quinta-feira, 22 de abril de 2010

a pedagogia de bernardino machado

BERNARDINO MACHADO E AS COMEMORAÇÕES DA REPÚBLICA EM FAMALICÃO

indiscutivelmente para o Dr. Sá Marques, com um abraço de amizade fraterna

A Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, o Museu Bernardino Machado e as Edições Húmus vão apresentar no próximo dia 30 (pelas 18h00) o II Tomo da Pedagogia, incorporado nas Obras de Bernardino Machado, coordenadas cientificamente pelo Prof. Dr. Norberto Cunha. Este II Tomo é composto pelas "Notas Dum Pai", cujo texto foi publicado inicialmente em fascículos na revista "O Instituto" de Coimbra, entre 1896 até 1903 (o historiador Oliveira Marques dá-nos a referência de publicação conclusiva o ano de 1899). Para além destes fascículos, o II Tomo da Pedagogia contém a introdução da 3.ª edição (1899) e a 1.ª edição, esta de 1896. Terá, igualmente, um estudo do Prof, Dr. Norberto Cunha que clarificará as teias aforísticas das "Notas Dum Pai" de Bernardino Machado. O que as "Notas Dum Pai" representam no contexto pedagógico de Bernardino Machado são, particularmente, duas ideias principais, as quais se podem interligar, diferentes entre si, que alguns teóricos têm propugnado. É o caso de Rogério Fernandes, para o qual "a obra de Machado apresenta afinidades doutrinais com o movimento da "Escola Nova". Claparède aponta às Notas Dum Pai entre os primeiros contributos para o estudo da criança, mediante a observação directa dos seus comportamentos, à semelhança do que fizera Darwin na obra a que chamou "Biografia duma Criança". Nesta linha, temos também António Figueirinhas, pedagogo, realçando nas "Notas Dum Pai" a "razão clara, a conclusão lógica e natural de toda uma série de reflexões pessoais", salientando o "produto de uma intuição profunda de psicólogo." Também Severo Portela vai não só nesta linha, como também salienta a utilidade dos aforismos das "Notas Dum Pai" para os psicólogos.







Em 1897, contudo, uma opinião bem diferente surge com Gonçalves Cerejeira, famalicense e republicano (avô de Armando Bacelar) num texto que então publica mo jornal "O Porvir", em 4 de Agosto, na sua rubrica mais do que famosa "Palavras Vermelhas", na recepção que então realiza à 2.ª edição das "Notas Dum Pai". Salientando inicialmente o papel de Bernardino Machado enquanto lutador pela "causa da instrução popular e da educação cívica portuguesa", salienta, a dado passo, o seguinte: "... que muitas daquelas pequenas notas tão grande e original é o seu alcance de actualidade e interesse social, que dariam, desenvolvidas e esplanadas, volumosos tratados relativos aos mais variados ramos da ciência e da filosofia. Porque as Notas Dum Pai, metodicamente deduzidas e concatenadas, tratam de tudo em poucas palavras, fazem um livro, por assim dizer, enciclopédico, mas visando singularmente a este objectivo supremo - a educação." Focando Cerejeira que as "Notas Dum Pai" podem constituir "uma bela cartilha popular de educação", destacam-se duas ideias relacionadas: a realidade prática constrói uma filosofia da educação. Se Bernardino Machado destaca vários tipos de educação (a real, a prática, a oral, a intelectual ou a estética, esta não só numa perspectiva artística como também física, cívica e económica), vai nestabelecendo uma espécie de um catálogo das virtudes (curiosidade, serenidade, esperança, confiança, simpatia, vontade, esforço, harmonia, cordialidade, bondade, patriotismo, afectividade, etc.) e de vícios (frivolidade, exagero, idiotice, egoísmo, estupidez, preguiça, fraqueza, etc.). Paralelamente, desenvolve três grandes temas: a educação feminina, a filosofia política e a educação social (conforme os textos já publicados no I Tomo), sendo esta última postura teórica posteriormente retomada por António Sérgio.

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