domingo, 13 de junho de 2010

camilianas leituras

O meu caro amigo Sérgio Sousa, um dos organizadores deste volume, e com um texto da sua autoria, teve a amabilidade de me vir oferecer neste Domingo, já ao fim da tarde, estas "Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco". Ele sabe que eu próprio tenho estas paixões leitorais à volta de Camilo, já que, com e no tempo, ando a escrevinhar uns apontamentos sobre a fenomenologia do amor em Camilo, baseando-me teoricamente na fenomenologia husserliana e na hermenêutica fenomenológica do amor em Paul Ricoeur, aquilo a que este designa por "fragilidade afectiva", principalmente no seu livro "Philosophie de la Volonté: finitude et culpabilité - II". Já existem alguns apontamentos manuscritos naqueles caderninhos quadriculados, entre Husserl, Ricoeur e Camilo... Está também de parabéns o Prof. Miguel Dias Costa, pela capa fantástica, uma aguarela sobre papel, onde nos surge um camilo (conforme podem ver) com um ar interrogativo e de poucos amigos!
LEITURAS DO DESEJO EM CAMILO CASTELO BRANCO
Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco. Org., introd. Sérgio Guimarães de Sousa; José Cândido de Oliveira Martins; Capa José Miguel Stadler Dias Costa. Guimarães: Opera Omnia, 2010. 269 p.
i)
Ao longo dos séculos, a ânsia da felicidade do ser humano foi sendo vista frequentemente como algo condicionado pela oposição conflituosa vontade-razão / desejo-paixão, com implicações filosóficas éticas, psicológicas, etc., numa luta sem fim segundo pensadores como Pascal (Pensée, 412-621). Além de tradicionalmente, conotado com o irracional, o desejo tem muitas formas ou máscaras, como lembrava Platão quando o considerava a "besta multiforme e policéfala" (República, 588c). O desejo amoroso é uma das suas faces mais preponderantes, embora não se reduza à atracção pela posse do outro. O próprio Sócrates, que ironicamente garantia nada saber, excaptuava a temática do Eros (Banquete, 177d).
ii)
A ficcção camiliana, muito assente no conflito entre a paixão e a razão, tem como ponto nevrálgico, por assim dizer, o desejo. As novelas de Camilo oferecem, deste modo, um amplo campo de estudo extremamente fértil para abordar esta questão nas suas múltiplas perspectivas e implicações. Não deixa, por isso, de ser um tanto curioso constatar que a bibliografia passiva de Camilo, mesmo a mais recente, carece de estudos especificamente focados ao desejo. Ao reunir, nesta colectânea, textos de um conjunto de investigadores, que aceitaram prontamente o desafio de reler Camilo na óptica do desejo, quisemos colmatar esta lacuna.
  • Elias Torres Feijó - "Desejo, Concupiscência e estabilidade Social: os Vulcões de Lama humanos e os ilusórios remédios divinos", pp. 13-53.
  • José Cândido de Oliveira Martins - "Retórica Contida do Desejo em Doze Casamentos Felizes de Camilo Castelo Branco", pp. 55-95.
  • José Carlos Barcellos - "Masculinidade e Modernidade em Camilo Castelo Branco", pp. 97-114.
  • Paulo Motta Oliveira - "Camilo: limites do desejo no mundo do capital", pp. 115-130.
  • Rosário Luppi Belo - ""Amar Até Doer": o desejo do amor e a perdição dos desejos", pp. 131-155.
  • Serafina Martins - "Coisas da Terra e do Céu: amor, desejo e humor na ficação camiliana", pp. 157-175.
  • Sérgio Guimarães de Sousa - "Desejo Mimético n`O Santo da Montanha", pp. 177-245.
  • Sérgio Nazar David - "O Século de Silvestre da Silva", pp. 247-269.

Sem comentários: