quarta-feira, 3 de agosto de 2011

josé saramago



JRS - Há uma faceta da sua escrita que é pouco explorada nas conversas que tiveram consigo, que é a questão da tradução - um tradutor é também, de certo modo, um escritor. E o senhor traduziu mais de sessenta obras. Escrever a ficção dos outros ajudou-o a tornar-se melhor escritor?


Saramago - Não, não ajuda nada! Ou tens a tua própria voz ou então não é o tempo que estás ocupado com uma voz alheia, o tempo que dura uma tradução, que te vai influenciar. Não, não é. Podes admirar aquilo que estejas a traduzir: o texto, o romance, o conto ou o que quer que seja. Mas não ao ponto de dizeres: vou fazer disto o meu modelo. Isso nunca me aconteceu.


JRS - Quando estamos a ler uma obra traduzida, estamos a ler o autor ou o tradutor?


Saramago - Eu creio que antes que chegue a essa tradução, já houve outra coisa que é a do próprio autor. O autor é um tradutor.


JRS - Em que sentido?


Saramago - Em que sentido? É alguém que traduz um sistema de sinais: emoções, pensamentos, eonhos, devaneios. Isso é um trabalho de tradução, porque tudo isso constitui uma linguagem que, se não encontrar uma forma comunicável de transmissão, fica cá dentro da cabeça de cada um de nós.

1 comentário:

Silenciosamente ouvindo... disse...

Vou tentar comprar este livro
que refere neste seu post.Um
gosto ter chegado ao seu blogue.
Saudações