sexta-feira, 2 de setembro de 2011

novo blog

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

lei da separação




para o dr. manuel sá marques
com um abraço de fraternal amizade



fui visitar, na semana passada, a exposição "a lei da separação: estado e igrejas na república", a qual se encontra ainda patente no arquivo contemporâneo do ministério das finanças, até 31 de agosto. é uma exposição a não perder, pela sua simplicidade e pelo seu conteúdo informativo. pena não haver um catálogo, como em muitas outras exposições que visitei no âmbito das comemorações do centenário da implantação da república. do tema em questão, fica como sugestão de leitura o livro "a separação do estado e da igreja: concórdia e conflito entre a primeira república e o catolicismo", de luís salgado matos. em contrapartida, o respectivo arquivo publicou um desdobrável informativo, bastante elucidativo, da respectiva questão, publicando a cronologia patente na exposição, desde 1911 até 2005. desta forma, a cronologia encontra-se assim estabelecida: i) 1910-1911 - a caminho da lei; ii) 1911-1917 - concórdias e conflios - aplicação da lei da separação de 1911; iii) 1918 - a «nova» lei da separação; iv) depois de 1919 - divergências e convergências na longa execução da separação. por seu turno, a exposição encontra-se dividida perante a própria lei, nomeadamente: 0 - decreto de 20 de abril de 1911 - a lei da separação; 1. da liberdade de consciência de cultos; 2 - das corporações e entidades encarregadas do culto; 3) da fiscalização do culto público; 4) da propriedade e encargos dos edifícios e bens; 5) do destino dos edifícios e bens; 6) das pensões aos ministros da religião católica; 7) disposições gerais e transitórias. apresento um filme da referida exposição.





de afonso cruz, o mundo





ficamos sempre na expectativa com o título. só que o título é um pequeno nada quando se lê esta história, o último livro do escritor português afonso cruz, e que se chama "o pintor debaixo do lava-loiças". entre o que poderá ser a realidade, o espaço geográfico do mundo do pintor josef soers, isto é, ivan soers, e o espaço geográfico da infância do escritor afonso cruz, há um ponto em comum: a estética. se em ivan soers nos surgem reflexões estéticas à volta do que poderá ser a arte, em afonso cruz, através da personagem wilhelm, surgem-nos reflexões sobre o que poedrá ser a literatura. se logo no início nos surge a justificação desta história, na medida em que "as histórias não podem ser engarrafadas sem que se estraguem rapidamente", até porque elas "têm de andar ao ar livre como os animais selvagens", o que se deve fazer com as histórias é que "temos de as soltar para que possam correr todas nuas, digamos, libertas, sem preconceitos"; e, para além das reflexões estético-literárias, perante a ironia e o humor, afonso cruz oferece-nos reflexões éticas e existenciais, seja sobre o amor, a guerra, a morte, a interioridade do humano, sobre o tempo, transmite-nos uma ideia de portugalidade, enfim, a transcendência do mundo em nós, melhor, aquela in-transcendência para além daquele projecto de soers e que se chamava "museu das coisas inúteis". neste livro nada é inútil. há frases e pensamentos que podemos não concordar com eles, mas, como soers, reinventa-se o mundo, nós mesmos podemos reinventar e redesenhar esteticamente o mundo em nós para sermos outros nele. na mensagem de soers-cruz, de que "a felicidade é quando nos esquecemos da infelicidade em que vivemos", vai precisamente ao encontro do que acabo de dizer. reproduzo num pequeno filme a capa e três desenhos de afonso cruz, com a sua devida permissão, outra riqueza deste livro, cheio de olhos, abertos e fechados, para vermos melhor o mundo, diga-se, a escrita enquanto mundo de uma in-transcendência que se eleva.




domingo, 21 de agosto de 2011

100 anos constituição da república

Hoje comemoram-se os 100 anos da Constituição da República em Portugal. Encontrava-se dividida em sete títulos, conforme assim designaram os respectivos capítulos. estavam assim estabelecidos: TI) Da Forma do Governo e do Território da Nação Portuguesa; TII) Dos Direitos e Garantias Individuais; TIII) Da Soberania e dos Poderes do Estado. Este Título III encontrava-se subdividido em três secções: SI) Do Poder Legislativo; Do Senado; Das Atribuições do Congresso da República; Da Iniciativa, Formação e Promulgação das Leis e Resoluções; SII) Do Poder Executivo; Da Eleição do Presidente da República; Das Atribuições do Presidente da República; Dos Ministros; Dos Crimes de Responsabilidade; SIII) Do Poder Judicial; TIV) Das Instituições Locais Administrativas; TV) Da Administração das Províncias Ultramarinas; TVI) Disposições Gerais; TVII) Da Revisão Constitucional e, finalmente, Disposições Transitórias. O Presidente da Assembleia Nacional Constituinte era Anselmo Braaancamp Freire. Transcrevemos uma entrevista de Bernardino Machado então concedida ao jornal "O Mundo" e publicada em 20 de Julho de 1911, sendo o assunto em foco a Constituição da República. Antes, Bernardino Machado tinha concedido uma outra sobre a mesma temática, precisamente em 11 de Maio de 1911.





O Sr. Dr. Bernardino Machado, pelos seus vastos conhecimentos de direito público e pelas suas incontestáveis capacidades de estadista, estava naturalmente indicado para dar-nos a sua opinião acerca do futuro código político por que há-de fundamentalmente dirigir-se a República Portuguesa. O parecer do ilustre homem público seria deveras interessante e, neste momento, pela sua situação especial, de um grande alcance político. O Sr. Dr. Bernardino Machado, como todos sabem, é um republicano que, como ministro, com dedicação e inteligência raras tem defendido a segurança da República e o prestígio do País. A sua opinião, pois, revestiria um carácter de exclusivo patriotismo. Por isso, procurámo-lo nos Passos Perdidos, mas o eminente ministro da República, sempre affairê, e, ao mesmo tempo, não querendo abandonar a discussão parlamentar por interesse público e por gentileza com os oradores, era difícil de deter durante os minutos indispensáveis para ouvi-lo sobre o assunto. Conseguimos, porém, no Ministério dos Negócios Estrangeiros obter de S. Ex.ª uma meia hora de palestra. Principiamos logo por esta pergunta, a mais indiscreta de todas:



- Que me diz V. Ex.ª da discussão parlamentar acerca do projecto da Constituição?

- Que tem sido elevada e consciente, confirmando os dotes parlamentares de uns oradores, e revelando brilhantemente os de outros, que se estrearam agora. A Constituinte está decidida, segundo me parece, a aceitar do projecto as duas câmaras e a presidência, mas desejando que os ministérios tenham voz no Parlamento e que haja um poder judicial independente. Pela minha parte, não julguei necessário, como ministro, intervir na discussão; mas como deputado e cidadão, é claro que não tenho dúvida alguma em expor a minha opinião.



- V. Ex.ª entende que no nosso País existem sentimento e tradição parlamentares?

O Sr. Dr. Bernardino Machado confia mansamente o bigode branco e farto, e acaricia com a palma da mão direita a testa alta e larga, e diz:

- Sem dúvida!

