sexta-feira, 12 de novembro de 2010

charles bukowski

"Quantos mais rios se atravessam, mais se sabe sobre rios."



  • "Há um problema com os escritores. Se o que ele escreve se vende bastante, muitos exemplares, ele pensa que é um génio. Se o que ele escreve se vende medianamente, ele diz-se genial. Se o que ele escreve é publicado mas se vende mal. ele diz-se genial. Se o que ele escreve não é publicado e não tem dinheiro suficiente para publicar ele próprio, então diz que é mesmo genial. A verdade, contudo, é que há muito pouco génio. É quase inexistente, invisível. Mas podemos ter a certeza de que os piores escritores têm uma confiança inabalável neles próprios. Em todo o caso, os escritores são uma raça a evitar, eu tento evitá-los, mas é quase impossível."
  • "Pensei nas rupturas, nos problemas que elas causam, mas geralmente só depois duma ruptura é que se encontrava outra mulher. Eu devia prová-las para conhecê-las verdadeiramente, para entrar dentro delas. Podia inventar homens, porque eu era um deles, mas mulheres, para mim, era impossível imaginá-las sem conhecê-las. Eu explorava-as o melhor que podia e descobria seres humanos. A escrita podia ficar de lado. A escrita interessava-me menos do que o encontro até este chegar ao fim. A escrita não era senão o resíduo. Um homem não precisava de possuir uma mulher para se sentir vivo, mas era bom conhecer algumas. Depois, quando a ligação começasse a falhar, ele saberia o que era realmente estar sozinho e desfeito, e assim teria consciência do que devia enfrentar quando chegasse ao fim."
  • "Mulheres: gostava da cor das suas roupas; do modo como andavam; a crueldade de alguns rostos; de quando em quando, a beleza quase perfeita dum rosto, encantadoramente feminino. Elas tinham uma vantagem sobre nós: planeavam muito melhor a sua vida, eram muito mais organizadas."
  • "Um bom escritor sabia quando não devia escrever. Ninguém podia dactilografar. Eu não era muito bom a escrever à máquina; e a ortografia não era o meu forte e não sabia gramática. Mas sabia quando não devia escrever. Era como foder. De vez em quando também os deuses precisam de descanso."
  • "As pessoas sem moral consideravam-se muitas vezes livres, mas sobretudo eram incapazes do mínimo sentimento ou de amor."
  • "Há pessoas assim - não se gosta delas logo à primeira vista."




teixeira gomes e júlio brandão

Acabei de receber pelo correio electrónico a informação da exposição "Teixeira Gomes, os Anos Passados no Porto", a qual será inaugurada no próximo dia 15 de Novembro no Museu Nacional Soares dos Reis e estará patente ao público até Março do próximo ano. Aliás, na altura da viagem presidencial ao norte do país, Teixeira Gomes visitaria o museu portuense, então dirigido pelo famalicense Júlio Brandão, que, nesse ano, em 1924, fazia a introdução ao livro de Soror Mariana "Cartas de Amor ao Cavaleiro de Chamilly" e continuava com a sua colaboração no jornal portuense "O Primeiro de Janeiro". As fotos que aqui apresentamos são do Diário de Notícias, de 6 de Fevereiro de 1924, na altura da visita ao museu do então presidente da república Teixeira Gomes. Já aqui fiz referência ao livro "Manuel Teixeira Gomes: ofício de viver". Transcrevo o resumo da notícia que recebi.





"Por ocasião do primeiro centenário da implantação da República, evocamos Manuel Teixeira Gomes no Museu Nacional de Soares dos Reis. Nascido em Portimão, fez a sua formação em Lisboa, Coimbra e Porto, tendo estado aqui entre 1881 e 1884. Durante esse tempo estabeleceu relações de amizade com vultos que mais tarde se destacaram na arte, na literatura e na política. Alguns deles, como Soares dos Reis ou Marques de Oliveira, estão hoje representados neste Museu. / É evocado o Republicano, o Escritor e o Coleccionador que ofereceu ao Museu o seu retrato pintado pelo amigo Marques de Oliveira e o da filha do Visconde de Meneses, a quem o ligaram sentimentos cuja memória não quis deixar apagar. / Em 1924 passa de novo na cidade, agora como Presidente da República. A sua visita é pretexto para, na exposição, se evocar a cidade desses novos anos."

hermann broch












xiv encontros de outono 2010




agustina e camilo

Leio na página de rosto o seguinte apontamento manuscrito, possivelmente para um ensaio sobre Camilo e Agustina: "Camilo, o Fantasma ou o Fantasma de Camilo", e por baixo os seguintes autores, possivelmente a relacionar com Camilo: "Hordelin, Kierkegaard" e a personagem ficcional José Augusto. Alguns apontamentos devo ter escrito naqueles cadernos quadriculados sobre este romance-ensaio de Agustina sobre Camilo, José Augusto e Fanny Owen. Ah, e possivelmente relacionar com Mário de Sá-Carneiro... Mas para lá destas citações que escolho, nada melhor que ler este livro de Agustina sobre Camilo a propósito de amores irreais, do carácter humano. Este livro, "Fanny Owen" só será perceptível com um outro de Agustina, "Camilo, Génio e Figura". Duas leituras fantásticas para este tempo mordacento, de chuva molha-tolos e inteligentes!


