domingo, 10 de outubro de 2010

a filosofia e os filósofos como companhia



DROIT, Roger-Pol
A Companhia dos Filósofos. Trad. Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 2004. (Pensamento e Filosofia; 102)



I - Os Que Acreditavam na Verdade, Os Que Não Acreditavam
  • i.i - Maneira de Falar, Forma de Viver (Marco Aurélio, Pitágoras, Luciano)
  • i.ii - Dos Gregos Sempre Recomeçados (Heráclito, Demócrito)
  • i.iii - Silêncios e Comentários (Sócrates, Platão, Aristóteles)
  • i.iv - Não Esquecer a Índia (Georges Vallin, André Bareau)
  • i.v - Estrelas Cadentes (St.º Agostinho, Guilherme d`Ockam, Montaigne, Giordano Bruno, Pic de la Mirandola)
  • i.vi - Razão Clássica (Descartes, Espinosa)
  • i.vii - Exercício de Desilusão (Hobbes, Gassendi, Jacques Esprit)
  • i.viii - Luzes Paradoxais (Lawrence Sterne, berkeley, Madame de Châtelet, Dom Deschamps, Sade)
II - Alguns Mortos: Deus, Rei, Verdade
  • ii.i - A Operação às Cataratas (Kant, Volney)
  • ii.ii - A Mala-Posta e as Marionetas (Hegel, Schopenhauer)
  • ii.iii - À Procura de Absoluto (Schelling, Wilhelm von Humboldt, Feurbach)
  • ii.iv - Ciência, Amor e Couve-Flor (Comte, Fourrier, Joseph Ferrari, Proudhon)
  • ii.v - Os Marx e a Plebe (Matx, Louis-Gabriel Gauny)
  • ii.vi - Renascença Oriental (Coronel de Polier, Renan, Sobravardi)
  • ii.vii - Um Mau Rapaz (Nietzsche)
  • ii.viii - Intermédio (Bergson, Maurice Blondel, Carlo Michelstaedter, Jaurés, Georges Palante)
III - Depois das Guerras
  • iii.i - O Idiota da Tribo (Wittgenstein)
  • iii.ii - Nazi Contra Vontade (Heidegger)
  • iii.iii - Combate (Cavaillès, Jankelevitch, Boris Vildé, Arendt)
  • iii.iv - O Lugar Vazio (Bernard Grvethuysen, Max Horkheimer, Sartre, Merleau-Ponty, Ernst Cassirer)
  • iii.v - O Caimão e o Espectáculo (Althusser, Debord)
  • iii.vi - Amanhã a Ásia (Mêncio, Swâmi Prajnânpad)
  • iii.vii - Foucault não é Foucault
  • iii.viii - Santo Deleuze
  • "Quer a filosofia, no seu desenvolvimento, seja uma marcha para o absoluto ou uma série de acasos e de ignorâncias, um perpétuo recomeço ou um progresso marcado por patamares e rupturas, atrevemo-nos a dizer que isso não tem importância. Pelo menos quanto ao uso prático que recomendamos aos utilizadores deste livro. Em vez de construir grandes considerações sobre a evolução do pensamento, gostaríamos de convidar o leitor a sentar-se e a fazer um esforço para deixar de estar triste." (19-20)
  • "A questão não é obrigar-se a ser alegre nem fazê-lo artificiosamente. Mas compreender como a mágoa é uma vida menor, um apoucamento. Uma das questões chaves da filosofia é perguntar não só o que podemos saber, mas também o que podemos fazer desses saberes na nossa existência, em que medida eles são capazes da a guiar, de a engrandecer, de a apoiar na sua evolução." (20)
  • "... e ainda o sentimento de que a filosofia não é necessariamente difícil, reservada a alguns poucos, só acessível nos fundos dos corredores escuros de muito antigas bibliotecas onde só depois de se ler tudo se pode começar a pôr uma questão. / Ela é o inverso. A experiência do pensamento passa por uma relação directa com textos, sem as glosas, sem os comentadores inesgotáveis. Ou os grandes textos devem manter-se inacessíveis, só vislumbrados, em fim de vida, pelos melhores peritos, ou a filosofia pode existir, tal e qual, para cada um, para quem se dê ao trabalho. Numa espécie de festa e de prazer especial. Convivei, pois, leitores, com os filósofos de quem mais gostais, aqueles que vos tranquilizam, vos falam e vos convencem, só porque existem e porque o mundo não é tão mau como se diz. Não hesiteis: abeirai-vos daqueles que vos irritam mais, que vos deixam em cólera, cuja simples exitência vos parece quase impossível, dis quais suspeitais que é difícil descobrir a razão por que são tão diferentes de tudo o que podeis ser e sentir. Esses são ainda mais importantes." (20)
  • "Dir-se-ia que ela, a filosofia, tem sorte. Nunca o mundo foi tão difícil de pensar, ao mesmo tempo terrível e desconcertante [...] O se espera dela, após o descalabro das ideologias totalizantes, parece tão diverso e vital como o que se exige da democracia, sua irmã gémea, quando as ditaduras caem. Pede-se-lhe muito, à filosofia! Criar conceitos. Escorar saberes. Elaborar métodos. Extrair significações. Manter dúvidas. Forjar argumentações. São-lhe reclamados, juntos, invenção e rigor, largueza de vistas, preocupação do detalhe, fidelidade ao seu passado e gosto pela aventura." (25)
  • "Convoca-se a filosofia como último recurso, um último refúgio, num tempo desestruturado onde se agudizam os fanatismos e grassa a estupidez." (26)
  • "Longe de ser um lixo incómodo e irrisório, a aprendizagem individual da reflexão crítica é a condição não só da tolerância e do respeito pelos outros, mas também da resistência a todas as formas de fanatismo ou de opressão. Em suma, essa escola da razão que constitui a prática da filosofia, mesmo modesta e pouco científica, contribui para formar os cidadãos e para tornar mais viva a democracia." (27)
  • "... a difusão das filosofias, a convivência com as suas subtilezas de espírito, a sua presença nos estudos mais diversos e na formação permanente dos adultos são hoje apostas decisivas, cuja importância nem sempre é suficientemente percebida. / Os filósofos de profissão, no seu conjunto, são em parte responsáveis por essa indiferença. A situação é no mínimo paradoxal. Com efeito, o que se verifica é que raramente a necessidade de filosofia foi tão viva. Ao mesmo tempo que vacilam referências e significações, práticos vindos de disciplinas muito diversas... interrogam a longa tradição dos filósofos, procuram nas suas obras ferramentas conceptuais." (27)
  • "No seu conjunto, salvo raras excepções, a filosofia parece hoje mais preocupada em comentar o seu passado e menos em agarrar-se ao presente." (28)
  • "... o que não pode faltar, como condição mais fundamental, é um grande vagar. Nenhuma reflexão se pode constituir sem tomar as suas distâncias face às tarefas imediatas, às solicitações do momento e às convicções mais assentes. Neste sentido, os filósofos estão sempre vagos. O que os ocupa muito. Num certo sentido, é isso mesmo que os faz viver. A nossa época mal começa a descobrir, ainda espantada por esta simples evidência reencontrada, que a filosofia tanto pode ser maneira de viver como construção de discurso." (29)

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