E, depois de uns segundos de silêncio, acrescenta e explica:

- Com a Revolução de 5 de Outubro, o povo português afirmou, mais uma vez, vitoriosamente o direito de se governar por si. O regime republicano, desde a sua proclamação, não existe só de facto, mas também de direito. Por isso, quando os governos estrangeiros pensaram em entrar em relações connosco, eu não podia aceitar nem aceitei que nos tratassem apenas com um regime de facto. De facto, fora, por exemplo, o Governo de João Franco, porque tinha contra si a grande maioria do País. Nós, ao contrário, fizemos desde a primeira hora o Governo da Nação pela Nação quase sem opositores de valia. Não tivemos que nos impor pela ditadura, não! O Governo cumpriu no poder o programa que verdadeiramente não era só republicano, mas nacional, e que não era só de agora, mas que vinha dos tempos iniciais da nossa nacionalidade. Porque esse programa era de emancipação religiosa e outro não foi o da Nação logo durante a primeira dinastia, assinada pelas lutas contra o poder clerical. Era de emancipação económica, e tal foi o da Nação durante a segunda dinastia, em que as lutas se travaram contra o poder da nobreza feudal. E era de emancipação política, pleiteada de 1580 a 1640 contra a tirania estrangeira, e desde 1820 até 5 de Outubro de 1910 contra a opressão absolutista da Monarquia brigantina. E a prova de que nós, os do Governo Provisório, não fizemos ditadura, é que nenhum dos seus membros pensou em pedir e nenhum dos membros da Constituinte pensou em conceder-lhe um bill de indemnidade. A Constituinte deu-nos logo um voto de plena adesão e aprovação à obra governativa, a qual pode e deve ainda ser discutida no seu valor e perfeição técnica, mas não no seu sentido e alcance moral, que ficou desde esse voto solene da Constituinte fora de toda a questão, terminando com ele as nossas responsabilidades políticas perante o País.


- Mas sobre a Constituição, sobre parlamentarismo...

- Lá vamos, meu amigo, lá vamos.


AS TRADIÇÕES PARLAMENTARES

Houve côrtes que elegeram reis e que lhes recusaram obediência - Negar o parlamentarismo é negar o poder do espírito público em Portugal


Há muitos cidadãos no salão de espera que desejam falar com o ministro - este, aquele, mais aqueloutro, informa o contínuo.

- Peça-lhes que esperem mais uns momentos - diz o ministro.

E o contínuo parte.


- É isto, observa-me o sr. dr. Bernardino Machado. A Monarquia deixou pendentes, sem solução, muitos assuntos. Pouco ou nada se importava com o País, nem com os interesses legítimos dos cidadãos, das corporações, etc. Proclama-se a República e deseja.se tudo resolvido, pelo melhor e o mais rapidamente possível, de chofre. Eu compreendo muito bem; mas é que não há forças materiais para tudo! Não basta só a boa vontade do Governo em atender a quaisquer reclamações justas e dignas; é necessário tempo, ocasião...


Mas o ministro, quase sem transicção, prossegue:

- Esse direito republicano e nacional, de que foi depositário o Governo Provisório, é que se trata agora de formular. Quanto melhor o formularmos, na nossa Constituição, tanto mais demonstraremos que o compreendemos. Essa fórmula é antiga como o nosso direito constitucional. É a fórmula parlamentar. Temos côrtes desde os alvores da nossa vida pública. Elas elegem reis em 1315 e 1641. Declaram ao eleger D. João VI, que têm o direito de recusar obediência ao Rei, quando ele se torne tirano e indigno; acusam em 1642 de traidor o secretário de Estado, Lucena, e em 1668 depõem Afonso VI. Com elas, pelo seu engrandecimento, atingimos a nossa grandeza histórica, e quando elas declinam, decai também a Nação. A prova de que somos antigos parlamentares é que um dos grandes mestres de direito público parlamentar, conhecido e lido em todo o mundo, é o sábio português Silvestre Pinheiro Ferreira. Para as côrtes apelamos em 1820 e 1834, e foi pelos progressos do parlamentarismo que chegamos a ter quase o sufrágio universal para a eeleição da Câmara dos Deputados e a introduzir também o elemento electivo na organzição da Câmara dos Pares. Através de muitos erros e incertezas, o período de 1852 a 1885 foi, incontestavelmente, não só de fomento, mas também de tolerância e liberalismo. Basta lembrar as leis tantas vezes citadas, a lei eleitoral de Fontes, a lei administrativa de Sampaio, a lei de imprensa de Barjona de Freitas, leis promulgadas por ministros conservadores, mas reclamadas da oposição pelos partidos mais avançados de então, reformistas, históricos e progressistas - tal era então a intensidade da vida pública entre nós. Para não falar de outros mais recentes, os nomes de Garrett, José Estêvão e Rodrigo da Fonseca, esses três eminentes parlamentares reunidos no mesmo elogio pelo nosso grande Latino Coelho, mostram quanto foi modernamente gloriosa a nossa tribuna parlamentar. E quem esqueceu os oradores republicanos dos últimos tempos, que tanto a dignificaram?

- O Mundo já defendeu essa opinião, que muito folgo ver tão eruditamente desenvolvida e confirmada por V. Ex.ª...

- É a verdade. Bem sei que se objecta com as dissoluções repetidas em dois reinados de D. Luís e D. Carlos; mas que provam elas se não a luta do poder contra o parlamentarismo, que, ainda mesmo viciado pelo regime, o amedrontava e não era nunca, afinal, um morto? Negar o parlamentarismo é negar o poder do espírito público em Portugal, atacando não só a Monarquia, que o pretendeu sufocar, mas o próprio País, que se não deixou nunca esmagar pro ela; é sustentar a tese de João Franco, desenvolvida no célebre decreto da ditadura administrativa relatado pelo ministro Martins de Carvalho, que para a fundamentar não duvidou asseverar que em Portugal só ditatorialmente se tinha governado e se podia governar. Se nunca tivéssemos tido vida cívica, se no-la houvesse destruído a Monarquia, como é que sem nenhuma preparação eramos capazes de exercitar os nossos direitos livremente, dentro do regime republicano? Não! A República é o corlário legítimo e necessário de todo o nosso passado de povo livre, muitas vezes oprimido, mas incessantemente redivivo pelo esforço indomável da nossa hombridade patriótica. Tais são as nossas tradições constitucionais.



OS PONTOS CAPITAIS

Presidência, duas câmaras, representação associativa e corporativa - Ministros no Parlamento! - A união dos republicanos deu-nos a vitória, e só ela pode consolidá-la


E pusemos claramente a questão:

- Na opinião de V. Ex.ª, devemos assegurar e manter o regime parlamentar...

- Incontestavelmente. E como organizá-lo? Quantos órgãos deve ter? Um, dois ou mais? Depende isso da própria organização social. Dantes, quando a Nação se divida em três Estados - clero, nobreza e povo - havia rigorosamente três câmaras, porque cada braço das côrtes discutia e votava sobre si; hoje, não há já castas, divisões profundas da sociedade, mas há duas formas de sociabilidade: uma, associativa, a das associações de classe; outra, corporativa, que é a dos municípios, paróquias, distritos e províncias. Daí, duas câmaras: a Câmara dos Deputados, que cada vez mais tende a ser o coroamento da vida corporativa, representa das forças vivas da Nação, já entre si equilibradas e harmónicas. Como elegê-las? A Câmara dos Deputados deve ser eleita pelo sufrágio universal, cada vez mais e melhor disciplinada pela organização associativa, e o Senado deve ser eleito por todas as nossas corporações, desde a paróquia até à província, senão mesmo até também pela Câmara dos Deputados, como sucede em França. Por isso, não convém dar à Câmara Alta exlusivamente o nome de Conselho de Municípios.


- E quanto ao Presidente e sua eleição?

