sábado, 11 de setembro de 2010

p. alberto azevedo (1926-2010)

A Minha homenagem. Entrei em contacto com o P. Alberto Azevedo em 2008. Nessa altura, a minha intenção era não só conhecê-lo pessoalmente, como, ao mesmo tempo, conseguir da sua parte os dados mais possíveis sobre a sua actividade sacerdotal, de pedagogo e de homem preocupado com as causas cívicas. Tinha em mente, não se concretizando, de lhe fazer uma entrevista, até porque algumas situações estão inconclusivas. O que ficou foram duas cartas escritas por ele e para mim enviadas, algumas conversas telefónicas, e o verbete, entretanto já feito, para o projecto do "Dicionário de Escritores Famalicenses: sécs. XVII a XX". Brevemente também o incluirei aqui. Ficou também esta dedicatória no livro "Acerca do Aborto e de Outros Assuntos", assim como a oferta do livro "Padre Alberto Azevedo: um mestre de cidadania".

















literatura e república








literatura de viagens


"Este livro trará pouca alegria ao leitor. Não o pderá consolar nem reconfortar, como muitas vezes os livros tristes sabem fazer, pois é opinião corrente que o sofrimento se reveste de força moral, na condição de ser condignamente suportado. Tenho ouvido dizer que mesmo a morte pode ser edificante, mas confesso que não acredito, pois como seria possível ignorar a sua força implacável? A morte é demasiado incompreensível, excessivamente desumana, e só perde a sua violência quando nela reconhecemos o único caminho sem retorno que nos é concedido para escapar aos nossos falsos caminhos. / É de falsos caminhos que este livro trata, e o seu tema é a desesperança. [...] / Porque a desesperança, a terível nulidade da revolta aqui descrita, já nada tem em comum com a marca de Caim, com o movimento de fuga que se poderia encontrar no início." (13, 15)

roteiros republicanos


bernardino machado e abel salazar

BERNARDINO MACHADO E ABEL SALAZAR
CONTRASTES E AFINIDADES
O Eng. Pedro Saavedra (Presidente da Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar) e o Prof. Dr. Norberto Cunha (Coordenador Científico do Museu Bernardino Machado)






No Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, pelas 16h00, no dia 10 de Setembro do corrente ano, foi inaugurada a Exposição de Caricaturas de Abel Salazar. O Prof. Dr. Norberto Cunha proferiu uma comunicação na qual estabeleceu as semelhanças e as diferenças de pensamento entre Bernardino Machado (1851-1944) e Abel Salazar (1889-1946). A grande afinidade é, essencialmente, de serem ambos homens de ciência. No caso de Bernardino Machado, temos não só o seu doutoramento em filosofia natural, regendo a disciplina de agricultura e de antropologia por ele fundada, chegando também a fundar o Museu de História Natural da Universidade de Coimbra. Por seu turno, Abel Salazar, o qual se encontra inserido no período do apogeu do cientismo europeu, acreditava na razão instrumental para a felicidade dos povos. O que aqui une ambos é, particularmente, o cientismo enquanto religião da Humanidade, sendo o próprio cientismo a substituição da religião, para se atingir o éden. Temos, assim, a ciência como sendo a felicidade individual e colectiva na felicidade dos povos.


Contudo, a ciência não responde a tudo, apenas a algumas coisas. Tal situação deve-se a uma certa descrença que, entretanto, assola a Europa, a seguir à I Guerra Mundial, numa crítica ao positivismo, ao evolucionismo e à antropologia física. Desta forma, em Abel Salazar a ciência surge no âmbito para a salvação dos problemas sociais e políticos; mas o principal problema em Abel Salazar será, principalmente, a origem da vida, surgindo a explicação mecanicista perante os fenómenos vitalistas - pelo menos nesta altura. As bases científicas para a mundividência da vida, segundo Abel Salazar, não se inclui nos intelectuais mercenários, mas nos intelectuais proletários, os quais apelavam ao amor da verdade e do bem. Só que em Abel Salazar faltou a questão política, não definindo um rumo, que não é concernente com o processo republicano, porque o seu processo é, essencialmente, biológico, o da vida.




Desta forma, os problemas entre Abel Salazar e Bernardino Machado são diferentes: enquanto que o primeiro sai do cientismo, abarcando a questão religiosa numa perspectiva psicológica, estando aqui patente a fonte anímica em direcção ao campo artístico, à arte, no segundo temos algo externalista, anti-clerical. Bernardino Machado sai da ciência e vai partir para o problema político. O que os une é a laicização das mentalidades, estando em causa o projecto humano e colectivo da Humanidade. A base principal de ambos é o ensino: só que em Abel Salazar temos uma reflexão a-sistemática e pontual, enquanto que Bernardino Machado soube articular a acção teórica com a prática de uma forma sistemática. Em abos, a escola deve formar cidadãos, sendo a escola a formação política, com uma pedagogia de autodeterminação para a criação de cidadãos republicanos. Eis o que os une. Só que Bernardino Machado passa do ensino à política, até porque o ensino não era tudo, na medida em que o poder também gera mudança. O que temos em Bernardino Machado é uma política que se assume numa ética, não de egoísmo, mas de altruísmo, de natureza kantiana.




Por seu turno, Abel Salazar não passa do ensino à política. mas sim para a filosofia científica e para a arte. Enquanto que em Bernardino Machado a arte deve estar ao serviço do bem, devendo criar essa empatia, em Abel Salazar o que temos, particularmente, é a sua acção de formologista, a sua opção eram as formas corticais para a relação do problema entre a mente e o corpo. O sentido da realidade vai Abel Salazar buscá-lo na forma celular, vertical, psicossomática e nas formas lógico-sintácticas. Daqui parte as suas críticas à metafísica e à religião, já que ambos eram um discurso sem sentido. Para Abel salazar será na forma onde está o sentido. Mas como chega o cientista às artes plásticas? No fascínio pela arte que sempre teve. O que temos na personalidade de Abel Salazar é o seu apostolado científico, da razão e da emoção, mas não equistadas. Aliás, para Abel Salazar não devemos reduzir tudo à ciência, porque o ser humano é um artista e um poeta. Aciência não deverá ser o ideal da Humanidade, porque senão revelará a tirania para a sociedade. O desenvolvimento histórico da razão, eis o significado de Abel Salazar para o espírito científico. Particularmente, o que temos em Abel Salazar é a busca do ser humano para o caminho da sua vida, tal como ele próprio o fez, com avanços e recuos, não estando em causa questões ideológicas ou estéticas, mas a busca desse sentido pela forma sobre o conteúdo.