quarta-feira, 13 de outubro de 2010

yourcenar a obra ao negro


  • "O aventureiro do poder e o aventureiro do saber caminham lado a lado." (13)
  • "E no interior de cada castelo de ideias, de cada pardieiro de opiniões sobrepostas aos pardieiros de madeira e aos castelos de pedra, a vida empareda os loucos e abre uma fresta aos sábios." (13)
  • "E, por toda a parte, vales onde se recolhem os simples, rochas onde se escondem os metais, cada um dos quais simboliza um momento da Grande Obra, engrimanços colocados entre os dentes dos mortos, deuses cada qual com a sua promessa pessoal, multidões em que cada homem se apresenta como centro do universo." (14)
  • " - Um dia virá em que Deus apagará do coração dos homens todas as leis que não forem de amor." (22)
  • "Verificou, depois, que os livros mentem e divagam, tal como os homens..." (26)
  • "Tal como Deus, que quer que todos caminhem sobre a Sua terra e gozem do Seu sol..." (59)
  • "Há mais de quinze séculos que o Reinado de Deus sobre a Terra, esse reino que João, Pedro e Tomé deviam ter contemplado com os seus olhos de homens vivos, fora indolentemente relegado para a noite dos tempos pelos cobardes, os indiferentes e os astutos." (73)
  • "Mas existe, e, neste momento, ele é aquele que É. bem sei que se engana, que erra, que por vezes interpreta mal as lições que o mundo lhe ministra, mas sei também que possui o dom de conhecer e não raro rectificar os seus próprios erros. Já percorri grande parte desta bola onde vivemos; estudei o ponto de fusão dos metais e a germinação das plantas; observei os astros e examinei o interior dos corpos. Sou capaz de extrair, deste tição que aqui está, a noção de peso, e destas chamas a noção de calor. Sei que não sei aquilo que não sei; invejo aqueles que venham saber mais, mas sei que, tal como eu, terão que medir, pesar, deduzir e desconfiar das deduções alcançadas, distinguir o que há de falso no verdadeiro e levar em conta a eterna mistura da verdade e da falsidade. Nunca me agarrei fixamente a uma ideia, por temer a confusão em que, sem ela, poderia vir a cair. Nunca temperei um facto verdadeiro com o molho da mentira, para me facilitar a digestão. Nunca deformei os pontos de vista do adversário para mais facilmente ter razão, nem sequer, durante o debate sobre o antinómio, os de Bombast, que nem mesmo assim me ficou grato. Ou talvez sim: surpreendi-me nesse acto, mas sempre me repreendi comos e repreende um criado desonesto, confiando apenas na promessa que a mim mesmo fiz de vir a proceder melhor. Sonhei com os meus sonhos; não considero tudo isto mais do que sonhos. Abstive-me sempre de fazer da verdade um ídolo, preferindo designá-la pelo nome mais humilde de exactidão. Os triunfos e os perigos que acumulei não são aquilo que se pensa: existem outras glórias para além da glória e outras chamas para além das da fogueira. Consegui, praticamente, desafiar as palavras. Hei-de morrer um pouco menos estúpido do que nasci." (112)
  • "Nunca se pode ser tão livre quanto se deseja, quanto se quer, quanto se teme, quiçá tanto quanto se vive." (158)
  • "Nele participava o amor, mais raramente, talvez, do que se afirmava, mas o próprio amor também não era uma noção pura. Esse mundo a que chamam baixo comunicava com o que há de mais elevado há na natureza humana. Da mesma maneira que a mais crassa ambição era também um sonho do espírito esforçando-se por compor ou modificar as coisas, também assim a carne, com as suas audácias, se outorgava as curiosidades do espírito e as fantasiava a seu bel-prazer..." (160)
  • "... a única coisa que me parece ver em tudo isto é a eterna confusão dos problemas humanos." (176)
  • "Tudo, neste mundo, que é o único a que temos acesso, era mais estranho do que habitualmente se possa pensar." (246)






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