As reportagens que hoje aqui, neste blog, coloquei, nomeadamente as que o "Público" editou no seu 20.º aniversário (a que dei o título geral "A Outra Imagem de Portugal" e "Portugal e/ou no Mundo"), revela apenas que há um outro Portugal para além do orçamento de estado e do plano de estabilidade e de crescimento, um outro Portugal que os sindicatos e este governo socialista pretendem dar a conhecer aos portugueses, o Portugal não real. Portugal, aqui, pelo menos no campo político, continua igual a si mesmo; e isto, porque, quando leio Bernardino Machado, o fenómeno político é o mesmo, a mentalidade é a mesma. Observemos. Num texto de 1895, com o título "Guerra ao Banditismo Político", podemos ler o seguinte: "São conhecidos os acordos eleitorais, em virtude dos quais os partidos conseguiram mais do que falsificar a eleição: suprimiram o eleitor." E mais à frente: "Mas o que não é uma ficção, o que é uma terrível realidade, é o despotismo das facções, que, lançando através de todos os partidos os seus tentáculos para sugarem a vida do país, nos empobrecem e aviltam." Num outro texto, igualmente de 1895, e com o título "O Governo de Engrandecimento do Poder Real", diz-nos a dado passo que "a corrupção política cada vez mais exaspera a paciência pública com os escândalos que sucessivamente vêm à supuração." Julgo que a difrença não é muito. Daqui que incluo o texto de José Matoso "Uma Ideia Portugal" porque mais do que uma ideia para Portugal é necessário e urgente pensar Portugal para o futuro, sem ideias decadentistas, um Portugal activo e não passivo, porque a sociedade portuguesa parece que dá precisamente a ideia de uma sociedade inerte e fechada sobre si mesma, uma sociedade que não pensa o seu momento presente para o futuro. Esta é a grande urgência! E num momento em que as comemorações do centenário da República, com as suas plenas actividades em programação e desenvolvimento, incorporando as escolas e os municípios, está em pleno andamento, o que se deve retirar destas comemorações é precisamente o espírito de pensar Portugal hoje em direcção ao futuro, sem mais nem menos. Será que esse espírito comemorativo o tem conseguido? Só no final das comemorações se fará o balanço, assim o espero, que acima de tudo seja um balanço positivo. Não chega programar actividades e realizá-las, mas pensar que ficou algum fruto para a renovação de Portugal, esse é que deve ser o espírito comemorativo da República. Neste âmbito, podemos ficar igualmente satisfeitos com o destaque que o jornal de cultura "Entre as Artes e as Letras" deu destaque à realização de mais um "Famafest", um festival de cinema e de literatura realizado pela Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, o qual já vai na sua 12.ª edição. Mas esta última semana, o município de Famalicão, em conjunção com a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, organizou também a "Semana de Leitura", durante a qual a autarquia inaugurou mais três novos espaços de leitura, três novas bibliotecas incluídas na rede escolar de Famalicão. O que daqui se espera, acima de tudo, é que estes espaços não sejam espaços amorfos, mas vivos e que criem, particularmente, o hábito de uma leitura que seja crítica para um Portugal melhor: que sejam espaços, essencialmente, criativos, esta é a esperança. No fundo, que sejam espaços dialogantes entre os mais novos, tal como José Gil, conforme o ouvi na tsf, o qual não percebia o que era a última lição, ou melhor, a lição, mas sim que a conferência que proferiu seja um espaço de diálogo contínuo, conforme os seminários que dava, um espaço de diálogo, de crítica, de convivência e de saber, eis o que interessa.
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