- O Parlamento é o representante da soberania da Nação e, como tal, tem todos os poderes e todos pode reassumir. Felismente, ao que parece, ninguém, tentado pela prosperidade da grande República da América do Norte, pretende fazer ressurgir, entre nós, as lutas entre o Chefe do Estado e o Parlamento, substituindo a um Rei dinástico de origem parlamentar um presidente eleito fora do Parlamento, com uma força igual à dele, podendo, portanto, defrontá-lo e vencê-lo. Chama-se a esse regime presidencial, como sabe, porque predomina nele o presidente sobre o parlamento. É o regime republicano que mais se presta aos golpes de Estado e às revoluções. O presidente eleito pelo sufrágio directo, com uma câmara só, deu em França o segundo império e Sédan. Sempre é melhor um chefe eleito do que um Rei hereditário, não há dúvida; mas é ainda uma forma jurídica de constituição inferior. Basta à direcção do Governo um Presidente do Conselho ou é precisa uma autoridade que presida à alternação dos partidos no poder e que dê continuidade à política externa da Nação? À Suíça basta um presidente do conselho federal, mas esta é uma das formas anárquicas do Governo que provam um alto grau de educação cívica nos cidadãos daquela Nação. Assim como não precisam de autoridade que presida aos movimentos dos partidos, assim também chegam a dispensá-la para a elaboração das leis, votando-as directamente por meio do direito de iniciativa e do direito de referendum. Lá mesmo, porém, algumas vozes de homens públicos notáveis têm reclamado para o presidente da conferederação a magistratura do Chefe do Estado. E, na Suíça, a vida pública tão intensa administrativamente, não tyem quase nunca grande intensidade política. Entre nós é, sobretudo, neste momento, ainda muito ardente a nossa vida política. Podemos e devemos contar com a fácil disciplina social do nosso povo; mas a dos dirigentes é bem mais difícil e penosa. Em parte alguma se dá uma separação profunda entre os poderes, nem nos Estados Unidos, onde o Presidente da República exercita até o veto e onde ao Parlamento competem as mais altas nomeações. Os ministros, que são os mais cotados representantes da maioria parlamentar, adquirem pelo seu trato directo dos negócios a prerrogativa no exercício do direito da inciativa das leis e os deputados e senadores não legislam só, fiscalizam a execução das leis, e actos legislativos seus são ao mesmo tempo executivos, como a votação dos tratados internacionais, e das chamadas leis constitucionais, isto é, a lei de meios e a da fixação das forças de terra e mar.


- E a respeito do direito da dissolução, é contra ou a favor?

- Sou contra, por mais ponderosos que sejam os argumentos com que esse direito foi defendido. Para mim, o poder moderador está na opinião pública, que é indispensável que as maiorias e opsições agitem incessantemente. E, por isso mesmo, eu quero os ministros no Parlamento, no seu posto discutindo, conduzindo a opinião. Não aceito, sequer, a sanção e o veto do Chefe do Estado. Compete-lhe a ele, unicamente, a promulgação das leis. Quanto à sua reeleição, tenho sustentado sempre que o Parlamento não deve restringir os seus poderes, impossibilitando-se de votar em quem quiser, que ese alguém tenha sido ou não ainda Chefe do Estado. Penso mesmo não ser sem perigo a clásula da não reeleição, porque é quase um convite ao Chefe do Estado para se não importar com a opinião, alimentando-lhe ou criando-lhe, precisamente, as tendências ditatoriais que se pretendiam coarctar.


[OS VENCIMENTOS]


- V. Ex.ª tem tratado, nesta nossa palestra, de todos os pontos capitais da Constituição ou de uma Constituição. Permita-me que indague de V. Ex.ª o que pensa a respeito de duas questões análogas, e que se tem ventilado - a dotação do Presidente e o subsídio aos deputados...

- Penso que, na verdade precisamos de ser uma economia rigorosa, porque todos temos responsabilidades graves perante o espectáculo da miséria em que se encontram as classes trabalhadoras entre nós, miséria que urge remediar. Por isso, os vencimentos dos representantes da Nação, como os de todos os seus funcionários, devem ser modestos, mas faça-se também por que não sejam insuficientes, para que todos possam democraticamente desempenhar os cargos públicos, quaisquer que sejam os seusmeios pessoais de fortuna. Sobre este, como sobre todos os pontos capitais, creio não haver sensíveis divergências na maioria da Constituinte. E oxalá ela efectivamente vote uma Constituição que seja quanto possível a expressão unânima das aspirações do partido Republicano e da Nação. Presicamos de fundar solidamente a autoridade republicana, para que ela possa assegurar eficazmente todas as liberdades públicas. A autoridade deixou de ser o inimigo, para ser o amigo do povo e, como tal, deve vir a ser considerada e respeitada. Organizem-se os poderes públicos, traçando-lhes as suas órbitas de acção, mas com toda a confiança neles, dadno-lhes forças e prestígio para afzerem uma política que tem de ser de coesão e pacificação nacional, mas que ambém tem de ser de uma enérgica e inquebrantável defesa da República, seja contra quem for que a afronte ou ataque, tentando romper os nossos laços cívicos, separando-nos uns dos outros, aqui e no ultramar, numa palavra, pondo em risco a unidade e o destino histórico da nossa nacionalidade. O grande mal do país proveio das divisões e dissolução dos partidos e governos monárquicos. A sua regeneração e engrandecimento não há-de provir da fraternal união republicana, tornando-se absolutamente necessário que seja tão estreita e disciplinada no Governo, quanto o foi na oposição. Ela nos deu a vitória, só ela nos pode consolidar para sempre!



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

portuguesia 5.ª edição



"A diferença é dizer, é revelar, é haurir o tesouro da eloquência a riqueza da palavra."


"Grande há ser o merecimento da poesia, personalizada, deixem dizer assim, no poeta para resistir à negligência sisuda dos que, fartos das suas, prescindem de assistir às lástimas alheias! Esse grande merecimento há-de consistir em três preciosas qualidades: primor da linguagem, conhecimento do coração, e elevada filosofia, tão elevada filosofia, tão elavada que a personalidade do autor desapareça nela, e fique a humanidade."


Camilo, O Nacional, 1856




PORTUGUESIA


FESTA DA POESIA DE LÍNGUAS PORTUGUESAS E ESPANHOLAS


5.ª EDIÇÃO


3 SETEMBRO 2011


CASA-MUSEU CAMILO CASTELO BRANCO


S. MIGUEL DE SEIDE


VILA NOVA DE FAMALICÃO




O autor do projecto desta festa da poesia lusófona, agora voltada para a língua espanhola, é wilmar silva, tendo como curadores o próprio wilmar e luís serguilha. tem o apoio da câmara municipal de vila nova de famalicão e da casa-museu de camilo castelo branco-centro de estudos camilianos, com poetas, artistas e ensaístas convidados do brasil, da espanha, da finlândia, do méxico, de moçambique e de portugal.






abertura


arq. armindo costa, presidente da câmara municipal de vila nova de famalicão


apresentação "portuguesia" por wilmar silva e luís serguilha




09h30


audição instalação "tropofonia"


a lírica de camilo castelo branco


jardins da casa de camilo




10h30


perfomances "guesas livres"


com carlos vinagre, luísa raposo, maria elisa ribeiro, rita dahl




11h30


provocação a poesia em transe: transversalização


medulas de diálogo: imersão e emersão da palavra


com amadeu gonçalves, marília lopes e sara canelhas


provocador: josé pego




12h45


perfomance "guesas livres"


com elza ramos amaral, francesco napoli, jorge melícias, jorge velhote




15h00


perfomance "guesas livres"


com joão rasteiro, camila vardarac, olga valeska, victor sosa




15h45


provocação a poesia em transe: imaginários de resistência


medulas de diálogo: koa`e de luís serguilha


com luís serguilha


provocador victor sosa




16h45


perfomance "guesas livres"


com beatriz ramos do amaral, carlos poças falcão, domingos mazzilli, ignacio martínez-castignani




