quarta-feira, 30 de setembro de 2009

daniel innerarity


sócrates e platão

i)
Universidade de Évora. Colecção Azulejos Barrocos Joaninos (1744-49). Socrates, Fonte dos Filósofos - Aula de Filosofia (sala 119).

ii)
Universidade de Évora. Colecção de Azulejos Barrocos Joaninos (1744-49). A Academia Platónica - Aula de Filosofia (sala 119).

terça-feira, 29 de setembro de 2009

a cultura famalicense e os socialistas



O blog que visitei com o nome "euvieusei" publica, na íntegra, as cinco medidas imediatas da concelhia do Partido Socialista, para reiniciar o desenvolvimento de Vila Nova de Famalicão. Por mais inacreditável que possa parecer, a educação e a cultura não aparece nestas cinco medidas. Por simples curiosidade, lá viajei, rateando, até ao sítio do Partido Socialista das hostes famalicenses, na expectativa de poder ler alguma coisa no seu programa eleitoral para as autárquicas famalicenses, no que diz respeito ao assunto que aqui me traz, a cultura e a educação. E, espanto dos espantos, a decepção foi grande, num sítio confuso e atabalhoado, não chegando a encontrar nenhum programa que diga respeito à actividade cultural e educacional para Vila Nova de Famalicão. Desta forma, para os socialistas famalicenses aconselho a leitura, no campo da educação, as Obras Pedagógicas de Bernardino Machado que a Câmara Municipal de Famalicão vai brevemente apresentar; e para a cultura, nada mais nada menos, do que o livro do Prof. José Gama intitulado Cultura e Filosofia, principalmente a leitura (já que agora não devem ter muito tempo) dos seguintes capítulos: i) Cultura e Valor: para uma filosofia da cultura; ii) A Filosofia da Cultura em Debate. Estes dois capítulos chegam para uma profunda reflexão. São apenas 38 páginas!

camilo e o convento de monchique

Maria Almeida Carvalho, Fotos Virgínia Ferreira - "Através dos Tempos. Cenário de «amor de perdição". In Viva! Porto (Out. 2009), pp. 22-24.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dr. Manuel Simões, O Mestre Inesquecível

No ano em que faleceu, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, na reunião de 20 de Fevereiro, deliberou por unanimidade a aprovação de um voto de pesar, o qual foi, então, publicado na imprensa famalicense, com o seguinte teor: «O falecimento do Director da Casa-Museu de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos, representa uma enorme perda para o mundo camiliano e a lamentável ausência no universo intelectual e académico português, de um dos seus mais dignos representantes. / Durante o tempo em que dirigiu e orientou os destinos da Casa de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos, soube transmitir-lhe uma dinâmica e um rigor científico que constituirão para todos nós um exemplo uno de dedicação e da devoção à obra do torturado de Seide… / A ele se deve o relançamento do “Boletim da Casa de Camilo”, publicação que granjeou fama pela qualidade e cientificidade dos artigos que integra, e foi o principal impulsionador da



colecção “Estudos Camilianos”…/ Deixou uma obra ímpar e invejável ao serviço da cultura portuguesa. / Lamentamos e sentimos profundamente que a Casa-Museu de Camilo e o Centro de Estudos Camilianos tenham perdido um dos seus maiores obreiros, e um dos seus mais fiéis amigos e que Famalicão perca um dos seus maiores e mais qualificados directores culturais de sempre, e um dos seus mais importantes filhos adoptivos.” Termina com a seguinte proposta: “[…] seja dado pública divulgação em sinal de reconhecimento pelo muito que fez por Vila Nova de Famalicão […]» (itálico meu) A mesma autarquia atribui-lhe em 1990, por deliberação da reunião de Câmara de 18 de Junho do mesmo ano, no dia da Cidade, a Medalha de Mérito Cultural e, postumamente, o Prémio da Casa de Camilo (1996).



