A Minha homenagem. Entrei em contacto com o P. Alberto Azevedo em 2008. Nessa altura, a minha intenção era não só conhecê-lo pessoalmente, como, ao mesmo tempo, conseguir da sua parte os dados mais possíveis sobre a sua actividade sacerdotal, de pedagogo e de homem preocupado com as causas cívicas. Tinha em mente, não se concretizando, de lhe fazer uma entrevista, até porque algumas situações estão inconclusivas. O que ficou foram duas cartas escritas por ele e para mim enviadas, algumas conversas telefónicas, e o verbete, entretanto já feito, para o projecto do "Dicionário de Escritores Famalicenses: sécs. XVII a XX". Brevemente também o incluirei aqui. Ficou também esta dedicatória no livro "Acerca do Aborto e de Outros Assuntos", assim como a oferta do livro "Padre Alberto Azevedo: um mestre de cidadania".
"Os livros são as melhores provisões que encontrei para esta humana viagem." (Montaigne)
sábado, 11 de setembro de 2010
literatura de viagens
"Este livro trará pouca alegria ao leitor. Não o pderá consolar nem reconfortar, como muitas vezes os livros tristes sabem fazer, pois é opinião corrente que o sofrimento se reveste de força moral, na condição de ser condignamente suportado. Tenho ouvido dizer que mesmo a morte pode ser edificante, mas confesso que não acredito, pois como seria possível ignorar a sua força implacável? A morte é demasiado incompreensível, excessivamente desumana, e só perde a sua violência quando nela reconhecemos o único caminho sem retorno que nos é concedido para escapar aos nossos falsos caminhos. / É de falsos caminhos que este livro trata, e o seu tema é a desesperança. [...] / Porque a desesperança, a terível nulidade da revolta aqui descrita, já nada tem em comum com a marca de Caim, com o movimento de fuga que se poderia encontrar no início." (13, 15)
bernardino machado e abel salazar
BERNARDINO MACHADO E ABEL SALAZAR
CONTRASTES E AFINIDADES
O Eng. Pedro Saavedra (Presidente da Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar) e o Prof. Dr. Norberto Cunha (Coordenador Científico do Museu Bernardino Machado)
No Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, pelas 16h00, no dia 10 de Setembro do corrente ano, foi inaugurada a Exposição de Caricaturas de Abel Salazar. O Prof. Dr. Norberto Cunha proferiu uma comunicação na qual estabeleceu as semelhanças e as diferenças de pensamento entre Bernardino Machado (1851-1944) e Abel Salazar (1889-1946). A grande afinidade é, essencialmente, de serem ambos homens de ciência. No caso de Bernardino Machado, temos não só o seu doutoramento em filosofia natural, regendo a disciplina de agricultura e de antropologia por ele fundada, chegando também a fundar o Museu de História Natural da Universidade de Coimbra. Por seu turno, Abel Salazar, o qual se encontra inserido no período do apogeu do cientismo europeu, acreditava na razão instrumental para a felicidade dos povos. O que aqui une ambos é, particularmente, o cientismo enquanto religião da Humanidade, sendo o próprio cientismo a substituição da religião, para se atingir o éden. Temos, assim, a ciência como sendo a felicidade individual e colectiva na felicidade dos povos.
Contudo, a ciência não responde a tudo, apenas a algumas coisas. Tal situação deve-se a uma certa descrença que, entretanto, assola a Europa, a seguir à I Guerra Mundial, numa crítica ao positivismo, ao evolucionismo e à antropologia física. Desta forma, em Abel Salazar a ciência surge no âmbito para a salvação dos problemas sociais e políticos; mas o principal problema em Abel Salazar será, principalmente, a origem da vida, surgindo a explicação mecanicista perante os fenómenos vitalistas - pelo menos nesta altura. As bases científicas para a mundividência da vida, segundo Abel Salazar, não se inclui nos intelectuais mercenários, mas nos intelectuais proletários, os quais apelavam ao amor da verdade e do bem. Só que em Abel Salazar faltou a questão política, não definindo um rumo, que não é concernente com o processo republicano, porque o seu processo é, essencialmente, biológico, o da vida.
Desta forma, os problemas entre Abel Salazar e Bernardino Machado são diferentes: enquanto que o primeiro sai do cientismo, abarcando a questão religiosa numa perspectiva psicológica, estando aqui patente a fonte anímica em direcção ao campo artístico, à arte, no segundo temos algo externalista, anti-clerical. Bernardino Machado sai da ciência e vai partir para o problema político. O que os une é a laicização das mentalidades, estando em causa o projecto humano e colectivo da Humanidade. A base principal de ambos é o ensino: só que em Abel Salazar temos uma reflexão a-sistemática e pontual, enquanto que Bernardino Machado soube articular a acção teórica com a prática de uma forma sistemática. Em abos, a escola deve formar cidadãos, sendo a escola a formação política, com uma pedagogia de autodeterminação para a criação de cidadãos republicanos. Eis o que os une. Só que Bernardino Machado passa do ensino à política, até porque o ensino não era tudo, na medida em que o poder também gera mudança. O que temos em Bernardino Machado é uma política que se assume numa ética, não de egoísmo, mas de altruísmo, de natureza kantiana.
Por seu turno, Abel Salazar não passa do ensino à política. mas sim para a filosofia científica e para a arte. Enquanto que em Bernardino Machado a arte deve estar ao serviço do bem, devendo criar essa empatia, em Abel Salazar o que temos, particularmente, é a sua acção de formologista, a sua opção eram as formas corticais para a relação do problema entre a mente e o corpo. O sentido da realidade vai Abel Salazar buscá-lo na forma celular, vertical, psicossomática e nas formas lógico-sintácticas. Daqui parte as suas críticas à metafísica e à religião, já que ambos eram um discurso sem sentido. Para Abel salazar será na forma onde está o sentido. Mas como chega o cientista às artes plásticas? No fascínio pela arte que sempre teve. O que temos na personalidade de Abel Salazar é o seu apostolado científico, da razão e da emoção, mas não equistadas. Aliás, para Abel Salazar não devemos reduzir tudo à ciência, porque o ser humano é um artista e um poeta. Aciência não deverá ser o ideal da Humanidade, porque senão revelará a tirania para a sociedade. O desenvolvimento histórico da razão, eis o significado de Abel Salazar para o espírito científico. Particularmente, o que temos em Abel Salazar é a busca do ser humano para o caminho da sua vida, tal como ele próprio o fez, com avanços e recuos, não estando em causa questões ideológicas ou estéticas, mas a busca desse sentido pela forma sobre o conteúdo.
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