sábado, 29 de maio de 2010

portuguesia II


POESIA CONTEMPORÂNEA FAMALICENSE
A Minha Homenagem à "Portuguesia"
A Poesia, essa viagem ao exílio!
O Livro dos Saberes Práticos

"Vozes Naturais de Vila Nova de Famalicão" é uma actividade integrada na 2.ª edição da "Portuguesia". O título, por si só, pode ser redutor e merece uma breve interpretação como fio condutor. Em primeiro lugar, pode reflectir e/ou incidir sobre poetas que poderão ser naturais do concelho famalicense. Em segundo lugar, outros, que por razões profissionais ou outras situações, estabeleceram residência em Vila Nova. Outros ainda, em terceiro lugar, que, por serem naturais já ultrapassaram a fronteira geográfica local, passando à global. Finalmente, outros ainda que, sendo poetas de âmbito nacional, escreveram nos periódicos famalicenses. Neste sentido, a cultura, e, mais propriamente, o acto criacional poético, não tem fronteiras: este é o significado mais concreto que poderemos atribuir a esta festa da poesia lusófona, tal como demonstra o livro "Portuguesia: contraantologia" (organização de Wilmar Silva), na qual Luís Serguilha, um dos organizadores desta festa da língua portuguesa (ao lado de Silva, o projectista), se encontra representado.

Por isso mesmo, o caso de Serguilha é paradigmático e está incluído precisamente na problemática globalista. Com alguns poemas de "Embarcações" já traduzidos para alemão e inglês, a sua participação em páginas da Web (principalemte revistas brasileiras), em alguns festivais de poesia que tem participado, quer em Portugal e no Brasil, antologiado, e, mais, recentemente, crítico literário, Serguilha, entre a poética estruturalista de Melo e Castro e a fenomenologia amorosa de Ramos Rosa, produz na sua obra poética uma intenção: a fenomenológica, ou não tivesse ele citado no seu primeiro livro "O Périplo do Cacho" Merleau-Ponty, aqui instruindo a linguagem torrencial na existencialidade da imagem corporal, na sua significação erótica e do desejo.


Casos concretos da segunda problemática, temos, por exemplo, Salvador Coutinho, Soares Coelho ou Aurélio Fernando. Se o caso de Coelho (iniciando a sua actividade de escritor como poeta, passando depois à ficção, não sendo caso único na contemporaneidade - um outro exemplo é o de Manuela Monteiro, que depois passou para a literatura infantil) com "Passante", o qual poderemos incluir na estética experimentalista, Coutinho, entre a poesia e a ficção, descortina o véu dos neo-realistas: a partir do momento em que estes se convenciam que tinham a chave do segredo para a resolução dos males deste mundo, a sua palavra poética contém, em si mesma, o lado da solidariedade humana e a problemática do social, numa estética representacional.




Por seu turno, em Fernando, por natureza e afinidade um poeta da Távola Redonda, incorpora na sua poética essa transcendência do religioso, um Deus em nós.



Descendo à realidade, e na sua tipicidade afectiva, uma poética configuradora num sentido de exaltação da subjectividade, uma metafísica da interioridade, surge-nos um Reis-Sá (poeta, ficcionista e antologista). Mas, possivelmente, e tipificando a primeira problemática, uma das vozes mais originais, e nem sempre compreendida, e que nunca publicou a sua poesia em livro, é a de Filipe Oliveira, cuja poética sobreleva o ortodoxo e o heterodoxo da realidade.



Finalmente, e ao último ponto a esclarecer, o destaque é para a revista "Apeadeiro", com o subtítulo de "revista de atitudes literárias", tendo tido a direcção de Valter Hugo Mãe e de Reis-Sá, congregou colaboradores poéticos e ensaistas de várias estéticas. Como nos dizem no n.º 1 "não outros mas apenas os que estão depois dos outros, de não sermps suficientemente diferentes mas discretamente diferenciados, e queremos acreditar que esta semalhança seja só a incapacidade de vermos melhor onde estamos." Apesar do contexto social e cultural ser completamente diferente, relaciono "Apeadeiro" com a "Nova Alvorada" (1891-1903) - directores Sousa Fernandes, Sebastião de Carvalho e Justino de Montalvão -, representando ambas as revistas momentos únicos na cultura literária famalicense, a par de uma outra "O Soneto Neo-Latino" (1929) - Júlio Brandão e Álvaro de Castelões como directores.


Se muitas são ainda as vozes poéticas famalicenses (Fernando Pereira Martins, Helder Monteiro, Ilda Nunes, Maria de Lourdes Brandão, Joel Freitas, José Miguel de Oliveira, Sonia Guerreiro, Augusto Canetas, Bernardete Costa, entre tantos outros), configurando a imagem poética do mundo à sua semelhança, a concretização e a realização da "Portuguesia" significa também o corolário do esforço e do apoio que o município famalicense tem dado à poesia enquanto acto criacional para a abertura de mundos. O recente estudo de Artur Sá da Costa intitulado "Livraria Municipal" (2009) demonstra isso mesmo.



Nesta perspectiva, e já que a "Portuguesia" se realiza em Seide, é a edição de Ernesto Rodrigues sobre a poesia de Camilo exemplo disso mesmo, a qual, conforme já a designei, é a sua viagem ao exílio de si mesmo no mundo. Diz-nos Rodrigues logo no início da introdução: "O que é a personagem de Camilo, e, em particular, na sua lírica? Afirma-se e desenvolve-se, para lá da personagem Camilo e das identidades internas? Que figurações de poeta, e do poeta, emergem de atitudes janicéfalas, qual seja uma novela como poesia, ou vice-versa, uma recensão a vate, polémica em estrofes e dramatização, etc? Pode certo verso argumentar um ´romance original` ou dar o rosto a um processo, que será, em conformidade menos da novelística e mais da ficção?" Mais questões que respostas, diga-se...










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