terça-feira, 3 de agosto de 2010

crónicas de agosto

Portugal é um país que se revela, cada vez mais, igual a si próprio. Hoje, de manhã, ao ler o "Jornal de Notícias" algo espantoso: dois jovens mortos! As circunstâncias são fantásticas, porque o primeiro, vítima de um acidente de viação, não tendo sido ainda o responsável capturado pelas autoridades, é visto pelo amigo em tal situação. Isto faz-me lembrar quando Fernando Pessoa recebeu a última carta do amigo Mário de Sá-Carneiro, o qual já se tinha suicidado, sem o primeiro saber ainda... Como se não chegasse, o amigo, luso-francês, decidiu ir "arejar" a um café, este é assaltado e morto a tiro!!! Aliás, o primeiro, já tinha reparado que Portugal era um país violento, dando um exemplo, quando viu duas mulheres zangadas, ficando admirado com os gritos e as agressões. Bom, também já cheguei a ver duas mulheres engalfinhadas, e, neste caso, a luta era com os cabelos e os insultos! Portugal não é, nem nunca foi, um país de brando costumes: basta ver, por exemplo, "O Século" entre finais do século XIX e princípios do XX (assim como também "O Mundo"´, que surge em 1900): sempre houve homicídios, violência doméstica e crimes passionais! O "Jornal de Notícias" é o exemplo mais concreto disso mesmo na nossa contemporaneidade. Mas mais do que os actos, depois, ao fim do dia, ao comer o meu geladinho bem fresquinho no Casal, como ainda não tinha dado uma vista de olhos ao "Público", e logo nas primeiras páginas, fica-se espantado com a crise algarvia da saúde, mas mais ainda, com o que um responsável autárquico (da Câmara de Loulé) afirma, chegando ao cúmulo de ser tal afirmação o título da notícia: "Como é possível um turista de luxo ficar numa maca de corredor de hospital?" Mas a saúde não é para todos? Como se não bastasse as horas intermináveis que o cidadão, seja português ou estrangeiro, fica há espera, tinha de aparecer este título fantástico! Como se não chegasse, o presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve questiona "Não querem esperar? Há as clínicas, os consultórios". Como se os portugueses ganhassem riso de dinheiro para tratarem a saúde nas clínicas privadas! Como se não chegasse ainda, mais um inquérito sobre um outro inquérito... e assim roda Portugal, igual a sí próprio!!! E como ontem falei em Georges Minois, lembrei-me de ir até há minha bancada filosófica e de lá retirei estes livros, os quais podem ajudar um pouco a perceber as mentalidades sociais contemporãneas, tão absurdas, como complexas.












segunda-feira, 2 de agosto de 2010

cartazes republicanos




  • Hoje, após um excelente almoço, imaginem só, e até porque o tempo agora está até mais calmito, um arrozito de cabidela, pois então, com aquele vinho branco fresquinho que ainda não consegui perceber qual a marca, não aquele vinho verde gazeificado, mas um verde bem suave, que escorrega muitíssimo bem, resolvi dar um pulo até à Livraria Fontenova, até porque a minha colega e amiga Paula, que regressava das férias, ou de uma pequena parte delas, tinha-me dito que lá viu um livro sobre os cartazes republicanos, quando foi comprar os livros escolares para os seus filhotes. Aventurei-me, pois, então, a ir até à Livraria do burgo famalicense, que continua ainda a ser única, graças a Deus, e lá fui parar, nas calmas, tinha tempo, hora do passeio e da digestão antes do café. Antes de mais, o preço: caro! O que se tem notado nas edições não só da Comissão do Centenário Para a República, como também nos livros patrocinados pela mesma, os livros atingem preços exorbitantes! E, depois, por outro lado, num caso ou noutro, falta um critério objectivo e científico. Mas o escândalo que estamos a assistir é, particularmente, nos tão afamados "Roteiros Republicanos", distribuídos pelo "Jornal de Notícias" e "Diário de Notícias", dando a respectiva Comissão de que Portugal é apenas Lisboa e o resto continua a ser paisagem!!! Como se os livros não bastassem ter um preço elevado, o que até não é o caso dos roteiros (nem mesmo já pedidos no quiosque habitual eles ainda não chegaram!), a Comissão gastou rios de dinheiro, através dos periódicos citados, na publicidade dos mesmos roteiros e estes nem vê-los! E depois, algo que nunca percebi em Portugal, diz respeito aos livros patrocinados institucionalmente: caros! Estou a lembrar-me, por exemplo, dos livros de Georges Minois. Acaba por ser um escândalo! A respectiva Comissão Nacional Para as Comemorações do Centenário da República continua na mesma órbita. Parece que brincam com os dinheiros dos contribuintes, não acham? E alguns até gostaria de ter... Bom, afinal de contas, hoje lá se abriu uma excepção, até porque o almoço correu bem, um luxozinho, e comprei "Os Cartazes na Primeira República", de Maria Alice e Tiago Baptista, aqui reproduzindo a capa e dois documentos de Bernardino Machado, os quais, por sinal, existem no Museu com o seu nome, em Vila Nova de Famalicão... E mais não digo!








domingo, 1 de agosto de 2010

literatura e cultura famalicão 1901

  • Bernardino Machado - "Pela Liberdade".