A carreira sacerdotal iniciou-a quando entrou na Companhia de Jesus no Antigo Convento da Costa (Guimarães) em 7 de Setembro de 1942, dedicando-se aos estudos portugueses e às letras clássicas. Depois de concluído o noviciado, licenciou-se ma Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga em 1950. Estudou Teologia em Granada (Espanha), aí tendo sido ordenado sacerdote no dia 15 de Junho de 1956. Regressando a Portugal, após ter completado a sua formação como jesuíta, lecciona no Colégio de S. João de Brito (Lisboa) e no Instituto Nun`Álvares (Caldas da Saúde, Santo Tirso), leccionando literatura e cultura portuguesa na Faculdade de Filosofia de Braga (Universidade Católica Portuguesa), tendo sido, igualmente na mesma Faculdade, encarregado do Curso de Humanidades, desde Setembro de 1982, ano em que começou a fazer parte do corpo docente. Era membro da Sociedade Científica da Universidade Católica.

Não deixando de exercer a sua actividade litúrgica e pastoral, tal acentuando-se como compositor musical, artista e pedagogo. Enquanto compositor, soube aliar a música à actividade litúrgica. Publicou “Missa Breve em Português: para solistas, coro uníssono e órgão sem pedal” (1958) e “Salmos & Cânticos” (1970, 1971), deixando ainda inéditos uma longa colectânea de melodias tradicionais, portuguesas e estrangeiras, harmonizadas para três e quatro vozes iguais. Fés parte da Direcção da “Nova Revista de Música Sacra” (Braga), chegando também a colaborar no “Boletim de Música Litúrgica” (Porto) e no “Boletim de Pastoral Litúrgica” (Aveiro). Ainda no âmbito musical, pertenceu como musicólogo à Comissão Bracarense de Música Sacra e foi Vogal do Serviço Nacional de Música Litúrgica, enquanto que em V. N. de Famalicão assumiu o cargo de Director Artístico do orfeão Famalicense (1978) e da Associação de Coros Paroquiais.


Assistente Diocesano da Juventude Universitária Católica Feminina (JUCF), de Lisboa, pertenceu também ao Secretariado Nacional de Liturgia, era membro da Comissão Bracarense da Pastoral Litúrgica e, por determinação do Episcopado, tradutor e revisor dos textos litúrgicos. Antecipando-se (e defensor) do Concílio Vaticano II, ao nível da espiritualidade e liturgia publicou “Manual do Exercitante” (1960, 1968), colectânea de textos literários ascéticos, aparecendo escritores como P. Manuel Bernardes (o seu mestre), Fr. Tomé de Jesus, P. Bartolomeu de Quental, Fr. António das Chagas, P. Diogo Monteiro e P. António Vieira, “Liturgia e Vida” (1988), “Em Espírito e Verdade” (1990) e “Elucidário Espiritual” (1993).


Se em “Liturgia e Vida” é propósito do autor não «escrever um volume sistemático a modo de compêndio tedioso, em que falasse de todos os assuntos, que lhe interessassem ou não», mas, antes pelo contrário «preferiu escolher os temas sem ordem nem razão pré-concebida, guiado por certo instinto e gosto próprio e norteando-se ainda por aquilo que, na sua melhor suposição, poderia vir a interessar ao devoto leitor», já em “Espírito e Verdade” tem a intenção de se integrar «num modo português de ver as


coisas de Deus e ter conseguido certo equilíbrio entre a tradição e a modernidade, entre o bem pensar e o bem escrever, entre as legítimas preocupações humanas do nosso tempo e as exigências evangélicas que são de todos os tempos.» Neste sentido, tal projecto espiritual e litúrgico, enquanto teólogo, será concretizado em “Elucidário Espiritual”, livro que pretende esclarecer cultural e espiritualmente alguns problemas do ser humano contemporâneo. Muitos dos textos publicados nestas obras são retirados da sua extensa colaboração, refundindo-os e ampliando-os, nas revistas bracarenses “Magnificat” e “Mensageiro”.


A par do teólogo, temos o poeta com cinco títulos publicados, nomeadamente “Canções da Vida Breve” (1958), “À Flor do Tempo” (1962), “Diálogo com a Esfinge” (1973), “Amor Situado” (1974), e “As Raízes da Noite” (1976), tendo tido a intenção de reuni-los num só volume. Aliás, esta sensibilidade poética vai-lhe permitir a realização da colecção “Deus Escondido”, traduzindo poetas como Khalil Gibran, Roman Guardini, Amado Nervo, Marie Noel, Tagore, Unamuno ou Simone Weil, cognominando-o Assis Pacheco de “tradutor garimpeiro”.



Sacerdote da cultura, encontra-se ligado à cultura portuguesa, efectuando conferências sobre música (“Da Canção e Dança á Suite”, 1984), ou sobre a história famalicense (“Lousado: da histórica aldeia do século XI à quase Vila de 1989: cultura e desenvolvimento”, 1990); como ensaísta, colaborou na revista “Brotéria”, na qual escreveu sobre literatura estrangeira (por exemplo, sobre Gabriel Garcia Marquez), literatura e cultura portuguesa (“Novas Cartas Inéditas de Antero”, 1989; “Antero Inédito: o programa da União Democrática: os antecedentes do suicídio”, 1989; “Saramago, «Em Nome de Deus»”, 1994; “Fernando Pessoa e a Cultura Portuguesa”,



1986; “A Europa Vista de Portugal”, 1992, entre outros), música (“O Compositor Manuel Faria: a propósito de uma homenagem, 1989; “Um Século de Música Sacra em Portugal”, 1989 e “A Música, Linguagem do Mistério”, 1983). Em 1998, a Faculdade de Filosofia de Braga reúne e publica-lhe esses, e outros, textos na colectânea “Temas de Arte e Cultura”.Destaca-se, inquestionavelmente, o camilianista exímio, na divulgação da obra de Camilo e no cargo directivo da Casa-Museu de Camilo Castelo Branco*, em S. Miguel de Seide. Participou nas Jornadas Camilianas de Vila Real, surgindo os seus textos na revista “Tellus”, efectuando outras intervenções, como foi o caso do Congresso


“Brasileiros-Emigrantes”, o qual assinalou, em Santo Tirso, o Centenário do Falecimento do Conde de S. Bento, com a comunicação “Camilo e os Brasileiros” (1993). Foi um dos organizadores do Colóquio “Camilo Castelo Branco: Jornalismo e Literatura no Século XIX” (1998), participando com o texto “Camilo, Jornalista Católico”. Organizou o Congresso Internacional que se realizou em V. N. de Famalicão


e em Coimbra (Junho de 1991) no âmbito do Centenário do Falecimento de Camilo Castelo Branco, com o lema por ele escolhido “Camilo Vivo”, pertencendo à Comissão Nacional das Comemorações. Na divulgação do pensamento e da obra ficcional de Camilo escreveu pequenos artigos no jornal famalicense “Voz de Famalicão” (1990). Chegou ainda a elaborar o projecto do Colóquio Comemorativo do 1.º Centenário do falecimento de Ana Plácido (1995). Promoveu a colecção “Estudos Camilianos” (aqui publicando, por exemplo, de Alexandre Cabral “Camilo Castelo Branco: roteiro dramático dum profissional das letras”, 1988) e foi um dos promotores e fundadores do Centro de Estudos Camilianos (1991), renovando e dirigindo o “Boletim da Casa de Camilo” (3.ª série, 1983-1988). Neste publicou os estudos sobre a poesia camiliana,



respectivamente “Camilo, Poeta Romântico” (1990), “A Poesia Religiosa de Camilo” (1998), “Humorismos Poéticos de Camilo” (1988) e “Camilo Lírico” (1990), assim rompendo com a tradição camiliana que afirmava que a poesia de Camilo nada acrescentava aos estudos da obra ficcional. Para além destes, salientam-se os seguintes: “Nossa Senhora da Obra de Camilo” (1998), “Camilo, Pombal e os Jesuítas” (1983), “Brognolo e Camilo” (1985) e “Camilo, Apologista dos Jesuítas” (1993).
Finalmente, assumiu, em V. N. de Famalicão, a Direcção Cultural da Fundação Cupertino de Miranda (1978), chegando a ser nomeado administrador da mesma instituição em 1983.
O seu espólio particular, principalmente a bilbioteca, está à guarda do Centro de Estudos Camilianos.