17h30


provocação a poesia em transe: des-territorialização da língua


medulas de diálogo: geografias, línguas, linguagens


com josé manuel mendes, graça capinha, helena vasconcelos


provocador paulo nogueira




19h15


perfomance "guesas livres"


com camila buzelin, delmar gonçalves, gisela gracias ramos rosa, tábata morelo




20h00


exposição e leitura cartas de amor enviadas a camilo


com regina melo




20h30


liberdade livre







xosé vázquez pintor

Considerado uma das vozes mais originais da literatura galega, herdeiro cultural e literário de Rosalía de Castro, Xosé Vázquez Pintor nasceu em Melide (1946) e é o criador de uma obra literária repartida pelos mais variados géneros: desde a poesia, a narrativa, o ensaio de carácter antropológico, passando pelo teatro e até pela literatura infanto-juvenil. Ganhou vários prémios, nomeadamente Eduardo Pondal, Cidade de Ourense, Esquío, Uxío Novoneyra, Carvalho Calero, Torrente Ballester (que é exemplo o livro que aqui se destaca, A memoria do boi) e Premio da Crítica Española. Relativamente ao teatro, fundou os grupos Ancoradouro e Casa da Bola em Cangas, onde reside. Colabora frequentemente na rádio e na imprensa, tendo sido membro fundador do semanário A Nosa Terra. O jornalismo tem sido a sua grande paixão de sempre, tendo colaborado em jornais como El Ideal Gallego, Faro de Vigo, La Voz de Galicia, SER-Galicia, participando num programa televisivo semanal na televisão de Morrazo. Do livro que leio, deste escritor galego que já foi homenageado em 2008 pela Associação de Escritores da Língua Galega, de leitura apaixonante, cito: "Non hai silencio, porque o silente aquí tamén é culpa das lembranzas... a estima está e segue a vida, o alimento, o futuro." O silente em silêncio de si próprio. Agradável esta palavra: silente! somos seres em silente, somos seres do silente sem silêncio.








terça-feira, 9 de agosto de 2011

entre a monarquia e a república



para o dr. manuel sá marques, com um forte abraço de amizade fraterna



"... a revolução deve ser mais um acto político do que um movimento militar e que politicamente o seu triunfo será tanto maior quanto menos violenta e menos dilacerante ela for militarmente."


Bernardino Machado




A Capital (27 Ago. 1910).




I - O último fôlego

II - No meio da turbulência

III - Males de longe e de perto

IV - A via liberal

V - Tempo de acalmação

VI - Um «banho de sangue»

VII - Ao almoço, na Estrela

VIII - Três comensais

IX - Afonso Costa entra em acção

X - Com o conhecimento do Rei

XI - O livre-pensamento

XII - Condições de paz

XIII - Conversa acabada

XIV - O fracasso do Pacto

XV - Cai Amaral

XVI - Operação socialista

XVII - Actos finais

XVIII - Cronologia


Apêndice

Primeiro discurso de Afonso Costa

Segundo discurso de Afonso Costa


"O Pacto Liberal de tréguas, concebido numa manhã de Abril de 1908, em casa de Bernardino Machado, em Lisboa, foi negociado entre republicanos e monárquicos, comunicado ao Rei, discutido com o primeiro-ministro e com vários dirigentes dos principais partidos políticos da Monarquia e, por fim, objecto de intervenções no parlamento. Numa dessas intervenções, em 19 de Maio, Afonso Costa enunciou claramente as condições sob as quais os republicanos se comprometiam a abdicar da revolução e a adoptar uma via estritamente legalista e eleitoralista. / Rejeitada a proposta de Afonso Costa, que ele já com dificuldade fizera aprovar pelo Congresso republicano, regime fechava-se sobre si mesmo." (17)


Jorge Morais





segunda-feira, 8 de agosto de 2011

slavoj zizek



pensar o cristianismo, sempre, entre a ortodoxia e a heterodoxia. a viagem é sempre fascinante.


O Livro dos Saberes Práticos








domingo, 7 de agosto de 2011

slavov zizek



"Este livrinho trata da maneira como a postura ideológica hoje predominante - o liberalismo multicultural e tolerante - participa em pleno neste despolitização da economia; para o reumir em termos consisos, a tolerância multicultural é a ideologia hegemónica do capitalismo global. A oposição entre o fundamentalismo étnico-sexista-religioso e a tolerância multicultural é, em última análise, uma falsa oposição: a neutralização política da economia é o postulado comum aos dois extremos. A única via de saúde deste beco, e o primeiro passo, portanto, a caminho de uma renovação da esquerda, é a reafirmação de uma crítica virulenta, fortemente intolerante da civilização capitalista global."


I - A hegemonia e os seus fantasmas

II - Por que razão as ideias dominantes não são as ideias dos dominantes?

III - O político e as suas denegações

IV - A pós-política...

V - e a suas violência

VI - Existirá um eurocentrismo progressista?

VII - Os três universais

VIII - A tolerância repressiva do multiculturalismo

IX - Para uma suspensão de esquerda da lei

X - A sociedade do risco e os seus inimigos

XI - O Unbehagen na sociedade do risco

XII - A sexualidade hoje

XIII - É a economia política, imbecil!



slavoj zizek o novo livro










Público / Ípsilon (5 Ago. 2011)








sexta-feira, 5 de agosto de 2011

camilo e os seus mistérios de lisboa



"Tentar fazer um romance é um desejo inocente. Baptizá-lo com um título pomposo é um pretexto ridículo. Apanhar uma nomenclatura, estafada e velha, insculpi-la no frontispício de um livro, e ficar orgulhoso de ter um padrinho original, isso, meus caros leitores, é uma patranha de que eu não sou capaz. / Este romance não é meu filho, é meu afilhado. / Se eu me visse assaltado pela tentação de escrever a vida oculta de Lisboa, não era capaz de alinhavar dois capítulos com jeito. O que eu conheço de Lisboa são os relevos, que se destacam nos quadros de todas as populações, com foro de cidades e de vilas. Isso não vale a honra do romance. Recursos de imaginação, se eu os tivera, não viria consumi-los aqui em uma tarefa inglória. E, sem esses recursos, pareceu-me sempre impossível escrever os mistérios de uma terra, que não tem nenhuns, e, inventados, ninguém os crê.




Público/P2 (5 Ago. 2011), p. 12.



Enganei-me. É que eu não conhecia Lisboa, ou não era capaz de calcular a distância da imaginação de um homem. Cuidei que os horizontes do mundo fantástico se fechavam nos Pirinéus, e que não podia ser-se peninsular e romancista, que não podia ser-se romancista sem ter nascido Cooper ou Sue. Nunca me contristei desta persuasão. Antes eu gostava muito de ter nascido na terra dos homens verdadeiros, porque, peço me acreditem, que os romances são uma enfiada de mentiras desde a famosa Astreia de Urfé, até ao choramingas Jocelyn de Lamartine.





Por consequência, diz o circunspecto leitor, vou-me preparando para andar à roda em um sarilho de mentiras. / Não, senhor. Este romance não é um romance: é um diário de sofrimentos, verídico, autêntico e justificado."




quinta-feira, 4 de agosto de 2011

john rawls e a filosofia moral



"A razão é vista como algo que prescreve incondicionalmente certas ações, ou ainda com referência a algum fim ulterior. Contudo, diz Sidgwick, é possível ver o ideal moral antes como algo que atrai, que determina um bom ideal a ser buscado, do que como um preceito, ou um imperativo, da razão. A acção virtuosa, ou a retidão na ação, é vista não como um preceito de uma razão imperativa, mas como algo bom em si mesmo, e não meramente como um meio para um bem ulterior."


