Os romances fazem mal a muita gente. Pessoas propensas a adaptarem-se aos moldes que admiram e invejam na novela, perdem-se na contrafacção, ou dão-se em pábulo ao ridículo. Nestes últimos tempos, há muitos exemplo desta verdade, e tanto mais sensíveis, quanto a nossa sociedade é pequena para se nos esconderem, e intolerante para admiti-los sem rir-se. Homens, sem originalidade, ou originalmente tolos, macaqueiam tudo que sai fora da esfera comum. Crédulos até ao absurdo, aceitam como reais e legítimos os partos excêntricos de cabeças excêntricas, e prometem-se dar tom a uma sociedade mesquinha, onde não aparecem o Zaffie, da Salamandra, o Trémor de Lelia, o Brûlart de Atar-Gull, o Vautrin do Père-Goriot, o leicester de Luxo e Miséria, enfim, o homem fatal. Estes imitadores são perigosíssimos, ou irrisórios. Não topando na vida ordinária o lugar que lhes compete, querem conquistá-lo por força. E, depois, das duas uma: ou atingem o apogeu da perversidade, calcando a honra, cuspindo na face da sociedade, e caprichando em abismarem-se com as vítimas; ou - o que quase sempre acontece - imaginam-se homens excepcionais, sonhando como Obbermann, raivando como Hamlet, escarnecendo a virtude como Byron, amaldiçoando como Fausto e acusando sempre o mundo ignóbil que o não compreende. / Se vos impacientam reflexões, leitores, encurtemos o prefácio duma apresentação.
Camilo, Onde Está a Felicidade?
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