domingo, 8 de agosto de 2010

teixeira de pascoaes (1877-1952)



























































































pascoaes, imortal

Uma das primeiras leituras, possíveis, de Pascoaes, entre muitas outras, a descoberta de nós mesmos! Leituras de outrora, leituras de sempre!


PASCOAES, Teixeira de
Senhora da Noite. Pref. Eugénio de Andrade. Lisboa: Assírio & Alvim, 1986. 45 p. (Gato Maltês; 16)
Chora por mim,
A dor, nas cousas mortas, encantada.
E chora, como as árvores sentindo
Esse orvalhado alívio das manhães.
Gotas de fogo líquido, sorrindo,
Ó doce orvalho! Ó lágrimas pagãs!
Aí vem a meia noite... Olhai, olhai,
Seu vestido nupcial que a lua fez.
Que lindo! Vinde ver como lhe cai,
Num castro alvor de neve, sobre os pés.
Aí vem a meia noite, caminhando,
A murmurar...
Música d`entre névoas ondulando,
Sinfonia de sombra, aéreo mar...
Olhai o vento enamorado e preso
Da sua trança que finda em oiro aceso
E os remotos países alumia.
E vinde ver,
Nas ondas espectrais do seu cabelo,
Como divina jóia, resplender,
O sete-estrelo.
Pôs-lhe, no brando peito, a bela tarde
Sombras de lírios.
E, em seus dedos de anéis, crepita e arde
A esbraseada pérola de Sírius. (22-23)