Rawls






John Rawls - História da Filosofia Moral. org. Barbara Herman; Trad. Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


Introdução

A Filosofia Moral Moderna


Hume

A moralidade psicologizada e as paixões

A deliberação racional e o papel da razão

A justiça como virtude artificial

A crítica do intuicionismo racional

O espectador judicioso


Leibniz

O seu aperfeiçoamento metafísico

Os espíritos como substâncias ativas: sua liberdade


Kant

Fundamentação: Prefácio e Parte I

O imperativo categórico: a primeira formulação

O imperativo categórico: a segunda formulação

O imperativo categórico: a terceira formulação

A prioridade do justo e o objecto da lei moral

O constutivismo moral

O fato da razão

A lei moral como a lei da liberdade

A psicologia moral da Religião, Livro I

A unidade da razão


Hegel

Sua Rechtsphilosophie

Vida ética e liberalismo

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

da educação e da felicidade ii

Ophelia - "Litteratura. A Felicidade do Homem Comparada com a da Mulher". In Diário Ilustrado (26 Nov. 1892).

da educação e da felicidade


J. Severiano Pereira - "A Felicidade do Homem Comparada com a da Mulher". In Diário Ilustrado (26 Maio 1893).

josé saramago



JRS - Há uma faceta da sua escrita que é pouco explorada nas conversas que tiveram consigo, que é a questão da tradução - um tradutor é também, de certo modo, um escritor. E o senhor traduziu mais de sessenta obras. Escrever a ficção dos outros ajudou-o a tornar-se melhor escritor?


Saramago - Não, não ajuda nada! Ou tens a tua própria voz ou então não é o tempo que estás ocupado com uma voz alheia, o tempo que dura uma tradução, que te vai influenciar. Não, não é. Podes admirar aquilo que estejas a traduzir: o texto, o romance, o conto ou o que quer que seja. Mas não ao ponto de dizeres: vou fazer disto o meu modelo. Isso nunca me aconteceu.


JRS - Quando estamos a ler uma obra traduzida, estamos a ler o autor ou o tradutor?


Saramago - Eu creio que antes que chegue a essa tradução, já houve outra coisa que é a do próprio autor. O autor é um tradutor.


JRS - Em que sentido?


Saramago - Em que sentido? É alguém que traduz um sistema de sinais: emoções, pensamentos, eonhos, devaneios. Isso é um trabalho de tradução, porque tudo isso constitui uma linguagem que, se não encontrar uma forma comunicável de transmissão, fica cá dentro da cabeça de cada um de nós.

domingo, 31 de julho de 2011

pensar a república e portugal






"Apesar do período de 1910 a 1926 permanecer como um tema remoto às preocupações das novas gerações e de já não surgir como um simbolismo ao contrário do significado que teve para as gerações que vivenciaram o regime político que precedeu o actual, a história da República permanece uma ssunto controverso. Isto deve-se, e, parte, ao facto de que, independentemente das consequências da República, os seus esforços representaram a primeira tentativa do país para um governo mais democrático e representativo."





I - Uma introdução à história moderna de Portugal

II - Uma Monarquia sem ,omárquicos

III - Republicanização

IV - O 5 de Outubro

V - A jovem República: os primeiros passos, Outubro de 1910-Janeiro de 1913

VI - A República democrática- Janeiro de 1913 a Dezembro de 1917

VII - Guerras e revoluções. Janeiro de 1915 a Dezembro de 1917

VIII - O presidente Sidónio Pais e a República Nova, 1917-1918

IX - A República imóvel: a política parada

X - A honra do Exército

XI - No reino dos pronunciamentos. Dezembro de 1918-Abril de 1925

XII - A política do desespero. 18 de Abril de 1925-28 de Maio de 1926

XIII - O 28 de Maio

XIV - O que veio a seguir: da ditadura militar ao Estado Novo

XV - Conclusões


Apêndice A - Presidentes do Ministério, 1910-1933

Apêndice B - Presidentes da República, 1910-1933

Apêndice C - Lista seleccionada de organizações políticas


quarta-feira, 27 de julho de 2011

antónio pina

o dito do não dito, o invisível que é visível em nós


no mundo no outro




O Livro dos Saberes Práticos





O livro



E quando chegares à dura

pedra de mármore não digas: «Água, água!»,

porque se encontraste o que procuravas

perdeste-o e não começou ainda a tua procura;

e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras

pois é tudo o que tens: literatura,

nem sequer mistério, nem sequer sentido,

apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.



Não tenhas contra ele o coração endurecido,

aquilo que podes saber está noutro sítio.

O que o livro diz é não dito,

como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

alain tourraine



"Em que é que a liberdade, a felicidade pessoal ou a satisfação das necessidades são racionais? Admitamos que a arbitrariedade do Príncipe e o respeito por costumes locais e profissionais se opõem à racionalização da produção e que esta exige que as barreiras caiam, que a violência recue e que seja instaurado um Estado de direito. Contudo, isso nada tem a ver com a liberdade, a democracia e a felicidade individual, como bemo sabem os Franceses, cujo Estado de direito foi constituído com a monarquia absoluta. Que a autoridade racional legal esteja associada à economia de mercado na construção da sociedade moderna não é suficiente, nem de perto nem de longe, para demonstrar que o crescimento e a democracia estão ligados entre si pela força da razão. Eles estão-no pela sua luta comum contra a tradição e o arbítrio, portanto, pela negativa, e não de uma maneira positiva. A mesma crítica é válida para a suposta ligação entre a racionalização e a felicidade, e com a legitimidade redobrada. A libertação dos controlos e das formas tradicionais de autoridade permite a felicidade, mas não a assegura; ela apela à liberdade mas, ao mesmo tempo, submete-a à organização centralizada da produção e do consumo. A afirmação de que o progresso é a marcha em direcção à abundância, à liberdade e à felicidade, e que estes três objectivos estão fortemente ligados entre si, não passa de uma ideologia constantemente desmentida pela História."


Alain Tourraine






A MODERNIDADE TRIUNFANTE

I - As luzes da razão

II A alma e o direito natural

III O sentido da história


A MODERNIDADE EM CRISE

I A decomposição

II A destruição do Eu-mesmo

III A nação, a empresa, o consumidor

IV Os intelectuais contra va modernidade

V Saídas da modernidade


NASCIMENTO DO SUJEITO

I O sujeito

II O sujeito como movimento social

III Eu não sou Eu-mesmo

IV A sombra e a luz

V O que é a democracia?


Pontos de chegada

sábado, 23 de julho de 2011

artur coimbra

depois do seu primeiro livro de poesia com o título "o prisma de poeta", o meu caro amigo dr. artur coimbra, como já se antevisa, para além da sua actividade de historiador, é poeta. a cada passo no seu blog, http://saladevisitasdominho.blogspot.com lá vai publicando um outro texto poético. também é, para além de historiador e poeta, coordenador do boletim cultural da autarquia fafense, e que se chama "dom fafes". director do núcleo de artes e letras de fafe, chegou a publicar, no âmbito desta associação fafense, a revista "perfil", assim como uma outra, "nascentes plurais". registo um poema retirado da "máquina da liberdade":



depois de amanhã levo a rosa
deposito-a em teus lábios ao cair da tarde
escrevo com o poema um grito de maio
no chegar manso da noite a rosa
levada ao calor da boca














artur coimbra e major miguel ferreira



ontem, na biblioteca municipal de fafe, a qual, logo na entrada, dá destaque num painel a florbela espanca e ao seu poema "ser poeta", foi apresentado o livro do dr. artur coimbra "major miguel ferreira: uma lição de liberdade", a sua segunda edição. abriu a sessão o sr. vereador da cultural da câmara municipal de fafe, que salientou, entre as várias actividades da autarquia fafense no âmbito do centenário da implantação da república em portugal, a publicação das notícias facsimiladas da época da república em fafe com o título "fafe 1910". o meu caro amigo dr. artur coimbra, para além de ter apresentado uma perspectiva biográfica do major miguel ferreira, fafense por afectividade, entre o militar e a sua intervenção política enquanto republicano convicto, focou a grande diferença do livro que era apresentado relativamente à sua 1.ª edição, e que dizia respeito ao período da república.




