segunda-feira, 3 de maio de 2010

museu bernardino machado

Uma perspectiva do Museu Bernardino Machado: a clarabóia e alguns vitrais.




Famalicão, com o não ser praia nem sita de refastelo jovial de forasteiros, guardas nas contas das suas locandas a modéstia patriarcal dos burgos galegos, onde cada qual por quatro tostões pode almoçar um boi e beber pelos chifres a adega em fio do locandeiro, sem isso acrescer dum ceitil a paga habitual. / A vila é grande e chã de solo, com bastantes casas, como o povinho diz, de tratamento, algumas com vistosos jardins e quintas de emparrado. / Na arquitectura das casas ricas mantém-se o tipo de palação, casarão de dois e três andares, que a bisonheria indígena 9epete desde Lisboa até às fronteiras norte do país. / [...] Na fachada, ao nível do primeiro andar, larga e com bolas de vidro vermelho e azul, dá a impressão duma boca a rir com dentes verdes. /



Logo no andar superior e fachadas laterais, janelas de guilhotina, em fiadas idênticas, testificam o espírito forreta que faz o giro da peça aproveitando os cantos recônditos, e fazendo da simetria geométrica uma espécie de estética popular. / Ao alto como uma cúpula desta jaula de símios, todavia alegre e acolhedora, a clarabóia de vidros amarelos e azuis tem no cocuruto um galo ou caçador de zinco, em catavento; quando a não sobrepuja o mastro pára-raios, substituto da poética palma benta que nossas avós cruzavam na janela em tarde de trovões. São em geral pintadas de branco as paredes e portas de janelas, e estas com baguetas e cantos de talha dourada, que é por onde o brasileiro refrange o reflexo metálico dos seus contos; e sobre as trapeiras da casa, o terraço de parreiral com butacas de verga, completa este tipo de cómodo ricaço [...]
Fialho de Almeida