortodoxia consequencialista. Em Ética Aplicada, os conceitos fulcrais da moral tradicional - os direitos, a justiça, o bem e o valor fundamental da vida humana - são aplicados a uma série de problemas, actualmente prementes: o aborto, a eutanásia, os animais, a pena capital e a guerra.» (contra-capa)


«... a tese que pretende defender é a de que aqueles que apregoam que Cristo é apenas um de muitos mitos..., e a religião que Ele pregou uma de muitas religiões..., mais não fazem do que repetir uma fórmula perfeitamente trivial, que é no entanto contraditada por um facto perfeitamente extraordinário.»
Chesterton
«Este livro é uma introdução a alguns dos problemas principais da Filosofia - Deus, a mente, a liberdade, o conhecimento e a ética. Os capítulos podem ser lidos isoladamente, mas contam uma história mais ou menos contínua se forem lidos pela sua ordem. Começamos com algumas reflexões sobre o legado de Sócrates e avançamos depois para a existência de Deus, que é, talvez, a questão filosófica mais básica de todas, dado que a resposta que lhe dermos influenciará as nossas respostas a todas as outras. Esta questão conduz naturalmente a uma discussão acerca da morte e da alma, e depois as ideias mais modernas sobre a natureza das pessoas. Os últimos capítulos incidem na possibilidade de obtermos conhecimento objectivo na ciência ou na ética.»
James Rachels
Outros temas problemáticos que são analisados neste livro: o mal, o da identidade pessoal, o do livre-arbítrio, da questão da moralidade ou porque devemos ser morais, o sentido da vida e a felicidade.
Conjunto de textos históricos publicados em várias revistas e jornais, aborda temáticas históricas como o Liberalismo Português, a República, Salazar e Caetano, o «25 de Abril» ou Álvaro Cunhal. Uma nova perspectiva sobre a História de Portugal mais recente.
«A República, depois de um período confuso, banira o terrorismo e tendia para a moderação. Os conservadores, com a ajuda da Igreja, procuravam o caminho que, pouco a pouco, levaria a Salaz
«O dr. Cunhal é parecido como uma gota de água com o dr. Salazar virado do avesso.»
quinta-feira, 18 de junho de 2009
"Coração, Cabeça e Estômago"

Apontamentos à Volta do Livro "Coração, Cabeça e Estômago" (CCE)
Eis um romance vivo de Camilo, perante o qual, indiscutivelmente, com uma interioridade textual riquíssima, se desvela aquilo, uma vez mais, que poderá ser o ser humano perante o tema maior deste livro, o amor, na sua essência, ao lado do “dinheiro” – uma vez mais.
Para mim, Silvestre da Silva, para além dos problemas que a personagem pode criar entre o romantismo e o realismo, é aquela personagem tipo-masculina que se identifica, acima de tudo, como protótipo do ideário romântico no qual se relaciona, mais do que com a vida, com a própria literatura, na hipótese da literatura ser vida. Camilo em Silvestre da Silva? Acredito que sim, tal como em Luís da Cunha (“Neta do Arcediago”) e, a minha personagem predilecta, Guilherme do Amaral (“Memórias de Guilherme do Amaral”, “Onde Está a Felicidade” e “Um Homem de Brios”), a mais rica personagem masculina da interioridade ficcional camiliana, onde a vida se confunde com literatura e a literatura com a vida.
Relativamente ao mundo feminino, em CCE, temos a personagem feminina Marcolina, aquela que o mundo despreza; mas a sua edificação salvífica enquanto personagem em queda, e mesmo em queda se liberta, prefiro indiscutivelmente a Liberata do livro “Neta do Arcediago”, que representa não só o tipo feminino camiliano em queda absoluta, para além de todas as convenções sociais, se converte em anjo e encontra a felicidade, neste mundo e no outro, no total abandono de tudo e de todos. São as “almas” eleitas de Camilo, tal como Augusta (“Um Homem de Brios”), a qual na queda, para lá de todas as construções morais da sociedade, consegue a ascensão moral e social.
Pensamentos
CCE
Um filósofo não deve aceitar no seu vocabulário a palavra morte, senão convencionalmente. Não há morte. O que há é metamorfose, transformação, mudança de feitio.
… a felicidade quer-se recatada para não suscitar invejas: é ela como a fina essência das flores distiladas, que perde o aroma, destapado o cristal que a encerra.
Um verdadeiro amor é segunda inocência.
Grande é a angústia do homem que de si próprio quer esconder seu aviltamento!
Felizes os que choram… É a única felicidade que eu posso dar-lhe.
E o meu riso era um espirro de ferocidade, uma destas coisas que sente o Lúcifer, quando o sacode a vertigem da raiva impotente contra Deus.
