sexta-feira, 12 de novembro de 2010

agustina e camilo

Leio na página de rosto o seguinte apontamento manuscrito, possivelmente para um ensaio sobre Camilo e Agustina: "Camilo, o Fantasma ou o Fantasma de Camilo", e por baixo os seguintes autores, possivelmente a relacionar com Camilo: "Hordelin, Kierkegaard" e a personagem ficcional José Augusto. Alguns apontamentos devo ter escrito naqueles cadernos quadriculados sobre este romance-ensaio de Agustina sobre Camilo, José Augusto e Fanny Owen. Ah, e possivelmente relacionar com Mário de Sá-Carneiro... Mas para lá destas citações que escolho, nada melhor que ler este livro de Agustina sobre Camilo a propósito de amores irreais, do carácter humano. Este livro, "Fanny Owen" só será perceptível com um outro de Agustina, "Camilo, Génio e Figura". Duas leituras fantásticas para este tempo mordacento, de chuva molha-tolos e inteligentes!


  • "Camilo gostava das pessoas que sabem chorar. Debaixo das bravatas irónicas e do dogma do desprezo encontram-se às vezes almas tão vulneráveis que um diabo encartado não sabe que fazer delas. Camilo não era um diabo encartado; tinha poucos anos de ciências médico-cirúrgicas, menos ainda de direito e outro tanto de teologia. As suas relações com Deus eram mais cerimoniosas do que íntimas, como aconteceu com Voltaire. Só que a sua indigestão de cepticismo se mudou com o tempo num delírio embaraçoso, porque tinha não sei quê de desemprego do coração; uma febrícola triste, de quem mata por despeito e por vingança ama."
  • "O orgulho é desprovido de alma; e, no entanto, em tudo a imita. As mulheres possuem esse orgulho angélico e bestial, mesmo quando são humildes, rasas, apagadas."
  • "As melhores tragédias começam com uma simples farsa."
  • "Confidência em que os actos irreais, que nem a imaginação preparara ainda, iam sendo marcados com infalibilidade implacável. Tinha principiado não sabia que aventura brutal e cujo limite só podia ser a morte. Haveria mulheres entre os seus desatinos, pretexto ao sentimento viril que não se satisfazia com desejos, vícios ou sequer a sublimação de tudo isso. O espírito é o que mais se parece ao rosto de Deus; a sua visão enlouquece, o seu brilho paralisa. Mulheres! Não tinha ainda chegado o tempo de se socorrerem delas para consagrarem as ilusões sem nome de que eles,homens, eram feitos. Agora queriam só aprtilhar dos mesmos momentos, do vazio do coração em que cabiam todas as promessas do mundo."
  • " - José Augusto ama. Sabe o que é o amor? É o pulgão da alma, o oídio da vinha íntima do msocatel das ilusões. Ama como se ama na vigésima vez na vida - disse Camilo."
  • "O cinismo é coisa mais velha que a honestidade."
  • "Os olhos do corpo têm uma lógica, e os da alma têm outra."


  • "Nas mulheres, a inteligência ou nasce com o coração, ou o mata, se acontece depois."
  • "... não há mistérios, há só trivialidades mais faiscantes."
  • "A frivolidade esconde coisas sérias."
  • "- Há boas pessoas que nos metem medo."
  • "... um homem maduro sempre se interessa pela originalidade das mulheres, tomando-a como um efeito da sua própria maturidade."
  • " - Quando um triste se si é porque encontrou alguém mais triste ainda. Há uma espécie de infelicidade impura que ataca as pessoas como eu - disse José Augusto... Quando se sofre na idade de ser feliz, nunca mais se acredita na felicidade; nem como acaso, nem como recompensa. Os nossos tormentos tornaram-se num hábito mais querido do que qualquer compensação."
  • " - A infelicidade é uma forma de renúncia, não tem nada que ver com a desgraça. É a mais ardente das amantes e por ela sacrificamos tudo: a honra e os amigos, e até Deus."
  • "A amizade é a única coisa que os deuses invejam nos homens."
  • "O amor não é senão uma cristalização do desejo. Precisa de muitos sacrifícios para inventar a originalidade."
  • "Os grandes segredos não são românticos. Só é romântica a ignorância deles."




  • "Como se escrevem os romances? Muitas vezes, durante a vida, haviam de fazer-lhe essa pergunta: com superficial candura, com desabrimento, com distracção, por mera formalidade e inépcia. Os romances escrevem-se com doses e doses de dissimulação, com virtudes pestilentas porque supuram do medo humano e não são fruto da coragem, do amor ou do ódio. O que é um vício? Um tranger das portas da imaginação, uma conquista sofrida até ao limite da indústria para sobreviver como homem. E ele mentia, com as suas heroínas nobilíssimas, os seus capatzes do pecado, com o mundo patarata como natureza para digerir e amar."
E mais não transcrevo, só lendo mesmo, só lendo, são tantas as citações...

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