sábado, 9 de abril de 2011

kierkegaard, o amoroso


"Que bela tarefa, a de preparar para si próprio um segredo, que sedução em saboreá-lo, e contudo, por vezes, que inquietação por havê-lo de indispor! Na verdade, quem acreditar que um segredo pode, sem mais, transferir-se, que pode pertencer áquele que o detém, engana-se, porque aqui aplica-se o dito: «Do comedor vem o que se come»; e, se alguém acredita que, saborenando-o, recai apenas sobre o próprio a dificuldade de não trair o segredo, também não será menor o seu erro, pois que em simultâneo se carrega a responsabilidade de o não esquecer. Mais execrável, porém, é recordar-se apenas por metade, e fazer-se da alma um armazém de trãnsito para mercadorias defeituosas. Em relação aosoutros, o esquecimento seria a cortina de seda que se corre, a recordação seria a virgem vestal que passa por trás da cortina; atrás da cortina, porém, estará de novo o esquecimento a não ser que se trate de uma verdadeira recordação, porque então o esquecimento estará excluído."