  • "Camilo gostava das pessoas que sabem chorar. Debaixo das bravatas irónicas e do dogma do desprezo encontram-se às vezes almas tão vulneráveis que um diabo encartado não sabe que fazer delas. Camilo não era um diabo encartado; tinha poucos anos de ciências médico-cirúrgicas, menos ainda de direito e outro tanto de teologia. As suas relações com Deus eram mais cerimoniosas do que íntimas, como aconteceu com Voltaire. Só que a sua indigestão de cepticismo se mudou com o tempo num delírio embaraçoso, porque tinha não sei quê de desemprego do coração; uma febrícola triste, de quem mata por despeito e por vingança ama."
  • "O orgulho é desprovido de alma; e, no entanto, em tudo a imita. As mulheres possuem esse orgulho angélico e bestial, mesmo quando são humildes, rasas, apagadas."
  • "As melhores tragédias começam com uma simples farsa."
  • "Confidência em que os actos irreais, que nem a imaginação preparara ainda, iam sendo marcados com infalibilidade implacável. Tinha principiado não sabia que aventura brutal e cujo limite só podia ser a morte. Haveria mulheres entre os seus desatinos, pretexto ao sentimento viril que não se satisfazia com desejos, vícios ou sequer a sublimação de tudo isso. O espírito é o que mais se parece ao rosto de Deus; a sua visão enlouquece, o seu brilho paralisa. Mulheres! Não tinha ainda chegado o tempo de se socorrerem delas para consagrarem as ilusões sem nome de que eles,homens, eram feitos. Agora queriam só aprtilhar dos mesmos momentos, do vazio do coração em que cabiam todas as promessas do mundo."
  • " - José Augusto ama. Sabe o que é o amor? É o pulgão da alma, o oídio da vinha íntima do msocatel das ilusões. Ama como se ama na vigésima vez na vida - disse Camilo."
  • "O cinismo é coisa mais velha que a honestidade."
  • "Os olhos do corpo têm uma lógica, e os da alma têm outra."


  • "Nas mulheres, a inteligência ou nasce com o coração, ou o mata, se acontece depois."
  • "... não há mistérios, há só trivialidades mais faiscantes."
  • "A frivolidade esconde coisas sérias."
  • "- Há boas pessoas que nos metem medo."
  • "... um homem maduro sempre se interessa pela originalidade das mulheres, tomando-a como um efeito da sua própria maturidade."
  • " - Quando um triste se si é porque encontrou alguém mais triste ainda. Há uma espécie de infelicidade impura que ataca as pessoas como eu - disse José Augusto... Quando se sofre na idade de ser feliz, nunca mais se acredita na felicidade; nem como acaso, nem como recompensa. Os nossos tormentos tornaram-se num hábito mais querido do que qualquer compensação."
  • " - A infelicidade é uma forma de renúncia, não tem nada que ver com a desgraça. É a mais ardente das amantes e por ela sacrificamos tudo: a honra e os amigos, e até Deus."
  • "A amizade é a única coisa que os deuses invejam nos homens."
  • "O amor não é senão uma cristalização do desejo. Precisa de muitos sacrifícios para inventar a originalidade."
  • "Os grandes segredos não são românticos. Só é romântica a ignorância deles."




  • "Como se escrevem os romances? Muitas vezes, durante a vida, haviam de fazer-lhe essa pergunta: com superficial candura, com desabrimento, com distracção, por mera formalidade e inépcia. Os romances escrevem-se com doses e doses de dissimulação, com virtudes pestilentas porque supuram do medo humano e não são fruto da coragem, do amor ou do ódio. O que é um vício? Um tranger das portas da imaginação, uma conquista sofrida até ao limite da indústria para sobreviver como homem. E ele mentia, com as suas heroínas nobilíssimas, os seus capatzes do pecado, com o mundo patarata como natureza para digerir e amar."
E mais não transcrevo, só lendo mesmo, só lendo, são tantas as citações...

samuel beckett