Bibliografia
Amadeu Gonçalves – Subsídios Bibliográficos de Manuel Simões, 1998; Aníbal Pinto de Castro – À Memória do Padre Manuel Simões, 1999; Uma Aproximação aos Autores Famalicenses, 1998; Antologia dos Autores Famalicenses, 1998; Biografias de Autores Famalicenses, 1998; Dicionário Cronológico de Autores Famalicenses Portugueses – V, 2000; Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura/Supl. – XXII; Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura – XXVI; O Grande Livro dos Portugueses, 1990; João Bigotte Chorão – Lembrança e Louvor do Padre Manuel Simões, 1999.; Manuel Augusto Dias - "Ansianenses Ilustres: Padre Dr. Manuel Simões, 2004.
Este texto é uma aproximação da comunicação que vou referir no Congresso "A Escola de Braga...", no dia 17 de Outubro, na Faculdade de Filosofia, em Braga, a convite do Prof. José Gama.
Agradecimentos
Agradeço a amabilidade prestada pelos serviços da Fundação Cupertino de Miranda (Biblioteca), nomeadamente Dr. António Gonçalves e Dr.ª Marlene Oliveira, assim como ao Jornal Serras de Ansião, tal como ao Sr. Manuel Augusto Dias, pela rápida resposta que solicitei a propósito do seu trabalho sobre o Dr. Manuel Simões.
Amadeu Gonçalves

Congresso "A Escola de Braga..."


apefp e a filosofia para crianças

O Palhaço da Felicidade da apefp



Ripipi




a sofia e o filo, mascotes da apefp






terça-feira, 22 de setembro de 2009

os monárquicos famalicenses e bernardino machado



"Novo Presidente". In A Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 63 (9 Out. 1915), p. 1.