o dr. artur sá da costa salientou a objectividade científica do historiador artur coimbra, ramificando a historiografia fafense com a do país. salientou do major miguel ferreira a "integridade moral e a coerência política" contra "o chico espertismo" de hoje, salientando a personalidade do major miguel ferreira como sendo o símbolo da conviência democrática. relativamente ao dr. artur coimbra, o dr. artur sá da costa focou a cumplicidade deste ao longo dos anos com as actividades culturais do município famalicense, integrando-se, ao mesmo tempo, na actividade cultural fafense. a investigação histórica, no caso do dr. artur coimbra, para a renovação da historiografia local no seu contexto nacional, na abordagem de novas temáticas e nas relações entre o poder local e as universidades, assim como a implementação de novos equipamentos culturais, são, nada mais nada menos, do que conquistas do poder local. o mesmo aconteceu em fafe. de seguida, o dr. artur sá da costa, realizou uma análise das relações do major miguel ferreira com os oposicionistas democráticos de braga, os quais, de influência marxista, rompiam, entretanto, com os velhos republicanos, mas admirando sempre o major miguel ferreira. aliás, citando lino lima, o major miguel ferreira possuía a "qualidade e a coragem, um compromisso que admirávamos." terminou com o repto de nos 40 anos das comemorações de abril se realizar a homenagem aos democratas de braga e, na sua convergência, com os republicanos, e com todos aqueles que se mantiveram fiéis aos seus princípios em louvor da democracia, num congresso que reúne vários munícipios, os museus e as universidades.
























quinta-feira, 21 de julho de 2011

major miguel ferreira

dr. artur sá da costa e dr. artur coimbra




ontem, o meu caro amigo dr. artur coimbra, de fafe, teve a amabilidade de vir até famalicão e de me oferecer pessoalmente, assim como ao dr. sá da costa, o seu último livro, com o título "major miguel ferreira: uma lição de liberdade". o livro, que já vai na sua 2.ª edição, terá amanhã a sua apresentação pública na biblioteca municipal de fafe, pelas 21h30, a cargo do dr. sá da costa. pois lá estarei também para o abraço fraternal de amizade que a cultura nos uniu, e já lá vão muitos anos.








I - Mais político que militar


II - Activista político na 1.ª República


Vereador ´da Câmara de Fafe


Deputado às Constituintes de 1911


Combatente na 1.ª Grande Guerra Mundial


Governador Civil de Braga


III - Após o 28 de Maio, o exílio


IV - O resistente a Salazar


Aos Portugueses


V - Homenagem em Braga aos 80 anos (1958)


VI - A morte, com a PIDE a vigiar


VII - Miguel Ferreira na toponímia de Fafe


VIII - Depoimentos



"16 anos após a primeira edição, honramo-nos reeditar esta obra marcante de simbolismo, Miguel Ferreira - Uma Lição de Liberdade". / A oportunidade não poderia ser mais adequada: estamos em plena comemoração do centenário das Constituintes de 1911, que legaram ao país a primeira Constituição saída da Revolução de 5 de Outubrto de 1910. De igual forma, passou há pouco o cinquentenário do falecimento (1961) desta personalidade maior da história recente desta terra e do próprio país."




Artur Coimbra

quarta-feira, 20 de julho de 2011

pascoaes e espanha

"Sabíamos que Pascoaes tinha viajado por espanha e que tinha amigos espanhóis, mas não imaginávamos a extensão deste volumoso epistolário. São várias dezenas os interlocutores, uma boa parte dos intelectuais espanhóis da época, com o resultado de mais de trezentas cartas (entre o mais nutrido elenco contam-se as cinquenta e quatro de Maristany e as dezanove de Unamuno) ao longo de quase meio século de correspondência. Começam cronologicamente em 1905 com as cartas de Unamuno, e pensamos que foi este quem o introduziu no círculo de amizade dos outros espanhóis. / Até 1913 não conhecemos o segundo interlocutor, um destacadíssimo iberista catalão, Ribera i Rovira. Depois, ininterruptamente até 1952, vão aparecendo mais e mais interlocutores, mais de setenta. É meio século de correspondência, na qual se destacam os intelectuais da periferia, galegos e catelães, como uma temática bastante monocórdica: nacionalismo, saudade-anyorança, paisagem, união cultural, atlantismo com a Galiza. Por outro lado, com a cortesia mais requintada impera o vaidoso interesse de ver publicadas, traduzidas ou comentadas as obras respectivas (quando é o caso). Um aspecto que subjaz a esta correspondência é a profunda admiração e respeito de todos os interlocutores que conheceram Teixeira de Pascoaes, destacando-se aqueles que o visitaram em Amarante (é o caso de Unamuno e Eugenio D`Ors, por exemplo). / Há nomes importantes entre os seus interlocutores: Unamuno, D`Ors, Ribera i Rovira, Noriega Varela, Díez-Canedo, Eugenio Montes, Cases-Carbó... (para não mencionar já Garcia Lorca ou Leopoldo Panero, ainda que minimamente representados neste epistolário."


Ángel Marcos de Dios


"Nós reproduzimos todas as cartas dos intelectuais galegos, mesmo que já tinham sido publicadas. No entanto, são cerca de duzentas cartas, de muitos outros intelectuais espanhóis ilustres, com sabor a inédito, e são também muitos os poemas que procurámos divulgar neste nosso volume. Estamos certos de que, ao fazê-lo, não só homenageamos o nosso autor como todos aqueles que, movidos pelo anseio de uma união espiritual ibérica, se dedicaram ao estudo e conhecimento da Literatura e Cultura portuguesas, permitindo, desta forma, não só uma maior aproximação cultural e fraterna entre Portugal e Espanha, como uma maior projecção do valor literário e humano do poeta Teixira de Pascoaes."


Lurdes Cameirão

terça-feira, 19 de julho de 2011

pascoaes em espanha

já aqui se fez referência a um outro iberismo, o iberismo da reforma educacional de ambos os países, de espanha e de portugal, pelas ideias de francisco giner de los rios e de bernardino machado. aqui destaco a federação espiritual ibérica na óptica de pascoaes. aliás, ángel marcos de dios destaca três tipos de iberismo: o primeiro pretendia englobar os dois países de forma a construírem um só, debaixo da mesma coroa; o segundo, baseando-se numa federação ibérica, a qual advoga a união depois de destruir o centralismo castelhano, sendo defendido tanto por portugueses como espanhóis. da parte dos portugueses temos antero, teófilo, filipe nogueira, malgalhães lima; da parte dos espanhóis, ribera i rovira, nido y segalerva, vicente gay e cases-carbó. oliveira martins encontra-se ligado ao federalismo ibérico, mas numa perspectiva que tem que ver com a unidade de pensamento e de acção, mas independência política. martins é apresentado como o mentor das ideias iberistas, quer por parte dos espanhóis, quer por parte dos portugueses. no terceiro caso, surge o iberismo espiritual, que solicita um entendimento e uma acção espiritual comum. neste último, marcos dias inclui, por parte dos portugueses, antónio sardinha, moniz barreto, teixeira de pascoaes e vitorino nemésio, e, por parte dos espanhóis, miguel de unamuno, joan maragall, ángel ganivet, ramiro de maeztu, calvo sotelo e marqués de quintanar. o "iberismo" educacional de giner de los rios e bernardino machado é bem diferente de todos estes iberismos, ficando fora dos três iberismos apontado por marcos de dios.