  • Duas forças, sobretudo, dominam o mundo, maiores que todas as outras, a liberdade, que é a maior força singular, e a sociabilidade, que é a maior força colectiva. Harmonizá-las, eis o problema. Unidas, dão a propseridade e grandeza das nações e da humanidade; separadas, em conflito, a sua decadência e ruína.
Bernardino Machado


  • Bernardino Machado - "A Associação Liberal de Coimbra".
  • Bernardino Machado - "Portugal e Espanha".
  • São inauguradas as Escolas Conde de S. Cosme do Vale. Foi um dos beneméritos, brasileiros de torna-viagem, em Famalicão, na educação e na instrução. O número único (de oito páginas) de homenagem que aqui apresento (algumas páginas) é do espólio de Vasco de Carvalho, o qual pode ser visto na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco/FundoLocal, de Vila Nova de Famalicão. Vasco de Carvalho colocou no jornal, conforme se pode ver, muitas notas pessoais.





  • É colocado no Liceu de Macau Manuel da Silva Mendes.









quarta-feira, 28 de julho de 2010

abílio de magalhães brandão (1860-1930)

Famalicense por adopção, afectividade social, vivência literária e de residância, este hábil etnógrafo nasceu na freguesia de São Sebastião, concelho de Guimarães, falecendo na freguesia de S. Tiago da Cruz, concelho de V. N. de Famalicão, onde residiu na casa da Quinta de Ribela. No ano do seu falecimento, o jornal famalicense Estrela do Minho fazia-lhe o seguinte elogio público: "Descendente de uma família muito distinta de Guimarães, aqui constitui familia e pelo mseu correctíssimo porte conquistou a simpatia de todos os famalicenses. / Espírito culto e de clara inteligência, colaborou em várias publicações literárias e económicas, sendo um entusiasta dos modernos processos agrícolas nas suas propriedades." Se, por um lado, profissionalmentefoi Recevedor e Resoureiro Municipal em paços de Ferreira, por outro lado, no plano cívico pertenceu à Comissão Regional da Agricultura de Santo Tirso, tendo sido vogal da respectiva comissão.






Publicou em 1896 o "Manual do Recebedor do Concelho ou Bairro". O livro é dedicado a João Franco, entao Ministro do Reino, que o tinha nomeado para o cargo referido em 1890. Quem fará a recepão a este livrinho será Sousa Fernandes no jornal famalicense, e órgão dos republicanos, O Porvir, em 21 de Outubro de 1896. A actividade cultural de Magalhães Brandão ficou notabilizada com os seus curiosos estudos e recolhas de documentos etnográficos, nas suas próprias palavras, o folclore, passando pelas adivinhas, os jogos populares infantis, as tradições populares na prática da agricultura, etc. Rompe, desta forma, com o cientismo do século XIX, na medida em que este considerava o folclore (cultura popular) como algo de inútil. Os seus estudos detectam já a antropologia cultural contemporânea, a qual recorre à tradição, à pedagogia e à psicologia. Publicou os seus trabalhos na Revista de Guimarães, da Sociedade Martins Sarmento, na Nova Alvorada, de V. N. de Famalicão, e, a nível de jornais, nos de Famalicão Lavoura do Minho e Estrela do Minho, no Jornal de Paços de Ferreira, e, para além da amizade que manteve com José Leite de Vasconcelos, foi um dos seus colaboradores na Etnografia Portuguesa, relativamente aos costumes e às tradições do Baixo-Minho, e, em especial, de V. N. de Famalicão.




Em plena época de efervescência republicana (1912), não só devido à lei da Separação da Igreja e do Estado, mas também devido à ruptura do Partido Republicano, aparecendo o Partido Republicano Evolucionista, de António José de Almeida, e o Partido União Republicana de Brito Camacho, surge envolvido na polémica da Fonte Santa de Mouquim, que se deu na sua propriedade. As considerações simpáticas de Sousa Fernandes ao livrinho que Magalhães Brandão publicou em 1896, serão, agora, de perseguição. Toda esta polémica mereceu, já no seu fim, uma longa reflexão crítica no jornal famalicense Desafronta, em 23 de Novembro de 1912, jornal que, aliás, era o órgão do partido Republicano Evolucionista em V. N. de Famalicão. Nesta mesma longa reflexão pretende justificar cientificamente as qualidades termais da água existente na propriedade, descrevendo que o seu conhecimento é simplesmente ignorânica por parte dos poderes políticos e públicos, reflectindo, igualmente, sobre a história da casa da Quinta de Ribela, como dialogando a sua defesa pessoal das acusações que era alvo, principalmente no aproveitamento económico. Politicamente, o atingido foi o seu filho, António Magalhães Brandão, farmacêutico, e estava filiado no Partido Republicano Evolucionista.