Está o sr. dr. Bernardino Machado investido na Chefia do Estado. / Isso não nos supreende, como de resto não supreender ninguém. / Era de esperar que S. Ex.ª visse, afinal, satisfeitas as suas aspirações de sempre, e só admira que o sr. dr. Manuel de Arriaga tivesse subido primeiro do que ele à Suprema Magistratura do país, quando a S. Ex.ª chamavam já El-Presidente in ello tempore, naqueles tempos felizes de propaganda, porque tantos republicanos suspiram já, e em que os apóstolos tratavam de construir a torre de bogalhos das suas fantasias, que o sopro da realidade tão depressa lançou por terra e pôs em farrapos. / E melhor seria para o sr. dr. Bernardino que a sua vez não tivesse ainda chegado. Bem preferível lhe seria continuar a viver de ilusões, do que ter de conhecer as dificuldades do lugar, os espinhos da missão. / Por en quanto tudo são festas, os acordes suaves da Portuguesa a embalá-lo num sonho de quimeras; o fogo, as iluminações, os cumprimentos, os abraços, as chapeladas, os sorrisos e as felicitações que surgem de todo o lado; as palmas, os vivas e as aclamações; o brilho dos cristais, o espumar do champagne e o entusiasmo dos brindes nos banquetes, todas essas homenagens de que tem sido alvo, em que haveria certamente muita sinceridade mas a que não faltamrem também muito beijos de judas, muita hipocrisia, , dando-lhe certamente a impressão, neste momento, de que tudo caminha num mar de rosas, que a sua felicidade e a do país, a paz, a ordem e a tranquilidade, o equilíbrio das finanças e o progresso nacional, está tudo ali fechadinho na palma da sua mão. / Já sucedeu o mesmo com o sr. dr. Manuel de Arriaga, que recebeu as mesmas provas de consideração e respeito, os mesmos protestos de sujeição e obediência, quando subiu. E o resultado viu-se. A breve trecho as flores da festa tinham murchado e os espinhos principiaram a surgir, vivos como punhais, rasgando o coração do pobre velho, que esgotados todos os meiosmde conciliação, amargurado e desiludido, teve de renunciar, por entre o desprezo e as ingratidões dos mesmos que o tinham aclamado. /Por enquanto vem vai o novo Chefe do Estado. São tudo ovos da Páscoa. Estão, por asim dizer, nos primeiros dias da lua de mel. / O pior é o reverso da medalha quando as desilusões vierem, as flores murcharem e os espinhos surgirem, as desinteligências partidárias romperem de novo e a desarmonia social voltar a manifestar-se. / O povo, aquele povo que cerca o novo Presidente, e que há-de ser o que mais lhe há-de aguar a sua gerência, assemelha-se aos criados de servir. A princípio fazem todas as vontadinhas dos amos, obedecem-lhes cegamente, não há ordem que não cumpram alegres, desejos que não satisfaçam de sorriso nos lábios. Mas, a confiança vem, o respeito desaparece, e às duas por três principiam os criados a falar mais alto do que os amos, a contrariá-los, a desgostá-los, a indispô-los, e quem até aí se julgava senhor passa muitas vezes a ser escravo da vontade dos outros, até que a paciência se esgota e se põe termo a semelhante situação. / E lá se perdem, lá se vão por a´gua abaixo os melhores propósitos, os mais patrióticos desejos de acertar. / O sr. dr. Bernardino Machado pode ser um espírito conciliador, com a maior vontade de modificar a situação da República. Há-de sucumbir, como sucedeu ao sr. dr- Manuel de Arriaga, certamente animado dos mesmos propósitos e revestido das mesmas qualidades. / A educação do povo rfepublicano não é hoje melhor do que há quatro anos. Antes pelo contrário. Por isso, quanto mais baixo lhes falar e mais manso se lhes mostrar o sr. dr. Bernardino Machado, mais eles lhe falarão e mais arrogantes os terá ver.




"Novo Presidente". In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 54 (7 Ago. 1915), p. 1.