Amadeu Gonçalves
Para mim, Silvestre da Silva, para além dos problemas que a personagem pode criar entre o romantismo e o realismo, é aquela personagem tipo-masculina que se identifica, acima de tudo, como protótipo do ideário romântico no qual se relaciona, mais do que com a vida, com a própria literatura, na hipótese da literatura ser vida. Camilo em Silvestre da Silva? Acredito que sim, tal como em Luís da Cunha (“Neta do Arcediago”) e, a minha personagem predilecta, Guilherme do Amaral (“Memórias de Guilherme do Amaral”, “Onde Está a Felicidade” e “Um Homem de Brios”), a mais rica personagem masculina da interioridade ficcional camiliana, onde a vida se confunde com literatura e a literatura com a vida.
Relativamente ao mundo feminino, em CCE, temos a personagem feminina Marcolina, aquela que o mundo despreza; mas a sua edificação salvífica enquanto personagem em queda, e mesmo em queda se liberta, prefiro indiscutivelmente a Liberata do livro “Neta do Arcediago”, que representa não só o tipo feminino camiliano em queda absoluta, para além de todas as convenções sociais, se converte em anjo e encontra a felicidade, neste mundo e no outro, no total abandono de tudo e de todos. São as “almas” eleitas de Camilo, tal como Augusta (“Um Homem de Brios”), a qual na queda, para lá de todas as construções morais da sociedade, consegue a ascensão moral e social.
Pensamentos
CCE
Um filósofo não deve aceitar no seu vocabulário a palavra morte, senão convencionalmente. Não há morte. O que há é metamorfose, transformação, mudança de feitio.
… a felicidade quer-se recatada para não suscitar invejas: é ela como a fina essência das flores distiladas, que perde o aroma, destapado o cristal que a encerra.
Um verdadeiro amor é segunda inocência.
Grande é a angústia do homem que de si próprio quer esconder seu aviltamento!
Felizes os que choram… É a única felicidade que eu posso dar-lhe.
E o meu riso era um espirro de ferocidade, uma destas coisas que sente o Lúcifer, quando o sacode a vertigem da raiva impotente contra Deus.
Amadeu Gonçalves
Ética e Futebol
A sexta sessão (com o tema Ética e Futebol e que decorreu no último dia 15 de Junho no Museu Bernardino Machado, em V. N. de Famalicão) do I Filo-Café organizado pela Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática (APEFP), teve como convidados o árbitro de futebol da I Liga profissional Cosme Machado e o ex-jogador de futebol “Tibi”, isto é, António José de Oliveira Meireles, uarda-redes que foi do F. C. do Porto.
Mais uma vez, superando as expectativas, não só pela adesão da comunidade a esta iniciativa (como às outras sessões), como igualmente pela participação activa do auditório (outra característica comum), o I Filo-Café organizado pela APEFP tem vindo a demonstrar, cada vez mais, o seu papel activo, e em crescendo, na própria sociedade, tal como a imprensa o tem revelado, evidenciando, assim, cada vez mais a sua importância.
Enquanto que o moderador do debate, Manuel Barreira (Vice-presidente da Direcção Nacional da APEFP) apresentou inicialmente, e de uma forma breve e apelativa, aquilo que poderá ser a ética na sociedade contemporânea, já Cosme Machado, formador de árbitros, salientou principalmente aquilo que não é ético no futebol profissional português, evidenciando as muitas pressões a que os árbitros, muitas vezes, estão sujeitos.
Manuel Barreira apresentou três condições daquilo que poderá ser a ética, nomeadamente i) a pessoa enquanto sujeito moral, ii) a função da reflexão ética e iii) os postulados para uma condição ética. Cada uma destas condições contém, em si, as suas próprias características. Assim, relativamente à primeira condição podemos apontar a singularidade e a dignidade, a liberdade e o compromisso, entre outras; na segunda, surge-nos a clarificação e a fundamentação, a aplicação e a promoção, e, finalmente, na última, temos a honestidade e o respeito das leis e às pessoas, assim como a transparência.
Por seu turno, Cosme Machado apresentou o que não é ético no futebol português, nomeadamente nos clubes, na comunicação social e os comentários que os próprios clubes, os vencidos e os vencedores, fazem no fim do jogo.
“Tibi”, sempre atento e dialogante, intervinha a cada passo, animando a sessão, esclarecendo e dando exemplos práticos, comparando, ao mesmo tempo, o futebol do seu tempo com o de hoje, tendo sido bastante crítico com a comunicação social, principalmente as televisões.
“Tibi”, sempre atento e dialogante, intervinha a cada passo, animando a sessão, esclarecendo e dando exemplos práticos, comparando, ao mesmo tempo, o futebol do seu tempo com o de hoje, tendo sido bastante crítico com a comunicação social, principalmente as televisões.
Amadeu Gonçalves
Presidente Assembleia-Geral
APEFP
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