"O trabalho é constituído por três partes. Na primeira, pretendemos destacar algumas atitudes ideológicas e culturais, sobretudo as que ocorreram nos últimos anos do séc. XIX e princípios do séc. XX, procurando, desta forma, não só uma justificação para o problema do afastamento que tanto parecia preocupar os intelectuais de ambos os países, como também para uma melhor compreensão de alguns dos ideais estéticos-doutrinários que enformam o pensamento da «Geração de 70» portuguesa, e da «Geração de 98» espanhola, fruto de todo um ambiente e clima social, político e literário em que os escritores destas gerações se moviam. [...] A segunda parte do trabalho procurará traçar e distinguir os pontos principais do iberismo do poeta luso, através do seu universo poético. Este merecerá a nossa especial atenção e será possível duma análise textual que nos permitirá destacar mitos e símbolos relacionados com o seu conceito de ideal ibérico e com o seu profundo humanismo. / [...] A terceira parte, tendo como fulcro o epistolário ibérico de Pascoaes, incidirá sobre o olhar crítico de espanha face à sua obra e ao seu pensamento: o fascínio que ele despertou nos meiso cultos do país vizinho; a correspondência trocada com galegos, catalães e, principalmente, com Unamuno, de cujos ideais ibéricos se fez arauto, enobrecendo-os com a sua preclaríssima visão."(18-20)






I - Iberismos e Idealismos



Alguns aspectos do Iberismo dos finais do século XIX, princípios do século XX.



A «Geração de 70» portuguesa e a «Geração de 98» espanhola: suas afinidades.



O neogarretismo, o mito sebástico e o Saudosismo.



Aproximação ao pensamento de Pascoaes.



A Saudades sentimento da raça lusíada, em Teixeira de Pascoaes.



Teixeira de Pascoaes. A «Renascença Portuguesa». A Águia: reacções críticas.






II - O Iberismo na Obra de Teixeira de Pascoaes.



A palavra poética e o ideário ibérico de Pascoaes.



A expressão do sentimento rácico e do exaltado patriotismo nacional e peninsular em Pascoaes.



A literatura peninsular: os mitos, os arquétipos e os símbolos na via do iberismo espiritual.



A revelação da paisagem e da alma dos povos ibéricos.






III - A recepção de Pascoaes em Espanha e o seu epistolário ibérico



Pascoaes e a geração galega de Nós.



Pascoaes e os interlocutores da Catalunha.



Pascoaes e Unamuno: obreiros da Ibéria «celestial»



As Sombras, o São Paulo e a crítica: Unamuno e o despontar de uma projecção peninsular, europeia e hispano-americana.



Fernando Maristany e o seu contributo na projecção do pensamento e obra de Pascoaes.



Francisco Luis Bernárdez e António Noriega Varela: dois discípulos e amigos do poeta de Amarante.



Valentín de Pedro: o tradutor de Terra Proíbida.



A tradução, em espanhol, do Regresso ao Paraíso, e a internacionalização do nome de Teixeira de Pascoaes.



Outras manifestações de fraterna admiração dos intelectuais espanhóis por Pascoaes.






segunda-feira, 18 de julho de 2011

camilo e o porto iii

Que é o Porto? / Não deparei ainda com esta pergunta filosófica e de rigorosa necessidade no formigueiro de crónicas e revistas, que ressaltam, luxuriosas de vida e esperanças dos tipos para os botequins. / Que é um caixeiro sem uma luva amarela? / O que é uma revista sem uma definição do Porto? Nada! - Um trabalho sem lucro; uma obra caduca, efémerae morredoira - uma incoerência literária e artística, uma pobreza de génio, uma desarmonia. / Então: que é o Porto?





O Porto é a tábua da lei das quatro operações aritméticas. É uma grande tabuada levada ao infinito da multiplicação das casas. É o dois e dois são quatro, convertido no balcão do probo e honradíssimo bacalhoeiro de miríades de caras todas típicas, idênticas e como o total de côvados aferidos e carimbados no Município da cidade da Virgem. É o carroção de Manuel José de Oliveira. É a companhia do Alba-Cosido, com o sr. Galliani e a sr.ª Gambardella e os despeitados da sr.ª Gambardella. É o teatro de Camões com o seu Zacarias, o avarento. É uma sr.ª de distinção vinculando a ária do Átila à sua laringe, aliás preciocíssima. É o administrador do concelho prendendo e enviando para o Carmo dois... o quê?... dois senhores que pateavam um cantor. É o Braz Tisana do Pobres. É a Maria, não me mates que sou tua mãe. É a Cantiga do passarinho e o Testamento do galo a gemer pela vigésima vez nos prelos incansáveis. É a cozinha dos herdeiros do chapelinho a crepitar de sardinhas fritas, toda ela uma alface, e tudo isso para honestíssimas famílias do gordo e sério mercador de fígados do Algarve, vassouras e abanos, que leva ao domingo de tarde a muito copiosa e enfezada prole a espairecer fora da cidade. É a matrona, casada defresco,que vai ao teatro de mantilha, que a depõe ao baixar do pano para, em completa harmonia conjuugal, devorar o nédio coixão de carneiro, fumegando odorífero açafrão dentre o pulento bojo duma caçarola de arroz de formo. É o riso escancarado duma plateia inocente que palmeia alegre um equívocoimundo das Luvas Amarelas. O Porto é tudo isto, e ainda mais. / ... Aqui tudo o que não for isto, é alvo de sátira traiçoeira, suja e mal-amanhada; e, se tem a franqueza de prestar consideração a esta estupidez orgulhosa, é posto à irrisão dos linheiros e dos pregueiros e dos outros todos que passaram do soco de Guimarães e da jaqueta de ganga para o casaco de veludilho e chinela de ourelos. / ... Tudo isto é verdade.






E é por isto mesmo que o Porto, espremido desde o vasto estabelecimento de Simão Duarte de Oliveira até ao tabuleiro de lumes pronto de reportórios do garoto da Porta de Carros, não transpira uma revista. Nos bailes está a filha do burguês, tipo degenrado de espadaúda minhota a fingir-se compleição nervosa e estremecida. No teatro é a mesma mulher, sempre deslocada, artificial e sonolenta. Na missa dos Congregados é a beata que pretende alinhar-se com um relicário Angélico meditado, decorado e repetido em casa pela mãe com várias explicações ricas de erudição das Horas Marianas. / A mulher do Porto, por consequência, vive só do seu vestido, do seu bracelete e do seu chapelinho de sol vermelho com grandes franjas amarelas. Groseeiramente requestada com cartas do estilo sirva-se vmc. entregar por esta minha ordem, a mulher daqui ignora rudemente as subtilezas do ideal, as preguiças amorosas que - diga-se aqui a própria verdade - são e serão sempre a douradoura das afeições. Aqui namora-se para casar: casa-se para ter filhos, que ordinariamente são as caras dos pais. Benza-os Deus!




De vez em quando, aparece uma cabeça de fogo a querer sevar-se de chamas no meio deste glacial reservatório das cabeças de pedra. Homens que não estudam o valor específico desta sociedade portuense metem-se a tratá-la com o coração viçoso e anelante: morrem na alma ou matam-se no corpo. É por isso que na semana passada um homem desespera dos recursos íntimos da coragem, não pode esquecer a mulher que o enganam não pode mesmo perdoar-lhe - e, para memória eterna de vingança de homem, rasga a artéria radial, derrama sangue até às agonias da morte, e vai morrer silencioso como o Chatterton, quando a mão do acaso, identificada à mão dum médico, lhe estanca o resto do sangue, e o salva dum suicídio de Séneca inimigo de semicúpios. / A sociedade está assim encaminhada. Honrosas excepções - homens incapazes de magoar um calo por causa do abandono da mulher, eu vos saúdo, como a tais patuscos se deve!