Está eleito o novo Chefe de Estado. Entre todos os que se propunham ao sufrágio venceu o sr. dr. Bernardino Machado, que já vinha fazendo tirocínio para o lugar desde os tempos da monarquia. / Para nós, a quem o facto nada interessa, pouco importa que tivesse saído eleito Pedro ou Paulo, Sancho ou Martinho, e nem sequer registaríamos o resultado se o caso se nos não prestasse à maravilha para sobre ele bordarmos ligeiras consideraçoes. / Não iremos na corrente dos que despejam sobre o novo Presidente toda a casta de insultos, vendo na sua escolha um perigo para a Pátria, como se o Chefe do Estado, que preside mas não governa, pudesse influir ou modificar a situação política, concorrer para que a República, arripiando caminho, deixasse o beco sem saída em que se meteu, para entrar na estrada larga do Direito e da Justiça de que se desviou logo ao nascer, como criança que, perdida num deserto, se vê cercada de feras que acabam por a devorar. O povo, numa daquelas sentenças que a lição dos tempos lhe ensinoi, como dizer. como máxima infalível, que quem torto nasce tarde a mal se endireita. / Não salientaremos também a incoerência dos que, não gostando do sr. dr. Bernardino, ajudaram, no entanto, a elegê-lo com o seu voto, só porque essa era a vontade do sr. Afonso Costa, tornado cacique política numa eleição que afinal já nasce com os mesmo defeitos que têm desmoralizado o sistema constitucional, que seria realmente o melhor se os homens o não estragassem. Quando oe xemplo vem assim do alto, aparecendo vontades que se impõem, opiniões que se fazem respeitar e homens que para não desobedecerem às ordens dos chefes, para cumprirem os desejos ou os caprichos dos seus senhores, calcam os ditames das sua consciência e vão votar no candidato que mais prjudicial acham aos interessas da nação; quando para a eleição de Chefe de Estado, em que só têm votado os grandes da política. se procede desta maneira, nós queremos que nos digam que juízo podem fazer de tudo isto os pequenos, os que, pelas suas condições de vida ou pela sua pouca cultura não podem ou não sabem firmar a sua opinião, e se eles amanhã não têm razão para se deixarem ir com quem mais lhes der ou prometer. / E nós podíamos perguntar aqui ao senador local, sr. Sousa Fernandes, se o homem que agora ajudou com o seu voto a elevar à suprema magistratura do país, não será o mesmo que há um ano, o máximo, o fez quebrar a pena com que vinha defendendo a República para se refugiar ferido e amado ma sua quinta de Mões. / Mas o resultado da eleição, bom ou mau - os republicanos que o digam - não nos interessa, co mo não interessa ao país. / Quando muito, pode ser uma festa de família, se não for antes um motivo de novas cisões, de mais lutas, talvez de novas revoluções. / Para os interesses da Pátria, para a paz interna, para a consolidação da República, tanto vale a cordealidade do sr. dr. Bernardino, como valeria o génio de Guerra Junqueiro, a diplomacia de Duarte Leite, a aristocracia de Braamcamp Freire ou a democracia de Correia Barreto. / Se levar até ao fim o seu mandato, não lhe sucedendo como ao sr. Arriaga que o não pode concluir, ao abandonar o lugar há-de reparar que deixa tudo como dantes, ou mais baralhado do que dantes, em política, como em finanças, em ordem como em administração. / Ora, sendo assim, como é, traduzindo a eleição a vontade do país, mas os desejos do sr. Afonso Costa, e não podendo o chefe de Estado influir na vida política e financeira do país, sempre queríamos que nos dissessem onde está a vantagem de termos um Presidente em vez dum Rei. As desvantagenshá-de mostrá-las esta eleição.



"Retalhos. O Mais Ilustre Filho de Famalicão". In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 64 (16 Out. 1915), p. 1


Era assim que a Câmara chamava ao sr. dr. Bernardino Machado, nos convites que fez distribuir para a manifestação de segunda-feira. / Quanto a ilustre, que não é propriamente a mesma coisa que ilustrado, não foi ainda ressalvado aquele problema que «À Nação» propôs sobre a linhagem de S. Ex.ª, nbem nos parece que um regime democrático deve preocupar-se com o sangue azul dos seus chefes: quanto a ser filho desta terra, lembramos à Câmara que S. Ex.ª é tanto nosso conterrâneo como o seu presidente, pois segundo documentos autênticos que os próprios jornais republicanos têm trasladado, o chefe do Estado de Portugal nasceu no Rio de Janeiro em 28 de Março de 1851 e, quando já aluno da Universidade de Coimbra, ainda S. Ex.ª se considerava carioca, tendo nessa qualidade, assinado uma mensagem de congratulação que os estudantes brasileiros a entregavam ao monarca do seu país, quando D. pedro II visitou Coimbra. / A não ser que a Câmara queira concluir como a «Estrela do Minho» que S. Ex.ª é nosso conterrâneo porque passou a sua mocidade em Famalicão./ De maneira que o director da «Estrela», que veio também em rapaz para Famalicão, deixou por esse facto de ser natural de Vilar de [Macada] para passar a ser nosso conterrâneo também! / E ele fala como se realmente o fosse... Ele o o sr. presidente da Câmara...


os monárquicos famalicenses e afonso costa



"Affonso Costa". In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 50 (10 Jul. 1915), p. 1.
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sexta-feira, 11 de setembro de 2009