A polémica foi não só vivida na imprensa famalicense, como também surgiu na imprensa nacional. É o caso da Ilustração Portuguesa (1 de Julho de 1912) num artigo de Sousa Martins ou no Mundo Ilustrado, de 30 de Junho de 1912. Reproduzo aqui o texto de Sousa Martins, a longa reflexão de Magalhães Brandão publicada no jornal Desafronta, em 25 de Novembro de 1912, as capas das duas revistas em que colaborou e o primeiro texto intitulado Eucaliptos que publicou no jornal famalicense A Lavoura do Minho, em Setembro de 1913, assim como o cabeçalho do primeiro número do mesmo jornal.

















terça-feira, 27 de julho de 2010

oliveira marques e a república

"Não existe ligação necessária entre os vários capítulos nem ideologia informadora a desejar cimentá-los. Cada assunto representa antes um tema por si, tratado quase como célula, com a sua estrutura interna e o seu arredondamento periférico."

  • A Propriedade
  • As Classes Sociais
  • A Questão Religiosa
  • Ideologia e Política
  • Aspectos Culturais
  • O Desenvolvimento Colonial

domingo, 25 de julho de 2010

simplesmente douro

E ontem foi simplesmente um dia fantástico!!! Não há palavras para ainda descrever a beleza do rio Douro e das suas margens, apesar de alguns crimezitos arquitectónicos que se vai vendo aqui e ali. É um espectáculo ver as comportas das barragens (Crestuma e do Carrapelo) a abrirem e a fecharem-se. De manhã ainda houve confusão: lá se foi ter ao cais de Gaia, chega-se cedo, e depois as informações que dão são erradas; muita gente teve que ir para a Ribeira em busca do barco, que se chama a Princesa do Douro. De facto, as princesas são difíceis de se encontrar, até com nome de barco! Mas depois tudo lá correu bem: o passeio é simplesmente... enfim, não há palavras para descrever. Mesmo as fotografias, e são tantas, foram difíceis de escolha para colocar aqui. Mas ás que coloco dá perfeitamente para ver a beleza que ainda é o rio Douro. Depois, na Régua, um calor assombroso, ainda fui ao Museu do Douro e por lá vagueei um pouco. Ainda comprei uma antologia de textos sobre o rio. Então, nada de Camilo, nem de Eça e outros que mais. Os organizadores só se preocuparam com os escritores naturais, caso de Junqueiro, Campos Monteiro, Pina de Morais, João de Araújo Correia, Guedes de Amorim, Domingos Monteiro e Miguel Torga. Há três excepções há regra: Sousa Costa, Manuel Mendes e Alves Redol. Mas, tal critério não é muito justificável: ficam muitos escritores de fora, até estrangeiros, que escreveram páginas memoráveis sobre o Douro. Uma antologia assim fica muito pobre. O Douro literário, chamesmos-lhe assim, merecia bem melhor, uma edição criteriosa e científica. Mas esta antologia bem simples sempre tem uma vantagem: divulga alguns escritores já completamente esquecidos: Sousa Costa, ou Manuel Mendes, por exemplo. De qualquer maneira, vale a pena, quem for á Régua e ao Museu do Douro, passar por lá e comprar esta pequena antologia. Depois, já na estação da Régua, com uma sala de espera climatizada, mas que fresquinho, com o livro dos 150 anos da CP, o qual tem duas fotografias de Famalicão: a estação, esta já conhecida, e uma de Nine, desconhecida. Na legenda da fotografia relativamente a Nine, que aqui coloco, tem a seguinte legenda: "Carruagem dos CFE-Minho e Douro de 2.º e 3.º classes, com dois pisos, na estação de Nine, construída em 1875 pela Chevalier, Cheilus-França. Estes veículos só circulavam entre Porto-Braga-Penafiel, por exceder o gabarit dos túneis de S. Miguel da Carreira, na linha do Minho e o de Caíde na linha do Douro. Comboio rebocado pela locomotivatender MD16 "Mira", construída pela Beyer Peacock-Reino Unido, em 1878." O curioso, é que a inauguração da estação de Nine aparece nos jornais, principalmente nos regionais, de Braga, enquanto que a de Famalicão, a inauguração da estação, nunca tal vi! Coisas que a vida tece.






























sexta-feira, 23 de julho de 2010

fragmento enciclopédico

Afinal de contas faltava um fragmento sobre a Enciclopédia, até pensei que o tivesse deitado fora, voado, mas não, apareceu, tinha que aparecer, ei-lo, fala Simões, Mas logo desde a leitura inicial que damos conta do próprio embuste ficcional, sim, o homem até parece que aprendeu contigo, Em quê, no jogo da mentira e da verdade pela palavra, no jogo ficcional das influências literárias nas personalidades ficcionadas, neste caso igualmente títulos, no teu também, No meu, não, os títulos são reais, Os escritores são todos uns brincalhões, Mas olha que conheci assim pessoas que se recriam na imagem não só dos autores como nas suas personagens, Ainda por cá pululam assim alguns, Acredito, E depois o narrador da Enciclopédia oferece leituras práticas para a felicidade dos mortais, cada leitura tem o seu papel, Essa é boa!