Camilo, O Nacional (25 Fev. 1850)

suroeste

En el aspecto cultural, los artistas fueron excelentes voceros de estos cambios que se produjeron a una velocidad inusitada para los tiempos. Esta «aceleración histórica», en palabras de Octavio Paz, llegó a las artes plásticas y a la literatura e la mano del simbolismo finisecular (que en el ámbito hispano se conoció con el término «modernismo») y las vanguardas históricas de los primeros años del siglo XX. El simbolismo se extendió como uma mancha de aceite por Europa y América, dando pie a que, algunos años después, las vanguardias históricas ecçlisonaran en el conjunto de las artes y en todo Occidente de forma simultánea. / [...] Cien años después, la Sociedade Estatal de Conmemoraciones Culturales (SECO) y el Museo Extremeño Iberoamericano de Arte Contemporáneo (MEIAC) recuerdan aquella estética, ese gran movimiento artístico internacional, como lo denominaría el poeta portugués Fernando Pessoa, que transformó para siempre la concepción de la cultura. A exposição Suroeste acerca al publico el amplio período estético que compreende cronológicamente desde 1890 a 1936, con el objecto de iluminar mejor las raíces de la cultura actual y la forma de entender el mundo de las nuevas generaciones. / [...] Suroeste oferece una visión panorámica de los inícios de esa red de contactos, algo así como una colección de fotogramas que resalta cómo en la literaturam la plástica, el cine, la fotografía, la música el diálogo fue posible y fecundo entre los primeros modernistas y el primer simbolismo luso, por un lado y entre los miembros del 27 y los autores del segundo modernismo portugués, por otro.


Soledad López





Eduardo Lourenço - "O Mundo sem Saber", pp. 21-27

António Sáez Delgado - "Suroeste: el universo literario de un tiempo total em la Península Ibérica (1890-1936)", pp. 28-43.

JUan Manuel Bonet - "Portugal-España 1900-1936: artes plásticas", pp. 44-57.

José-Carlos Mainer - "Entre dos Siclos: la incertidumbre de la modernidad", pp. 58-69.

Gabriel Magalhães - "O Remorso Romântico: um ensaio sobre as desfocagens do romantismo no espaço peninsular", pp. 70-81.

Elena Losada Soler - "Una Historia Intermitente: Eça de Queirós en España", pp. 82-93.

Carlos Reis - "A Falência da Palavra Realista: antes do modernismo", pp. 94-105.

Eloísa Álvarez - "Eugénio de Castro y España", pp. 106-127.

Ángel Marcos de Dios - "Unamuno y la Literatura Portuguesa", pp. 128-141.

António Cândido Franco - "Pascoaes Ibérico", pp. 142-155.

Maria Jorge, Luís Manuel Gaspar - "Miren Ustedes: Leal da Câmara em Espanha", pp. 156-161.

Elias J. Torres Feijó - "Relacionamento Literário Galego-Português: legitimação e expansão com Sísifo ao fundo", pp. 162-187.

Victor Martínez-Gil - "Portugal y Cataluña ante la Modernidad: intercambios artísticos y literarios", pp. 188-203.

Antonio Franco Domínguez - "La Extremadura Portuguesa y la Estremadura Espanhola: los imaginarios del oficialismo", pp. 204-211.

Jordi Cerdà Subiraches - "Mouvement de Nouveauté", pp. 212-229.

Fernando Cabral Martins - A Obsessão da Identidade (Pesoa e a Ibéria do Século XX)", pp. 230-240.

Jerónimo Pizarro - "Otros Vestigios", pp. 240-249.

Antonio Sáez Delgado - "Adriano del Valle y Rogelio Buendía: los interlocutores ultraístas", pp. 250-255.

Eloy Navarro Domínguez - Ramón Gómez de la Serna, Carmen de Burgos y el «Descubrimiento» de Portugal", pp. 256-281.

Sara Afonso Ferreira - "Alamda e Espanha: os embaixadores desconhecidos», pp. 282-311.

João Paulo Cotrim, Luís Manuel Gaspar - "António Ferro: um cometa a sudoeste", pp. 312-317.

Andreia Galvão - "«De Braço Dado com Almada: Madrid, um «momento» determionante para Segurado e para a arquitectura portuguesa", pp. 318-323.

Ana Berruguété - "Vázquez Díaz y Portugal", pp. 324-339.

José Luís Porfírio - "Memórias de Vázquez Díaz", pp. 340-343.

António Apolinário Lourenço - "A Geração de 27 e o Segundo Modernismo Português", pp. 344-355.

Fátima Freitas Morna - "Vitorino Nemésio e a Espanha", pp. 356-373.

Javier Herrera - "Presencia de Portugal en el Cine Español: 1895-1936", pp. 374-385.

Salvato Telles de Menezes - "Relações Cinematográficas entre Portugal e Espanha: 1895-1936", pp. 386-394.

José de Matos Cruz - "1896-1936: Espanha / Portugal" ", pp. 395-399.

"Música na Exposição", pp. 400-403.

Hipólito de la Torre - "Cronologia Histórica", pp. 405-422.

Luís Manuel Gaspar - "Cronologia Literária e Artística", pp. 423-431.

Perfecto E. Cuadrado - "De Silêncios, Diálogos y Monodiálogos: surrealismo en España y Portugal", pp. 432-445.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

camilo e braga



"Emalámos, e partimos para Braga.

Dentro do carro, fomos rodados de modo que o regurgitamento cedeu aos choques.

Entrámos na cidade ao lusco-frusco.

Desde a entrada até ao campo de Sant`Ana fomos recebidos com assobios e guinchos e mugidos de garotos, aprendizes de chapeleiro, que vinham às portas das oficinas ganir. Os nossos antigos descobridores quando saltavam em praia de bárbaros eram assim recebidos. O mais é que os patrões das oficinas pareciamfolgarnaquele alaridoda canalha. Que terra! Aquilo poderá ser gente? O que lhes vale é o terço depois que uivam. Para que quererá Deus lá em cima semelhantes alarves?

Chegámos à hospedaria da Estrela do Norte.

Vimos um par de grossas pernas de uma redonda marrona que se estirava o mais comodamente que se pode sobre uma cama, e dava grátis o espectáculoaos que lhe passavam diante da sua porta. Pareceu-nos bastante ingénua a nossa vizinha de quarto! os comentários às pernas foram interrompidos por um robusto «aqui d`el-rei» que vinha da rua.

Saiba-se o que é isto. E. B. desceu à rua, e nós fomos à janela. Vimo-lo emolar-se na mó do povo que se apinhava em redor da vítima lamuriante.

Depois lá de baixo cá para o segundo andar, E. B. com roda a força dos seus pulmões, exclamou:

. Foi o fidalgo que lhe bateu.

Apenas proferida a palavra «fidalgo!» todo aquele gentio escoou-se pelas travessas laterais, e o cidadão bracarense, desamparado, achou que era queda sobre o couce do fidalgo enrouquecer gritando pelo rei, que valia menos ali que o cabo de polícia.

A história era simples. Um homem do povo ousou murmurar do fidalgo que atropelara com o cavalo uma velha. O fidalgo apeia, desencrava um estadulho dumc arro, e fá-lo ir a terra. O espancado grita, o povoléu escorre em tropel das betesgas vizinhas, quer saber quem é o facinoroso. Diz-se que é o fidalgo; a corja dos vilões despeja o forum, e vai exercer a sua dignidade de homens rezando o terço, e assobiando aos forasteiros que entram, ou apedrejando o incauto que se não descobre.

Vou concluir.

Passámos uma noite atormentada. A legião dos eprcevejos lá de cima tinha destacamentos cá em baixo. L. B. e E. B. abdaram três horas com os enxergões às costas. Eu descobri na minha cama um animal novo; não era bem insecto nem molusco; repeli-o com toda a força da minha indignação, e adormeci.

Às três horas da manhã estávamos em marcha."